Luiza Kreitlon/Automotrix

Há mais de 70 anos, o escorpião é o símbolo da Abarth, a preparadora de modelos esportivos da Fiat – seu fundador, o italiano Carlo Abarth, nasceu em novembro, sob o oitavo signo astrológico do zodíaco. Em novembro do ano passado – ou seja, também em Escorpião – foi apresentado no mercado brasileiro o Pulse Abarth. Pela primeira vez, um carro da Abarth foi projetado fora da Europa e também foi o primeiro utilitário esportivo desenvolvido pela preparadora da Fiat no mundo. O lançamento acarretou em um investimento em infraestrutura em 60 concessionárias Fiat, que passaram a ostentar o logotipo do escorpião na fachada, criaram espaços no showroom com a identidade visual da Abarth e incorporaram a butique Abarth Wear. Todo esse investimento serve para ajudar a versão – e, por extensão, toda a linha Pulse – a se destacar no segmento que representa atualmente mais da metade das vendas de carros de passeio novos no Brasil (picapes e furgões são veículos comerciais e não entram na conta). Desde o lançamento, a versão Abarth do Pulse mantem o preço – parte de R$ 149.990. O modelo não conta com opcionais, mas há uma extensa lista de acessórios da Mopar. O preço inicial vale apenas para a cor Preto Vulcano – as sólidas Branco Banchisa e Vermelho Montecarlo (ambas com teto Preto Vulcano) acrescentam R$ 990 e a especial Cinza Strato com teto Preto Vulcano (a do modelo testado) agrega R$ 1.490 à fatura.

Luiza Kreitlon/Automotrix

O design nada discreto é o “cartão de visitas” da versão Abarth do Pulse. Detalhes em vermelho estão na faixa lateral que termina em degradê, nas capas dos retrovisores, em um delicado friso circular no centro das rodas e em uma linha no para-choque dianteiro. Os badges Abarth aparecem tanto na lateral quanto na dianteira e na traseira, enquanto a Fiat Flag (bandeira italiana estilizada) marca presença de forma minimalista no lado esquerdo da grade. Na frente, para evidenciar a “musculatura”, destacam-se o aplique superior com design que simula fibra de carbono e a grade com abertura de ar dedicada, para maior eficiência. O para-choque frontal mais baixo e largo melhora a aerodinâmica. Atrás, a personalidade é explicitada pela antena tipo barbatana de tubarão e pelo escapamento com uma vistosa ponteira dupla cromada de três polegadas.

Luiza Kreitlon/Automotrix

Para justificar dinamicamente o sobrenome ilustre, o Pulse Abarth é equipado com o motor Turbo 270, já adotado em modelos como os Fiat Toro e Fastback e os Jeep Renegade, Compass e Commander. Na versão Abarth do SUV compacto da Fiat, o motor 1.3 turbinado recebeu uma calibração específica no mapa do acelerador para priorizar o desempenho, embora tenha mantido a potência de 185 cavalos e os 27,5 kgfm de torque. Trabalha acoplado ao câmbio automático de 6 marchas, com “paddles shiffters” no volante – o mesmo utilizado nos modelos maiores da Stellantis, porém, com um acerto mais agressivo, com trocas mais rápidas e esportivas. Com esse conjunto, pelos dados da Fiat, o Pulse Abarth é capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 7,6 segundos e chegar à velocidade máxima de 215 km/h. 

Desenvolvido sobre a plataforma MLA, o Pulse Abarth recebeu várias modificações específicas em relação ao SUV original. As suspensões têm molas e amortecedores até 13% mais firmes e a suspensão dianteira ganhou nova geometria e barra estabilizadora de maior diâmetro, para aumentar a estabilidade. A traseira tem eixo com 15% mais de rigidez à torção. De acordo com a marca italiana, a rolagem da carroceria ficou 10% menor, ajudando a manter a altura elevada. Equipado com rodas mais largas, de 17 polegadas, e pneus mais aderentes, o Pulse Abarth recebeu uma nova direção, mais direta, para poder acompanhar proposta mais arisca do modelo. O sistema de freios foi redimensionado. A versão esportiva do SUV tem três modos de direção: “Normal”, “Manual” e “Poison”, este último exclusivo da Abarth, com respostas mais rápidas e “envenenadas”. Com o mapa especial do acelerador no modo “Poison”, segundo os engenheiros da marca, é possível atingir uma mesma velocidade em 60% do tempo quando comparado ao “Normal”. O modo mais esportivo pode ser acionado por meio de um botão no volante. Com o “Poison” ativo, os controles de tração e estabilidade se tornam menos intrusivos, o que permite uma direção mais esportiva.

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Experiência a bordo

No espírito da coisa

Luiza Kreitlon/Automotrix

O interior do Pulse Abarth é “contaminado” pelo aspecto exterior do carro. Quando o motorista liga o veículo, aparece o “welcome movement Abarth” no cluster e na tela da central multimídia. O interior do Abarth é escurecido, com o símbolo do escorpião presente em 13 pontos, como no encosto dos assentos, centro do volante, badge do painel e em uma etiqueta no câmbio. Os bancos exclusivos são em couro ecológico preto, o apoio de braço e o volante trazem costuras em tom vermelho, assim como a coifa do câmbio. Existe ainda uma faixa vermelha no painel. O cluster full-digital de 7 polegadas específico Abarth tem informações como pressão do turbo, força G e potência na tela principal.

