Em um mercado automotivo ainda tumultuado pela escassez global de componentes, notadamente dos semicondutores, a produção das picapes médias tem sido uma das mais sacrificadas. Especialmente nas versões “topo de linha”, as picapes modernas são veículos repletos de tecnologias, que requerem uma elevada demanda de semicondutores. Assim, as vendas do segmento em 2022 refletem não apenas a demanda dos consumidores brasileiros, mas também a disponibilidade de componentes obtida por cada fabricante e as versões possíveis de serem produzidas. Para brigar no segmento, a Nissan desembarcou há cinco meses a linha 2023 da sua picape Frontier fabricada na Argentina. Além das conhecidas configurações S, Attack e XE, estrearam as novas opções SE, Platinum e Pro-4X, todas com tração 4×4. Os preços sugeridos partem de R$ 244.290 da versão básica S com câmbio manual e motor 2.3L biturbodiesel de 163 cavalos e chegam a R$ 323.890 pedidos pelas duas novas configurações “top” – a Platinum e a Pro-4X –, ambas automáticas e com 190 cavalos do mesmo motor, igual em toda linha, com exceção da versão S. Entre os extremos da gama está uma das variantes mais procuradas, a Attack, que custa R$ 274.890. Nem tão despojada quanto a S e nem tão equipada quanto a Platinum e a Pro-4X, a intermediária Attack tem como grandes destaques o visual aventureiro e a relação custo/benefício, que equilibra uma oferta dos equipamentos considerados fundamentais no segmento com um preço R$ 50 mil abaixo das configurações topo de linha.
A Frontier 2023 segue o conceito global “Emotional Geometry Design” da Nissan. As dimensões foram mantidas: 5,26 metros de comprimento, 3,15 metros de entre-eixos, 1,85 metro de largura, 1,86 metro de largura, 1.054 litros de capacidade de caçamba e 73 litros de tanque. A grade foi ampliada e está mais integrada com os faróis halógenos da versão Attack, que ganharam projetores de leds quádruplos com luz diurna em forma de “C” – apenas a partir da versão XE os faróis passam a ser em Full-Led e lanternas totalmente em leds. Na Attack, ao lado das luzes diurnas, apenas os faróis de neblina são em leds. Na traseira, as lanternas preservam o desenho trapezoidal e verticalizado das anteriores, mas igualmente renovadas em seus elementos internos. A caçamba tem uma altura sutilmente maior em relação à antecessora – 2,5 centímetros, perto da cabine, e até cinco centímetros nas laterais próximo à tampa, que traz o nome “Frontier” em baixo relevo e novos amortecedores para deixá-la mais leve. O para-choque traseiro ganhou um degrau que facilita o acesso. As maçanetas externas, a da caçamba, os estribos e rack de teto são pintados de preto. Os faróis têm máscara negra e os de neblina tem moldura preta. Identificações “Attack” e faixas largas pretas na carroceria reforçam a proposta aventureira da versão, que tem rodas aro 17 com pneus All Terrain 255/65.
Desde a versão de entrada, a Frontier é equipada com sistema de auxílio de partida em rampa, controle automático de descida e controle eletrônico de frenagem (EBD). A segurança ainda é garantida em todas as configurações por seis airbags, sistema Isofix e alerta de uso dos cintos dianteiros e traseiros. Para justificar os R$ 50 mil a mais no preço em relação à Attack, além da iluminação totalmente em leds, das rodas de 18 polegadas, do teto solar e dos bancos em couro sintético, as “tops” Platinum e Pro-4X agregam um pacote de tecnologias de segurança e conforto que fazem parte do Nissan Intelligent Safety Shield. Entre esses sistemas estão o Alerta Avançado de Colisão Frontal, o Assistente Inteligente de Frenagem, o Alerta Inteligente de Mudança de Faixa, o Assistente de Prevenção de Mudança de Faixa, o Alerta Inteligente de Atenção do Motorista, o Alerta de Ponto Cego e a Visão 360 Graus Inteligente com Detecção de Objetos em Movimento. De assistentes de direção, a Attack só traz auxílio de partida em rampas, controle automático de descida, controle eletrônico de frenagem e câmera de ré.
O motor a biturbodiesel da Attack é o mesmo do modelo anterior, com 190 cavalos e 45,9 kgfm de torque. Para se adequar às normas de emissões L7, incorporou um sistema Redutor Catalítico com Arla 32, que fica em um reservatório acessado por uma tampa ao lado do bocal de combustível. No console central, próximo da alavanca do câmbio, um seletor permite a escolha do modo de condução entre quatro opções: “Standard” – para situações normais na cidade e estrada –, “Sport” – mantém a posição de marcha mais baixa levando a rotações mais altas e garantindo potência do propulsor e freio-motor mais forte –, “Off-Road” – modula o acelerador para manter as rotações altas e ganhar força em baixas velocidades – e “Tow” – para usar com carga máxima ou ao puxar um reboque. Esse recurso complementa o sistema que permite a troca entre as opções 4×2, 4×4 High e 4×4 Low.
