A Nissan tem a meta global de estar entre os líderes de mercado em todos os segmentos em que atua, mas o segmento de picapes médias no Brasil teima em não colaborar com os planos da marca japonesa. As 8.669 unidades da Frontier emplacadas em 2022 deram ao modelo um coadjuvante quinto lugar no segmento – foi superada com larga margem pela líder Toyota Hilux (48.606), pela Chevrolet S10 (27.128), pela Mitsubishi L200 Triton (15.831) e pela Ford Ranger (14.285), se posicionando à frente da Volkswagen Amarok (6.012). Para tentar assumir o desejado protagonismo, a linha 2023 da Frontier desembarcou nas concessionárias brasileiras em abril do ano passado, trazendo uma reestilização do conceito global Nissan Emotional Geometry Design, introduzido na picape em 2017, junto com a décima segunda geração (a atual). A maioria das novidades estilísticas se concentrou na inédita versão de topo Pro-4X (o marketing da Nissan pronuncia “prô-fór-éx”), criada para seduzir os amantes do off-road ou aqueles que apenas sonham em fugir da rotina urbana. A configuração divide o posto de “top” da linha com a Platinum, que investe em um visual mais requintado. Ambas partem dos mesmos R$ 324.990. Contudo, se o cobiçado lugar entre as líderes das picapes médias já estava difícil, a briga promete tornar-se ainda mais complicada. Estão previstas para este ano a chegada ao Brasil das novas gerações da Ranger e da Amarok e a primeira picape média da Fiat (com base na Peugeot Landtrek chinesa). E talvez ainda em 2023 seja apresentada a Poer, da chinesa Great Wall Motors.

Luiza Kreitlon/AutoMotrix

            Produzida na Argentina, na fábrica de Córdoba, a Frontier 2023 investiu no aprimoramento de percepção de robustez. A grade foi ampliada e abriga o logotipo da marca. Parece mais interligada com os novos faróis, que ganharam projetores de leds quádruplos com luz diurna em forma de “C”.  Os faróis de neblina, também de leds, estão integrados ao novo para-choque que, por ser maior, dá uma sensação mais musculosa. Na traseira, as lanternas de leds mantiveram o desenho trapezoidal e verticalizado das anteriores, mas foram renovadas em seus elementos internos. A caçamba tem uma altura sutilmente maior em relação à antecessora – 2,5 centímetros, perto da cabine, e até cinco centímetros nas laterais, perto da tampa –, porém, preserva a capacidade para até 1.054 litros (1.030 quilos). Dentro, o espaço tem ganchos com argola posicionados perto do assoalho e ainda há uma tomada de 12V para permitir a conexão de dispositivos eletrônicos. Além disso, a tampa do compartimento, que agora traz o nome “Frontier” em baixo relevo, recebeu dois amortecedores que reduziram o peso na hora de sua abertura, permitindo sua manipulação com apenas uma mão. E o para-choque traseiro ganhou um degrau que facilita o acesso.

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            A  “top” Pro-4X investe em detalhes que reforçam a sua força, dos para-lamas exclusivos ao santantônio – até o logo da Nissan na versão é diferente, em vermelho. As rodas de liga leve de 17 polegadas pretas com pneus de uso misto 255/65 também são exclusivas da versão, que agrega um pacote de tecnologias de segurança e conforto que fazem parte do Nissan Intelligent Safety Shield. Entre esses sistemas está o alerta avançado de colisão frontal, o assistente de frenagem, o alerta de mudança de faixa, o assistente de prevenção de mudança de faixa, os alertas de atenção do motorista e de ponto cego, a câmera com visão 360 graus e detecção de objetos em movimento, o alerta de tráfego cruzado traseiro, o assistente de altura e o intensidade dos faróis. Desde a versão de entrada, a Frontier é equipada com sistema de auxílio de partida em rampa e controles automático de descida e eletrônico de frenagem (EBD). A segurança é reforçada ainda em todas as versões por seis airbags, pelo sistema Isofix e alerta de uso dos cintos dianteiros e traseiros. A cor Cinza Shark (a do modelo testado) só é oferecida para a versão Pro-4X.

            No console central, próximo da alavanca do câmbio, um seletor permite a escolha do modo de condução entre quatro opções: “Standard” – para situações normais na cidade e estrada –, “Sport” – mantém a posição de marcha mais baixa, levantando as rotações mais altas e garantindo mais potência do propulsor e freio-motor mais forte –, “Off-Road” – modula o acelerador para ganhar força em baixas velocidades – e “Tow” – ideal para ser usado com carga máxima ou ao se puxar um reboque. Esse recurso se une ao sistema que permite a troca entre as opções 4×2, 4×4 High e 4×4 Low. A versão Pro-4X é a única da linha a contar com o bloqueio do diferencial traseiro.

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            Em termos de motorização, foram mantidas as duas configurações do motor de 2,3 litros a diesel do modelo anterior – uma biturbo de 190 cavalos e 45,9 kgfm de torque para as versões mais caras e outra com 163 cavalos e 43,3 kgfm para as básicas. Para se adequar às normas de emissões L7, as duas configurações do motor contam com sistema redutor catalítico com Arla 32, com reservatório acessado por uma tampa ao lado do bocal de combustível. A necessidade de abastecimento é avisada por uma mensagem de autonomia no painel de instrumentos.