Luiza Kreitlon/Automotrix

O Pulse Abarth vem equipado com o topo da gama da linha, como central multimídia de 10,1 polegadas que incorpora o último nível de software da Stellantis, permitindo espelhamento sem fio para Android Auto e Apple CarPlay. O carregador por indução para bateria de celular está no console central. O multimídia vem com o Connect Me, plataforma de serviços com mais de 30 funcionalidades. O usuário pode ter acesso a informações do veículo, como diagnósticos e a localização pelo smartphone ou por meio do assistente pessoal Alexa ou do Google Assistant. O modelo vem equipado com Auto Hold – que mantém o freio acionado após a retirada do pé do pedal –, airbags frontais e laterais de tórax e cabeça para motorista e passageiros. O ar-condicionado é automático e digital. 

Impressões ao dirigir

Dupla personalidade

Luiza Kreitlon/Automotrix

A proposta do Pulse Abarth é honrar as boas tradições da preparadora da Fiat em termos de performance, sem deixar de ser um utilitário esportivo. Para tal, o modelo passou por uma ampla evolução para entregar a dinâmica de um esportivo legítimo, sem abdicar da altura elevada, da percepção de robustez e do conforto familiar que cativam os fãs dos SUVs. As suspensões dianteira e traseira têm molas e amortecedores mais firmes – uma diferença que se torna notável em vias mal pavimentadas, nas quais a versão Abarth fica mais saltitante. Mas o veículo escapa do “pecado original” dos esportivos, que é ter uma altura de rodagem excessivamente baixa – preserva os 18,8 centímetros em relação ao solo dos outros Pulse. Não é o tipo de esportivo que raspa o para-choque dianteiro ou o assoalho em lombadas e valetas. Fugir de um alagamento em um dia chuvoso também não gera estresse.

Luiza Kreitlon/Automotrix

Quando o motorista aciona o botão de partida, mesmo no modo “Normal”, o motor 1.3 turbo com 180/185 cavalos de potência e 27,5 kgfm de torque se manifesta com um ronco encorpado – proporcionado por um conjunto de abafadores. No entanto, o melhor é dirigir o Pulse Abarth no modo esportivo, acionando a tecla vermelha “Poison” (veneno) no volante. O comportamento do carro se torna outro. Provavelmente, até quem ainda torce o nariz para os SUVs se divertirá ao dirigi-lo. No modo esportivo, o SUV passa a insistir mais em marchas mais baixas e fica sempre esperto. Nas curvas rápidas, o controle de estabilidade ajuda a trazer o Pulse de volta à trajetória. Há vetorização de torque nas curvas, entregando menos potência nas rodas internas e mais nas externas para diminuir a saída de frente. Todavia, os controles de estabilidade e tração atuam de forma menos ostensiva no modo esportivo. Os largos pneus Dunlop, nas medidas 215/50 R17, ajudam aumentar a área de contato com o solo e a estabilidade.

Qualquer sutil pressão no pedal da direita deixa claro que o SUV está pronto para acelerar. Há aletas no volante para troca manual nos dois modos iniciais de direção – mas o comportamento do carro no modo “Poison” é tão esperto que não dá vontade de usar. O acelerador e a direção têm uma programação bastante direta e responsiva. Nas frenagens, o câmbio se antecipa na redução de marcha para deixar o motor em regime de rotação ideal para a retomada de aceleração. Para tornar as performances mais seguras, o Pulse Abarth conta com itens semiautônomos como frenagem automática de emergência e alerta de saída de faixa. Quando o câmbio prioriza marchas mais baixas, o que confere ao modelo uma performance instigante, é previsível que o consumo acabe sendo afetado. Com o botão “Poison” acionado na maior parte do tempo, o consumo de combustível no teste ficou bastante aquém do homologado pelo Inmetro – 10 (gasolina) e 6,8 km/l (etanol) no ciclo urbano e 12,3 e 8,8 km/l, respectivamente, no rodoviário.

Ficha técnica

Fiat Pulse Abarth

Luiza Kreitlon/Automotrix

Motor: transversal dianteiro, quatro cilindros, diâmetro x curso 70 x 86,5 milímetros, 1.332 cm³, taxa de compressão 10,5:1

Potência: 180 cavalos (gasolina) / 185 cavalos (etanol) a 5.750 rpm

Torque: 27,5 kgfm a 1.750 rpm

Injeção: eletrônica Vitesco, multiponto, direta

Combustível: gasolina e etanol

Transmissão: automática de 6 marchas, com “paddles shiffters” na direção

Tração: dianteira

Direção: elétrica com pinhão e cremalheira

Sistema de freios: comando hidráulico, ABS e ESC de série, dianteiro a disco ventilado com pinça flutuante, traseiro a tambor com regulagem automática e refrigeração

Suspensão: dianteira tipo MacPherson com rodas independentes, traseira tipo eixo de torção com rodas semi-independentes

Rodas e pneus: liga leve de 17 polegadas, 215/50 R17

Peso em ordem de marcha: 1.281 quilos

Porta-malas: 370 litros, 1.238 litros com os bancos traseiros rebatidos

Dimensões: comprimento de 4,11 metros, largura de 1,77 metro (sem os espelhos), altura de 1,54 metro, entre-eixos de 2,53 metros

Altura em relação ao solo: 18,8 centímetros

Tanque de combustível: 47 litros

Preço inicial: R$ 149.990

Por  Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Luiza Kreitlon/AutoMotrix

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