Quando o Onix foi lançado no Brasil, no final de 2012, poucos apostariam que aquele hatch de aspecto robusto e com vincos pronunciados na carroceria desbancaria os compactos bons de venda da época, o Volkswagen Gol e o Fiat Palio, e se tornaria o carro mais vendido do país. Tomou a liderança em 2015, não saiu mais de lá e não para de surpreender. Acaba de bater, em agosto, seu recorde de vendas em toda a sua história, com 21.763 emplacamentos. Vendeu mais que o dobro do segundo colocado, o Hyundai HB20, que emplacou pouco mais de 10 mil unidades. Embora a versão aventureira Activ seja a mais cara, por conta da estética “off-road”, a bem equipada LTZ ostenta a sobriedade, uma das marcas da linha. Por isso, cumpre a função de expressar o que o Onix tem de melhor.
Um dos segredos do Onix para manter o bom ritmo de vendas é não se acomodar. Em julho de 2016, às vésperas de completar quatro anos do seu lançamento, recebeu um “facelift” expressivo, no qual grade, faróis, lanternas, saias, capôs e tampas do porta-malas foram redesenhados. Este ano, no final de maio, foi apresentada a linha 2019, que incorporou aperfeiçoamentos pontuais. Entre as discretas novidades, os faróis da versão LTZ passaram a contar com lâmpadas do tipo Blue Vision, para reforçar a visibilidade e o conforto dos olhos do motorista. Colunas B (as centrais do veículo) são revestidas em preto com alto brilho, mesmo tom adotado nas rodas diamantadas de liga leve de 15 polegadas. Dentro, a versão ganhou novos revestimentos para os bancos, em material mais requintado nas áreas de contato, quadro de instrumentos com iluminação True White (com leds brancos em lugar dos antigos azuis), similares aos utilizados no médio Cruze. E quem viaja no lugar central do banco traseiro passou a ter direito a cinto de três pontos e encosto de cabeça. Além disso, o sistema multimídia MyLink, compatível com Android Auto e Apple CarPlay, agora incorpora a câmera de ré. No conjunto das novidades, nada demasiadamente chamativo, mas o bastante para manter o modelo atualizado em relação à concorrência e com uma certa “cara de novo”. Para os que apreciam tecnologias modernas, um diferencial interessante da linha Chevrolet no Brasil é o OnStar – sistema de concierge online da marca que, por meio de comandos vocais e conectividade com uma Central que é capaz de ajudar a encontrar pontos de interesse ou programar uma rota no GPS.
O motor 1.4 SPE/4 de quatro cilindros e oito válvulas que move o Onix LTZ automático continua o mesmo desde o lançamento. É bicombustível e entrega 98 cavalos a gasolina e 106 cavalos com etanol, sempre a 6 mil rpm, e torque de 13 kgfm com gasolina e 13,9 kgfm com etanol a 4.800 rpm. De acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro, o Onix automático faz 11,7 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada, quando abastecido com gasolina. Recebeu nota A em sua categoria e o selo verde do Conpet/Inmetro. O propulsor trabalha com o câmbio automático (GF6) de 6 marchas. As trocas podem ser acionadas pelo motorista em modo sequencial em um botão localizado na alavanca do câmbio.
O Onix LTZ 1.4 automático está longe de ser um compacto barato – é oferecido por R$ 64.450. Mas o preço é equivalente ao dos concorrentes com configurações mecânicas e níveis de equipamentos similares. Pelos bons resultados de vendas obtidos pela linha Onix, que lidera o mercado há três anos, não parece que o preço esteja atrapalhando a performance do hatch compacto da Chevrolet. De pequena evolução em pequena evolução, o Onix dá toda a pinta de que fechará 2018 mais uma vez na liderança folgada do mercado nacional.
