No terceiro ano da Covid-19, a sociedade mundial como um todo foi afetada pela doença, que tende a se tornar endêmica no planeta. A pandemia trouxe reflexos maléficos no setor automotivo, com a persistência da crise dos semicondutores em escala global, que derrubou a produção, adiou lançamentos de novos modelos e esvaziou os grandes “motorshows” mundiais. No Brasil, no acumulado até novembro, um milhão 776 mil automóveis e picapes foram comercializados, em baixa de 1,4% com relação ao período de janeiro a novembro de 2021. A expectativa é que 2022 feche com volume de vendas de veículos leves similar aos 1.974.840 emplacamentos do ano anterior – um desempenho ainda muito distantes dos 3.627.715 emplacamentos obtidos há dez anos, em 2012, um recorde do setor. Com os preços dos modelos novos cada vez mais nas alturas – subiram acima dos índices oficiais de inflação –, as vendas de usados mantiveram-se embaladas, seguindo a tendência de 2021.
Entre as novidades automotivas que chegaram às ruas brasileiras, a arrancada mais significativa foi a dos carros eletrificados. De janeiro a novembro de 2022, os automóveis e picapes 100% elétricos e os híbridos plug-in (que combinam motores a explosão com propulsores elétricos com recarga externa das baterias) superaram a marca simbólica de 1% de participação sobre todas as vendas nacionais de veículos leves. Entre os modelos 100% elétricos, surgiu um novo nicho de mercado, formado por representantes com preço “menos caro” – como o subcompacto Renault Kwid E-Tech e o microcarro Caoa Chery iCar. Nas picapes, outro segmento com demanda aquecida, houve renovações da Toyota Hilux, da Chevrolet S10 e da Nissan Frontier, ficando as novas gerações da Ford Ranger e da Volkswagen Amarok para 2023. A novidade entre os “veículos portadores de caçamba” foi a Maverick, com carroceria em monobloco, que a Ford importa do México. A tendência de proliferação dos SUVs dos anos anteriores segue embalada – o principal lançamento do segmento foi o Fiat Fastback. No ranking nacional de vendas, continuam no topo os dois campeões do ano anterior: a picape compacta Fiat Strada, como o veículo mais emplacado do ano, e o hatch compacto Hyundai HB20 – que recebeu uma bem-sucedida renovação estética em 2022 – como o mais comercializado entre os carros de passeio.
Um ano em dez lançamentos
Renault Kwid E-Tech
Em abril, a Renault abriu as pré-vendas do Kwid E-Tech, 100% elétrico importado da China. Com preço de R$ 142.990, o subcompacto com jeito de SUV é o segundo elétrico menos caro no país, atrás apenas do Caoa Chery iCar. O Kwid elétrico, porém, é exatamente R$ 74.300 mais caro que o Kwid “comum” mais equipado. O E-Tech tem motor com 48 kW (65 cavalos) de potência e 11,5 kgfm de torque. Segundo a Renault, o elétrico acelera de zero a 100 km/h em 8,2 segundos, pode chegar a 130 km/h e tem autonomia de 298 quilômetros pelo Inmetro. Há três meses no mercado brasileiro, estima-se que cerca de 1.500 unidades estarão nas ruas do país até o final deste ano.
Caoa Chery iCar
Em junho, depois de fechar a fábrica de Jacareí (SP) para a produção de carros a combustão, a Caoa Chery avançou na eletrificação de seu portfólio no Brasil. Da China, vieram o sedã médio Arrizo 6 Hybrid, o Tiggo 8 Pro híbrido plug-in e principalmente o microcarro elétrico iCar, que emplacou 782 unidades até novembro. Depois, houve problemas de produção e embarque do modelo da China para o Brasil, restringindo os negócios. Com preço de R$ 149.990, o iCar tem 45 kW (61 cavalos) de potência, torque de 15,3 kgfm e autonomia de até 282 quilômetros.
Ford Maverick
A Ford Maverick chegou ao Brasil em junho para “entrar de sola” no mercado das picapes intermediárias, um segmento atualmente dominado pela Fiat Toro. Contudo, a picape importada do México fechou até novembro com 1.254 unidades vendidas, com uma média mensal de pouco mais de 250 exemplares. A Maverick é equipada com o motor 2.0 EcoBoost (turbo) com injeção direta de gasolina, tem 253 cavalos de potência e 38,7 kgfm de torque, associado ao câmbio automático de 8 marchas. Oferecida no Brasil na versão Lariat FX4, de perfil off-road, tem preço de R$ 239.990.