Experiência a bordo

Jeito rústico de ser

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            A cabine da Frontier Pro-4X é ampla e não houve alterações significativas em relação ao modelo anterior. Apesar de ter recebido alguns aprimoramentos, o ambiente entrega que se trata de um projeto não tão recente. Os plásticos duros predominam, como é usual no segmento de picapes médias. O volante é similar ao do Kicks e com base reta. Revestido em couro sintético, incorpora piloto automático e comandos de mídia, telefonia e computador de bordo – todavia, traz apenas ajuste de altura, não de profundidade. Nos bancos dianteiros, em revestimento que simula couro e com a inscrição “Pro-4X”, a Nissan mantém a tecnologia Gravidade Zero, comum aos modelos da marca, desenvolvida para melhorar o conforto. Para quem gosta de espalhar seus badulaques a bordo, existem 27 compartimentos.

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            O quadro de instrumentos é analógico e o cluster conta com tela de TFT de 7 polegadas. No console central, a tela de 8 polegadas do sistema multimídia se conecta a smartphones e permite ativar recursos como streaming de áudio por Bluetooth, reconhecimento de voz e navegação. A interface é um tanto confusa em algumas situações. A picape é a única do segmento a oferecer teto solar, enquanto o ar-condicionado digital é de duas zonas. São três entradas USB para carregar dispositivos e garantir conectividade. Há ainda duas entradas de 12V para carregar aparelhos na cabine – além da disponível na caçamba. Uma alça para auxiliar o motorista a subir a bordo (como a que existe do lado do carona) seria bem-vinda.

Impressões ao dirigir

Sabor de aventura

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            O motor biturbodiesel 2.3 da versão Pro-4X entrega convincentes 190 cavalos a 3.750 rpm e 45,9 kgfm a 2.500 rpm e tem sua força otimizada pelo câmbio automático de 7 marchas com função manual sequencial. A transmissão proporciona ao conjunto um funcionamento vigoroso, mas suave e sem trancos. No asfalto, confere à Frontier uma “leveza” surpreendente – nem parece que se está a bordo de um veículo de mais de duas toneladas. O fato de o torque máximo estar operacional em rotações tão baixas torna a picape ágil tanto na condução off-road, na qual ajuda a tração integral a entregar a força demandada, quanto na estrada, onde as respostas para as eventuais ultrapassagens aparecem com a desejada celeridade. Com a função D-mode, é possível selecionar entre quatro modos de condução, com mudanças no estilo da transmissão para cada tipo de direção.

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            A linha 2023 da Frontier trouxe uma recalibração da suspensão traseira e dez reforços no chassi para aumentar a rigidez. A suspensão dianteira tem ajuste focado no conforto, enquanto o sistema multilink com molas helicoidais atrás trabalha em conjunto com um eixo rígido e se encarrega de oferecer um bom equilíbrio dinâmico, tanto com o veículo vazio quanto com a caçamba carregada. Contudo, a Frontier continua com direção hidráulica, enquanto algumas das rivais já adotam a elétrica.

            No off-road, a tração 4×4 com reduzida e bloqueio do diferencial traseiro dão conta das situações mais complicadas. O sistema Shift On The Fly possibilita acionar as opções de tração integral e reduzida girando um comando no painel. A percepção de estabilidade e de consistência do conjunto em trechos de fora-de-estrada é reconfortante. Tecnologias como o controle de descida e o sistema de partida em rampa atuam automaticamente nos freios do veículo para controlar o carro sem sustos em descidas íngremes e saídas da imobilidade em aclives. Seus 31,6 graus de ângulo de ataque, 25,7 graus de saída e 25,2 centímetros de vão livre facilitam a tarefa de transpor obstáculos severos. O bloqueio do diferencial traseiro, exclusivo da versão Pro-4X, também mostra sua importância em tais situações.

Ficha Técnica

Nissan Frontier Pro4X 4×4 AT

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Motor: 2.3 a diesel, 2.298 cm3, dianteiro, longitudinal, biturbo, quatro cilindros, 16 válvulas, injeção direta de combustível

Taxa de compressão: 15,4:1

Potência: 190 cavalos a 3.750 rpm

Torque: 45,9 kgfm a 2.500 rpm

Transmissão: automática de 7 marchas

Tração: 4×4 com reduzida

Freios: disco ventilado nas quatro rodas

Direção: hidráulica

Suspensão: dianteira com braços sobrepostos e barra estabilizadora, traseira multilink, barra estabilizadora e molas helicoidais

Rodas e pneus: alumínio 255/65 R17 All Terrain

Dimensões: comprimento de 5,26 metros, altura de 1,86 metro, largura sem retrovisores de 1,85 metro e distância de ente-eixos de 3,15 metros

Peso em ordem de marcha: 2.220 quilos

Preço: R$ 324.990

Por: Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos:  Luiza Kreitlon/AutoMotrix

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