Experiência a bordo
Sem excessos nem carências
Na versão LTZ, a vida a bordo do Onix é bem confortável, dentro daquilo que se espera de um hatch compacto. O acabamento é digno, as peças são bem encaixadas e não apresentam rebarbas. Por dentro, a impressão de espaço amplo continua a ser um destaque na linha. Não há espaços em excesso, mas existe lugar de sobra para quatro adultos – um quinto passageiro até cabe, agora com direito a apoio de cabeça e cinto de três pontos, mas comprometeria o conforto de todos no banco traseiro. Não é difícil encontrar uma boa posição para dirigir, embora a coluna de direção tenha apenas regulagem de altura – fica devendo o ajuste de profundidade. A ergonomia é quase sempre correta. O motorista pode achar com facilidade os acionamentos das funções de comportamento do veículo e dos sistemas de entretenimento e interatividade. Os comandos do controlador de velocidade, do som e do atendimento do celular são ligados ao sistema multimídia MyLink – com tela de 7 polegadas touchscreen com botões exclusivos de acesso – e também estão disponíveis no volante multifuncional, o que facilita a vida do motorista. Um comando que continua mal posicionado é o do ajuste dos retrovisores externos, que fica junto à coluna frontal e obriga o motorista a deixar sua posição normal para acioná-lo. A não ser que o motorista tenha braços excepcionalmente compridos, é impossível ajustar dos espelhos olhando para eles da posição habitual ao dirigir. Os botões dos vidros também poderiam ser melhor posicionados, assim como o puxador das portas, que é baixo demais.
O OnStar continua a ser um diferencial importante na linha Chevrolet. A fabricante norte-americana oferece o sistema de telemática como cortesia por um ano para o comprador do Onix LTZ automático – posteriormente, cobra mensalidade de R$ 80. O dispositivo funciona como uma espécie de “assistente pessoal” do motorista e traz informações de segurança, auxílio de emergência e concierge. É possível localizar rotas e fazer agendamentos. O funcionamento do OnStar é controlado por três botões localizados junto ao retrovisor interno – o da esquerda, para atender às ligações da Central, o do meio, para iniciar o contato com a Central e o da direita, para emergências. O sistema oferece ainda assistência na recuperação do carro em caso de roubo, sensores de arrombamento e alerta à Central, que entra em contato com o proprietário para verificação do fato e dar sequência na operação de busca. Se o veículo for levado por ladrões, é possível observar seu deslocamento via satélite e enviar um comando remoto de redução gradual da velocidade até bloquear o motor totalmente, para facilitar a recuperação do carro.
Impressões ao dirigir
Compacto com privilégios
Não é tão fácil de se encontrar as novidades incorporadas à linha 2019 do hatch compacto da Chevrolet. Mas, quando encontradas, fica claro que cumprem bem a função de ampliar a percepção de qualidade ao modelo. Os novos revestimentos dos bancos, por exemplo, além de mais bonitos, são mais agradáveis ao tato que os anteriores. As luzes em leds brancos do painel representam uma evolução estética evidente em relação ao estranho tom azul adotado anteriormente. Além dessas inovações, o apoio de cabeça para o passageiro do centro do banco traseiro é mais que bem-vindo.
A direção elétrica é progressiva, bem balanceada e continua a ser um dos destaques do Onix. Em manobras, tudo bem leve. Em velocidades mais elevadas, o sistema se torna mais firme e preciso. Não houve mudanças mecânicas na linha 2019. No entanto, de modo geral, o câmbio automático de 6 velocidades do Onix LTZ tem uma atuação muito correta, proporcionando a adequada transmissão da força do motor às rodas dianteiras na medida em que o motorista faz as exigências, no acelerador. As trocas de marchas ocorrem com transições sutis, sempre na hora certa e sem solavancos. Podem ser acionadas manualmente pelo motorista em modo sequencial em um botão localizado na alavanca do câmbio. A tecla não é tão lúdica quanto os “paddle shifts”, mas permitem ao motorista comandar a transmissão e, principalmente, as retomadas de velocidade.
Em resumo, o Onix LTZ automático é um hatch compacto agradável de dirigir. Não tenta ser um esportivo, porém não é difícil de se obter retomadas vigorosas de velocidade, daquelas que contribuem para ultrapassagens mais tranquilas. Para complementar, o rolamento da carroceria é baixo, e o compacto da Chevrolet contorna as curvas com firmeza. O conjunto suspensivo dá sua contribuição para aumentar a estabilidade nos trechos sinuosos em altas velocidades.