As fabricantes indianas de motocicletas “namoram” o Brasil há mais de uma década. Aos poucos, foram “colocando as manguinhas de fora” e, deste jeito, permite prever que, em um futuro próximo, marcas localmente novatas como Royal Enfield e Bajaj começarão a incomodar o longo reinado nacional das marcas japonesas – lê-se Honda e Yamaha. Líder isolada do mercado brasileiro, a Honda fechou o ano com mais de um milhão de motos emplacadas, que corresponde a 75,79% de participação de mercado. Já a Yamaha licenciou exatas 222.463 unidades, 16,33% do “share”. Como normalmente quem tem mais participação é quem mais perde mais com a chegada de novos players e, consequentemente, com o aumento da concorrência, Honda e Yamaha serão os “alvos” preferenciais das novatas. Com a ampliação da oferta, normalmente quem ganha é o consumidor, que terá produtos mais alinhados às suas necessidades – e, quem sabe, preços mais competitivos.
Em 2017, a Royal Enfield chegou ao mercado nacional. Em seis anos, a marca anglo-indiana já vendeu 25 mil unidades no país. Ano passado, a Royal Brasil comercializou 10.126 unidades e contabiliza 0,74% do total de motos vendidas. O número coloca a marca em quinto lugar no ranking nacional entre as montadoras instaladas no país. Com uma assinatura visual própria, a Royal Enfield iniciou a montagem de suas motos em Manaus (AM). O primeiro modelo “made in Brazil” foi uma Interceptor 650. A linha de montagem – que opera pelo sistema CKD – fica dentro da fábrica da Dafra. A Royal Brasil promete mais três modelos para 2023: a Scram 411, a Hunter 350 e a Super Meteor 650, esta última apresentada no Salão de Motos de Milão – EICMA 22 – e que foi lançada oficialmente na Índia no início de 2023.
A Hunter 350 será a moto mais barata da linha Royal Enfield no Brasil – já cumpre esse papel no mundo. Além do plano de ampliar a produção local – a atual capacidade instalada em Manaus é de 15 mil motos por ano –, a marca quer aumentar sua capilaridade. Até março, serão 25 revendedores em 14 Estados brasileiros. Em 2022, os destaques locais da Royal Enfield foram os modelos Meteor e Classic, da plataforma “J”, que compartilham o mesmo motor de 350 cc. “Já somos o país que vende mais motos Royal Enfield fora da Índia”, comemorou Claudio Giusti, diretor-geral da marca no Brasil.
Depois de um quase interminável período de pandemia, a gigante indiana Bajaj – terceira maior montadora de motocicletas do planeta, com capacidade produtiva em torno de 7 milhões de unidades por ano – desembarcou oficialmente no Brasil com três modelos da linha Dominar: de 160, 200 e 400 cc. Ou seja, motos do segmento de maior volume do mercado, a das streets, que correspondem no Brasil a 41% das vendas no acumulado de 2022. As motos têm design arrojado – que lembra o de modelos japoneses, chineses e taiwaneses –, três anos de garantia e plano de manutenção com preço fixo para toda a linha. Destaque para a Dominar 400 – preço sugerido de R$ 24.200 –, que já tem fila de espera. Diferentemente da Royal Enfield, que chegou ao país apenas com motocicletas importadas da Índia, a Bajaj já começou sua operação com seus modelos montados também na fábrica da Dafra. Logo, a marca deve ampliar sua produção e novos modelos devem chegar ao país como, por exemplo, a linha Pulsar 150 e 250 cc, isso sem falar da pequena custom Avanger que, na Índia, conta com duas versões: 160 e 220 cc. A Bajaj do Brasil começou suas operações com cinco revendas – todas no Estado de São Paulo. A projeção é dobrar o número de concessionárias até meados deste ano, e as novas praças serão Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Florianópolis. O Nordeste também faz parte dos planos de expansão.
A Bajaj exporta suas motocicletas para 79 países e em 17 mercados. É líder de vendas na Colômbia, Nigéria, no Egito e nas Filipinas. A empresa indiana tem parceria de cooperação (produção e transferência de tecnologia) com a austríaca KTM, a sueca Husqvarna e inglesa Triumph. Em breve, o mercado nacional terá novidades nas médias cilindradas. “Aqui, temos um dos maiores volumes de vendas do mundo, e a Bajaj mostra, nos segmentos em que está estreando, que essa chegada ao mercado brasileiro é só o botão de partida para um projeto de longo prazo. Nossa jornada apenas está começando”, avisa Waldyr Ferreira, comandante da subsidiária brasileira da Bajaj.
Tanto a Royal Enfield quanto a Bajar têm bons projetos – próprios e em parceria com outras marcas de tradição no cenário de duas rodas – e bastante dinheiro em caixa. A partir de agora, tudo indica que as marcas indianas se desenvolverão localmente em termos industriais e comerciais. Porém, somente o tempo poderá definir efetivamente se elas incomodarão as montadoras japonesas. Por outro lado, os indianos não têm pressa, não dão passos para trás, contam com uma boa visão global do negócio e têm bastante dinheiro. Para crescer com consistência, a receita é fazer a ‘lição de casa’ com produtos de qualidade, aumento gradativo da produção local, pós-venda dinâmico e assistência técnica eficiente.
Por Aldo Tizzani, do “MinutoMotor”, especial para a AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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