Houve um tempo nem tão distante, na primeira metade desta década, em que o mercado brasileiro de utilitários esportivos compactos era disputado basicamente por dois modelos: Ford EcoSport e Renault Duster. Alguns anos e mais de uma dúzia de lançamentos depois, quem lidera o segmento de SUVs é o médio Jeep Compass, que vendeu pouco mais de 5 mil unidades mensais em 2018. Entre os compactos, a briga ficou apertada entre “novatos” como o Hyundai Creta, o Honda HR-V, o Nissan Kicks e o Jeep Renegade, todos com vendas próximas das 4 mil unidades mensais no ano passado. Justamente a média de vendas que o Duster obteve em 2014, antes da “invasão” de novos concorrentes – entre eles o “companheiro de vitrine” Renault Captur, lançado em 2017 e que bateu 2.200 emplacamentos mensais em 2018. Já o SUV mais veterano da Renault anda em uma fase mais discreta e emplacou somente 1.965 unidades mensais no ano que passou. Lançado no final de 2011, originário da marca romena Dacia, o Duster aguarda uma nova geração, já lançada na Europa e prevista para o Brasil para o final deste ano. Enquanto isso, para melhorar sua relação custo-benefício, que sempre foi um dos pontos fortes do modelo, incorporou há seis meses o trem de força do Nissan Kicks e já adotado também no Captur, com motor 1.6 SCE de 16 válvulas e câmbio CVT – a Renault e a Nissan, assim como a Dacia e a Mitsubishi, pertencem ao mesmo grupo automotivo.
O câmbio Xtronic CVT chegou para atender à crescente demanda por modelos automáticos, que gradativamente ganham espaço em todos os segmentos no mercado brasileiro. Até então, quem queria um Duster automático precisava se contentar com o antigo câmbio de 4 marchas, que só equipa as versões com motor 2.0 – o 1.6 só oferecia o manual. Junto com o CVT, veio o motor 1.6 16V da família SCe, de origem Nissan, que tem bloco de alumínio e duplo comando variável na admissão e é mais moderno e mais leve que o 1.6 16V da Renault anteriormente utilizado. Agora são 118/120 cavalos de potência com gasolina/etanol – o motor antigo ficava em 110/115 cavalos. O torque também subiu um pouco e passou de 15,9 kgfm para 16,2 kgfm a 4 mil rpm.
Por fora, o design não nega a idade do Duster. O estilo quadradão já está bem datado, mas transmite uma rusticidade que tem lá seus admiradores. Por dentro, o Duster continua tendo como um dos principais destaques o espaço interno, com área para cinco adultos e um porta-malas de 475 litros, um dos maiores da categoria. Em termos de “decoração”, a versão Dynamique avaliada traz forração de couro nos bancos, com detalhes em marrom que aparecem também no painel. No console central, o revestimento é em black piano. O sistema multimídia Media Nav Evolution com tela touchscreen 7’’ e navegação GPS, com Rádio 3D Sound by Arkamys com conexão USB e auxiliar integrado e comando de áudio e celular na coluna de direção são de série na versão Dynamique.
Com o lançamento do estiloso Captur, a Renault dividiu sua oferta de utilitários compactos em dois modelos, ficando o Duster com o apelo mais rústico. Curiosamente, a combinação das vendas de Duster e Captur, que somaram 2.165 unidades mensais no ano passado, coloca a Renault como a atual marca líder de vendas entre os SUVs compactos – superou as 2.081 unidades mensais que o Hyundai Creta, o modelo mais vendido do segmento em 2018. Talvez a marca francesa esteja reinterpretando a estratégia de guerra do ditador romano César, que dizia em bom latim “divide et impera” – algo como “dividir para reinar”. De qualquer forma, se a nova geração der ao Duster o aspecto de modernidade que lhe falta, o modelo tem elementos para reconquistar os antigos patamares e, quem sabe, voltar a brigar pela liderança do segmento. Principalmente se mantiver os preços competitivos, que sempre foram um dos atrativos do modelo. O Renault Duster 1.6 16V SCe X-Tronic CVT Dynamique é oferecido pelo preço inicial de R$ 86.990 – R$ 6 mil a mais do que a mesma versão com câmbio manual.
Experiência a bordo
Posições contestáveis
Além da estética datada, a ergonomia do Duster entrega a idade do projeto e não é das melhores. Falta ajuste de profundidade na coluna de direção, por exemplo. Encontrar a melhor posição de dirigir leva tempo. A central multimídia fica em posição baixa, longe do alcance dos olhos e das mãos. Os botões do piloto automático e do modo Eco ficam à frente do porta-copos, o que dificulta a visualização dos comandos. E o puxador das portas fica no caminho do acionamento dos vidros elétricos.
O estepe é posicionado do lado de fora do carro, em um local trabalhoso para a troca. Em compensação, o generoso porta-malas de 475 litros conta com tampa sustentada por mola a gás. O modelo traz de série controles de estabilidade e tração, banco do motorista com regulagem de altura, vidros elétricos nas quatro portas, coluna de direção com regulagem de altura e travas elétricas. Na versão Dynamique, acrescenta central multimídia, piloto automático, câmera de ré e volante revestido em couro.
Impressões ao dirigir
Respostas educadas, consumo nem tanto
Com o novo conjunto mecânico “herdado” do Nissan Kicks, o Duster oferece acelerações progressivas e responde rápido ao pedal da direita. Longe de entregar esportividade, algo que nem combinaria com a proposta de um câmbio CVT, que normalmente prioriza conforto e consumo. A opção de modo Eco deve até poupar combustível, mas torna o carro mais lento nas retomadas. No uso cotidiano, o Duster se revela um SUV agradável de dirigir. Sempre que o motorista resolve pisar fundo no pedal do acelerador, as seis marchas simuladas da transmissão Xtronic CVT atuam com agilidade e ajudam o SUV a entregar retomadas ligeiras. O conforto de rodagem oferecido pelo câmbio CVT em rodovia impressiona. A 120 km/h, o motor me mantém em 2.750 giros. Além disso, surpreende o baixo nível de ruído a bordo. O isolamento acústico absorve com eficiência a maior parte dos ruídos provenientes do motor e da rolagem dos pneus.
A direção com assistência eletro-hidráulica tem peso correto em velocidade de cruzeiro, mas poderia ser mais leve para as manobras de estacionamento. Em termos suspensivos, o Duster permanece com um ajuste macio e confortável, contudo transmite percepção de consistência e robustez quando trafega sobre pisos irregulares. No geral, a suspensão entrega um bom nível de estabilidade e absorve de forma correta os buracos no piso, sem sacolejar demais os ocupantes.
Em termos de consumo, infelizmente as visitas aos postos de combustível acabam sendo mais frequentes que o desejável. Nos testes do Inmetro, o Duster com CVT obteve médias de 7,1 km/l na cidade e 7,9 km/l na estrada com etanol e de 10,3 km/l na cidade e 10,8 km/l na estrada com gasolina, que lhe valeram um conceito “D” na categoria e “C” na comparação absoluta geral. O resultado é pior que o obtido pelo Kicks, que com o mesmo “powetrain” obteve médias de consumo de 7,7 km/l na cidade e 9,4 km/l na estrada com etanol e 11,4 km/ na cidade e 13,7 km/l na estrada com gasolina, com conceitos “C” na categoria e “B” na comparação absoluta geral. Contudo, o consumo da versão 1.6 16V SCe X-Tronic CVT ficou menor que o da 2.0 do Duster com câmbio automático de 4 velocidades, que obteve conceitos “E” na categoria e “C” na comparação absoluta geral.