Três frentes lideram a pauta do presente, do futuro e da visão de mundo novo da indústria automotiva global. Todas partem do princípio que, embora ainda façam parte da nossa realidade, os veículos movidos a combustíveis fósseis já são quase peças de museu em um planeta cada vez mais preocupado com o ambiente. Apesar de ter seu banimento do planeta Terra previsto, ainda vão dividir espaço com a humanidade por mais algum tempo. No Reino Unido, os veículos movidos apenas a combustíveis fósseis já têm prazo de validade: 2030. O tipo de carro mais viável para o cenário atual é o equipado com tecnologia híbrida, que associa um motor a combustão a um ou mais propulsores elétricos. Dois passos à frente está o veículo totalmente elétrico, que já é uma realidade dos nossos dias, apesar de enfrentar fortes obstáculos, diferentes em cada parte do mundo. Na Europa, por exemplo, a escassa rede de hidroelétricas joga contra o carro 100% “verde”. Por outro lado, no Brasil e em outros países emergentes, o problema é o alto custo de sua produção e comercialização. Na visão a longo prazo, surge o veículo sobre rodas autônomo, inteiramente sem a ação humana na direção. Restritos até então a circuitos fechados, os veículos autônomos têm agora uma proposta mais “pé no chão”, um sopro de realidade: o 360c, da Volvo.
Para poder dispensar o motorista, o 360c é dotado de câmeras e sensores de captação de informações em volta de toda a carroceria – desse “olhar de 360 graus” vem o nome do modelo. Embora não especifique exatamente qual tecnologia utilizará no seu veículo conceitual, a fabricante sueca lança desde já a discussão prática de como o 360c poderá atuar no dia a dia. Nas projeções da Volvo, o 360c será um concorrente das empresas aéreas e de ônibus e de fabricantes de aviões. A marca sueca aponta que, no ano passado, quase 750 milhões de passageiros embarcaram em vôos domésticos nos Estados Unidos. Rotas como Nova York-Washington, Houston-Dallas ou Los Angeles-San Diego gastam mais tempo de avião do que de automóvel, pois são acrescentados no caso do transporte aéreo o tempo do deslocamento ao aeroporto, verificações de segurança e tempos de espera para embarque e desembarque, entre outros. Além de atrair um novo tipo de cliente, o 360c traria implicações em um impacto ambiental positivo e em uma maior interação entre as pessoas enquanto se deslocam do local de partida ao seu destino. No ambiente do 360c, está previsto que as pessoas poderão aproveitar a comodidade de uma cabine privada correspondente a uma primeira classe sem as inconveniências dos tradicionais trâmites dos aeroportos, filas e o medo que grande parte da população tem de viajar de avião.
“Consideramos o 360c uma conversa inicial. No entanto, acreditamos que a direção totalmente autônoma tem o potencial de mudar fundamentalmente nossa sociedade de várias maneiras. Isso terá um profundo impacto sobre como as pessoas viajam, como projetamos nossas cidades e como usamos a infraestrutura. Somos apenas uma das muitas partes interessadas, por isso, esperamos e convidamos todos a uma ampla discussão sobre essa tecnologia revolucionária”, explica Marten Levenstam, vice-presidente sênior de estratégia corporativa da Volvo Cars. A possiblidade de que o tempo de viagem seja integralmente aproveitado para descanso, trabalho ou lazer permitirá que os usuários morem mais longe do trabalho, reduzindo, assim, o preço dos imóveis. “As pessoas que se tornam menos dependentes da proximidade das cidades são apenas um exemplo do impacto de remover o tempo improdutivo de uma viagem. O escritório móvel do 360c torna viável para as pessoas viverem a grandes distâncias das metrópoles e usar seu tempo de forma mais agradável e eficaz”, complementa Levenstam.
Segundo a Volvo, o 360c oferece também uma proposta de padrão global de como os veículos sem condutor humano poderão se comunicar de forma segura com todos os outros usuários da estrada. “O negócio vai mudar nos próximos anos e a Volvo deve liderar a mudança de nossa indústria. O direcionamento autônomo não só nos permitirá dar o próximo grande passo em segurança mas também abrir novos modelos de negócios, possibilitando que os consumidores passem o tempo no carro fazendo o que quiserem”, oberva Hakan Samuelsson, presidente e CEO da Volvo Cars. Para a fabricante, é preciso criar um padrão universal de comunicação nas rodovias, no qual o motorista ao volante de um carro comum não precise se preocupar que um veículo sem condutor esteja por perto. Para isso, o 360c, em testes de desenvolvimento, interagiu com um cenário normal de tráfego utilizando um sistema composto por sons, cores, movimentos e combinações de ferramentas para comunicar “suas intenções” a outros usuários. Para ser seguro, o veículo autônomo tem de deixar claro o que fará na estrada. “Acreditamos firmemente que este método de comunicação deve ser um padrão universal, para que todos os usuários possam se comunicar facilmente com qualquer carro autônomo, independentemente do fabricante que o construiu”, afirma Malin Ekholm, vice-presidente do Centro de Segurança da Volvo Cars.
Na avaliação da Volvo, além de ser um meio de transporte, o 360c tem quatro usos potenciais: um ambiente de descanso, um escritório móvel, uma sala de estar e um espaço de entretenimento. Contudo, o carro sem motorista ainda precisa percorrer um longo caminho para que um dia possa se tornar realidade. Um contraponto para o veículo autônomo está na própria aviação comercial, de quem o 360c pretende ser concorrente. O conhecido “piloto automático” só é acionado com segurança quando o avião percorre as vias virtuais, as rotas estabelecidas nos céus, aonde o aparelho deve permanecer, só podendo sair se for pedida autorização aos controles de tráfego. Na aviação comercial, as manobras mais arriscadas – decolagem e pouso – são comandadas pelo piloto. Mas o 360c é um bom “pontapé inicial” para o transporte urbano e rodoviário chegar ao mundo de sonhos.