Novo Hyundai HB20
Em julho, o Hyundai HB20 teve sua linha 2023 apresentada. Produzido na cidade paulista de Piracicaba, o hatch compacto teve renovada a frente e a traseira, abandonando a polêmica grade trapeizodal adotada na reformulação do modelo em 2019. Os motores Kappa 1.0 e Kappa 1.0 TGDI são os mesmos já utilizados há mais de três anos. O 1.0 TGDI agrega turbocompressor e entrega até 120 cavalos e torque de 17,5 kgfm. Com mais de 95 mil unidades emplacadas este ano, o HB20 hatch é o carro de passeio mais vendido do país, partindo de R$ 76.690 e chegando a R$ 114.390 na topo de linha Platinum Plus.
Novo Honda HR-V
Após ter sido retirado do portfólio da Honda do Brasil em janeiro deste ano, o HR-V voltou a ser produzido em Itirapina (SP) em julho. A terceira geração do utilitário esportivo compacto tem motor 1.5 aspirado de até 126 cavalos de potência e 15,8 kgfm de torque, associado à transmissão tipo CVT com 7 marchas simuladas e preços de R$ 143.900 e de R$ 151.400 nas versões de entrada. As variantes Advance (R$ 176.800) e Touring (R$ 184.500) têm o 1.5 turbo com até 177 cavalos de potência e 24,5 kgfm de torque, com o mesmo câmbio. Na sua volta ao mercado, o HR-V teve 12.206 unidades emplacadas até novembro.
Volvo C40
Produzido nas linhas de montagem de Gent, na Bélgica, o C40 é o primeiro Volvo criado originalmente sem motor a combustão e teve sua pré-venda iniciada no Brasil em fevereiro. O SUV com estilo cupê chegou às ruas nacionais em agosto, com dois motores elétricos de 204 cavalos cada, com um total de 408 cavalos de potência e 67,3 kgfm de torque. A bateria de 78 kWh proporciona uma autonomia estimada de 440 quilômetros. O C40 Recharge é comercializado no Brasil por R$ 419.950 – exatos R$ 20 mil a mais em relação aos R$ 399.950 cobrados pelo XC40 Recharge. Totalizou 546 emplacamentos até novembro.
Jeep Gladiator
Apresentada nos Estados Unidos em 2019 e produzida em Toledo (Ohio), a picape Gladiator chegou ao mercado brasileiro em agosto com preço de R$ 499.990. Talvez por conta do preço, a picape da Jeep teve apenas 124 unidades vendidas nos três meses no país. A Gladiator tem o motor 3.6 V6 a gasolina, com 284 cavalos de potência e 35,3 kgfm de torque, acoplado ao câmbio automático de 8 marchas. A Gladiator Rubicon inclui itens de segurança como o piloto automático adaptativo, o monitoramento de pontos cegos, o aviso de colisão frontal com frenagem de emergência e os controle de estabilidade e de tração.
Novo Citroën C3
Um dos principais lançamentos deste ano no Brasil veio em setembro, com o novo Citroën C3, agora com a pretensão de evocar uma “atitude SUV”. Durante quase duas décadas, o C3, produzido no país de 2003 a 2020, foi o “puxador de vendas” no portfólio da marca francesa. Produzida em Porto Real (RJ), a nova gama do C3 parte da Live 1.0, com preço de R$ 68.990, e se completa com a topo de linha Feel Pack 1.6, a R$ 93.990. Traz duas opções de motores, a 1.0 Firefly de 75 cavalos de potência e 10,7 kgfm de torque e a 1.6 16V com 120 cavalos e 15,7 kgfm. Nos dois meses cheios, o novo C3 teve 2.620 unidades vendidas em outubro e 3.191 em novembro.
Fiat Fastback
Demorou para a Fiat do Brasil acordar para o segmento mais em alta no mercado mundial, o de SUVs. O primeiro utilitário esportivo produzido pela marca italiana no país veio apenas no ano passado, com o compacto Pulse. Em setembro de 2022, a líder de mercado no Brasil apresentou o Fastback, fabricado em Betim (MG), em três versões, com as duas de entrada, a Audace e a Impetus, equipadas com o motor T200 turbo e preços de R$ 129.990 e de R$ 139.990, respectivamente, e a Limited Edition Powered by Abarth Turbo 270, topo de linha da família, a R$ 149.990. O Fastback teve até novembro um total de 6.480 unidades emplacadas.
Volkswagen Polo Track
A versão Track do Volkswagen Polo, apresentada em novembro, com preço de R$ 79.990 e produzida em Taubaté (SP), tem a missão de substituir o modelo de maior sucesso da fabricante, o Gol, que teve uma variante de despedida mostrada este ano, a Last Edition. O Polo Track é equipado com motor 1.0 flex, com 84 cavalos de potência, 10,3 kgfm de torque e câmbio manual de 5 marchas. A família se completa com a versão TSI, a R$ 92.990, a Comfortline, a R$ 102.990, e a topo de linha Highline, a R$ 109.990. A missão de substituir o veterano líder nacional de vendas talvez não seja tão tranquila para o Polo. O modelo teve no acumulado do ano apenas 2.152 unidades vendidas.
Por Daniel Dias e Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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