Quando lançou no Brasil a linha 2019 do Ka, no final de julho, o objetivo da Ford era ganhar competitividade entre os compactos mais equipados. Segundo a marca, o Ka vendia bem na faixa abaixo dos R$ 50 mil – desempenho que lhe garante a posição de terceiro carro mais vendido do país. Mas, acima desse valor, os concorrentes Chevrolet Onix e Hyundai HB20 levavam vantagem. Além de um discreto “facelift”, uma peça chave na estratégia da Ford foi a oferta de um inédito câmbio automático e também a adoção de uma nova transmissão manual. De quebra, lançou a versão aventureira Freestyle, com suspensão levantada, adereços “off-road” e um pacote de equipamentos mais abrangente. As novidades, aparentemente, deram resultado. Em outubro, o Ka vendeu 10.461 unidades e tirou o segundo lugar de vendas do HB20, que emplacou 9.361 unidades. No total dos dez primeiros meses do ano, o compacto da Ford tem 87.082 emplacamentos ante 88.128 do modelo da Hyundai. Mas, se mantiver a performance crescente de vendas que mantém desde o lançamento do novo modelo, o compacto da Ford tem chances de obter uma ultrapassagem na “reta de chegada” e terminar 2018 na vice-liderança, atrás apenas do Onix.
Na linha 2019, além do já conhecido motor 1.0 com três cilindros e 85 cavalos, o Ka incorporou nas versões mais caras o motor 1.5 Dragon, de três cilindros, o mesmo apresentado no EcoSport em julho de 2017, com uma sutil redução na potência: são 136/128 cavalos ante 137/130 cavalos no EcoSport. Ainda assim, uma potência 20% superior à do antigo 1.5 Sigma de quatro cilindros, que entregava 110 cavalos. O torque chegou a 16,1 kgfm com etanol ou 15,3 kgfm com gasolina a 4.750 rpm e também superam os 14,9/14,3 kgfm a 4.250 rpm do antigo quatro cilindros. Como o três cilindros tem tecnologias como comando de válvulas variável em abertura e fechamento, as respostas em baixos giros são otimizadas. O inédito câmbio automático de 6 marchas não é a única opção – o compacto ganhou também uma nova transmissão manual. Chamada de MX65, a caixa substitui a antiga IB5 com vantagens, como a sincronização dupla para as três primeiras marchas.
No visual, as mudanças na linha 2019 do Ford Ka se resumiram às novas grades e novos para-choques. Na versão Freestyle, a grade dianteira com losangos, o rack de teto e as molduras em plástico preto que contornam toda a carroceria cumprem a função de dar um aspecto inegavelmente mais robusto ao modelo. A versão FreeStyle adota rodas e pneus de perfil maior, 185/60 R15, os mesmos da antiga versão Trail, que deixou ser oferecida. Em termos de segurança, o Ka “vestido para a trilha” é bem dotado: vem com seis airbags, controle de estabilidade e tração, sistema anticapotamento, assistente de partida em rampa, câmara e sensores traseiros, direção elétrica progressiva com sistema que reduz a transferência de torque para o volante e controla desvios provocados por desníveis no piso. No segmento de compactos, é um pacote difícil de ser batido. O preço de R$ 63.490, embora esteja longe de fazer do Ka Freestyle manual um automóvel barato, deve incomodar os concorrentes diretos com configurações semelhantes, como as versões manuais do Hyundai HB20X (R$ 63.100) e do Chevrolet Onix Activ (R$ 63.090), na briga dos “pequenos aventureiros”.
Experiência a bordo
Traje de festa
O Ka é um hatch compacto, mas a boa altura interna facilita o acesso e dá uma sensação de espaço quando se entra no carro. Na configuração Freestyle, o Ka ostenta uma imagem aventureira e mais requintada, que o distancia bastante do estilo despojado da versão SE, a mais barata da linha. No Freestyle, o tablier e o console alternam tons de preto e marrom e os bancos têm revestimento combinando couro e tecido, nos mesmos tons. O interior tem um acabamento esmerado, com revestimento e texturas que criam um ambiente agradável. Para enfrentar melhor a concorrência entre os compactos mais equipados, a versão ganhou até vidros dianteiros acústicos para fazer com que os ruídos externos entrem mais comedidamente no habitáculo.
No tablier, se destaca a central multimídia de terceira geração Sync 3, monitorada por uma tela touch que se projeta no console central. O posicionamento da central é correto e tudo é bem funcional. Tem recursos de comandos de voz e conexão com Android Auto e Apple CarPlay e permite até o uso de Waze com iPhone. O volante multifuncional tem boa “pegada” e ainda possibilita comandar a central multimídia e o controle de cruzeiro. Um aspecto que deixa a desejar na usabilidade do Ka é o porta-malas, que leva apenas 257 litros.
Impressões ao dirigir
Relação instigante
Uma versão aventureira de um hatch compacto, com suspensão reforçada e um motor 1.5 tricilíndrico de 136 cavalos combinado ao novo câmbio manual. Pela “receita”, já dá para imaginar que o Ka avaliado reúne todos os elementos para ser a opção mais divertida do compacto da Ford. E é mesmo! Não é preciso muito tempo para perceber que o motor dá a sobra para mover o Ka FreeStyle com exuberância. Com o novo “powertrain”, 85% do torque estão disponíveis já em 1.500 giros. Na prática, ao volante, isso se traduz em reações quase instantâneas às acelerações, com um ganho de velocidade vigoroso e progressivo. Assim, as ultrapassagens se tornam sempre fáceis e confiáveis. A boa performance é estimulada pelo novo câmbio manual, que mostra-se bastante suave. Os engates são precisos, as mudanças não emitem ruídos e as passagens são efetuadas com elegância.
Na versão “crossover” de seu compacto, a Ford reforçou a suspensão para suportar as exigências do novo motor e ainda enfrentar pisos acidentados. Ampliou a altura de rodagem até atingir 18,8 centímetros, apenas 1,2 cm a menos que o EcoSport. Amortecedores foram recalibrados, o eixo traseiro está 30% mais rígido e as bitolas (distâncias entre as rodas no eixo) ficaram 3 centímetros mais largas. O comportamento em curvas de alta é bem consistente e transmite confiabilidade. Que é reforçada por outra novidade da versão: o ARP (Active Rollover Protection). Integrado aos controles de tração e de estabilidade, o sistema atua nos freios e na aceleração caso haja sinais de iminência de capotamento.
Em resumo, o Ka FreeStyle com câmbio manual é um compacto divertido de se dirigir. A proposta da Ford, de melhorar a relação custo/benefício ao incluir mais equipamentos e manter preços competitivos em relação às versões concorrentes, dá mostras de ter sido acertada. Apesar do visual “moderninho”, o Freestyle manual tem elementos para agradar também aos motoristas mais conservadores. Do tipo “old school”, que ainda gosta de engatar manualmente as marchas para obter um desempenho mais esportivo.