As 5.327 unidades emplacadas no Brasil de janeiro a agosto de 2022 mantiveram a Frontier no quinto lugar no segmento de picapes médias – foi superada pela Toyota Hilux (29.600 unidades), pela Chevrolet S10 (18.321), pela Mitsubishi L200 Triton (10.310) e pela Ford Ranger (8.676), se posicionando à frente da Volkswagen Amarok (3.289). A meta da marca japonesa é estar entre os líderes de mercado em todos os segmentos em que atua, e um quinto lugar ainda é uma posição um tanto coadjuvante. Foi justamente com a missão de assumir o desejado protagonismo que a Frontier desembarcou no Brasil, no final de abril, sua linha 2023. Até agora, a pretensão da fabricante – talvez por conta da falta de componentes que prejudica o fluxo da produção – ainda não foi atendida.
Experiência a bordo
Rústica com privilégios
Os plásticos duros dominam o ambiente da Frontier Attack – como é corriqueiro no segmento de picapes médias. “Herdado” do Kicks, o volante é revestido em couro sintético e incorpora piloto automático e comandos de mídia, telefonia e computador de bordo. Contudo, tem apenas ajuste de altura, não de profundidade. O cluster conta com tela de TFT de 7 polegadas. A picape manteve a tela de 8 polegadas para o sistema multimídia A-IVI no console central, com Android Auto e Apple CarPlay, para ativar recursos como streaming de áudio por Bluetooth, reconhecimento de voz e navegação.
Nos bancos dianteiros, revestidos com um acabamento exclusivo de tecido com inscrições “Attack”, a Nissan continua a oferecer a tecnologia “Gravidade Zero”, para reduzir a fadiga e melhorar o conforto para o condutor. Nesta versão, o ar-condicionado é de apenas uma zona e manual com saídas para o banco traseiro. São três entradas USB para carregar dispositivos e garantir conectividade. Há ainda duas entradas de 12V para carregar aparelhos na cabine – além da disponível na caçamba. Para quem gosta de espalhar tralhas a bordo, há mais de duas dúzias de compartimentos à disposição no habitáculo.
Impressões ao dirigir
Força e precisão
Com seus 190 cavalos a 3.750 rpm e 45,9 kgfm a 2.500 rpm, o motor biturbodiesel 2.3 faz uma boa dupla com o câmbio automático de 7 marchas com função manual sequencial. A transmissão gerencia com eficiência as mudanças e proporciona um desempenho vigoroso e consistente, sem asperezas ou indecisões. A suspensão dianteira tem ajuste macio e focado no conforto, enquanto o sistema multilink com molas helicoidais na traseira trabalha em conjunto com um eixo rígido e se encarrega de oferecer um bom equilíbrio dinâmico, tanto com o veículo vazio quanto com a caçamba carregada. Nas ruas esburacadas, a suspensão absorve bem os impactos.
A Frontier preserva a direção hidráulica, menos confortável que a de algumas rivais, que já optam pela elétrica progressiva – mas não chega a ser incoerente com a proposta da picape. No asfalto, a Attack é agradável de se dirigir e oferece corretas respostas de aceleração e de frenagem, bem aproximadas às dos carros de passeio. As ultrapassagens transmitem confiança por conta das retomadas espertas. Estacionamentos apertados, como ocorre com qualquer picape média, devem ser evitados.
A estabilidade em trechos fora-de-estrada também é boa, seja sobre lama ou pedras. O sistema Shift On The Fly aciona as opções de tração integral e reduzida quando o motorista gira um comando no painel. Tecnologias como o Controle Inteligente de Descida e o Sistema Inteligente de Partida em Rampa atuam automaticamente nos freios do veículo para controlar o carro sem sustos em descidas íngremes e saídas da imobilidade em aclives. O sistema de tração 4×4 com reduzida e os modos de condução ajudam a transpor pisos irregulares com desembaraço. Conduzida com as devidas serenidade e habilidade, fundamentais para a prática do off-road, a Attack dá conta até de obstáculos severos.
Ficha Técnica
Nissan Frontier Attack 4×4 AT
Motor: 2.3 diesel, 2.298 cm3, dianteiro, longitudinal, biturbo, quatro cilindros, 16 válvulas, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: 15,4:1
Potência: 190 cavalos a 3.750 rpm
Torque: 45,9 kgfm a 2.500 rpm
Transmissão: automática de 7 marchas
Tração: 4×4 com reduzida
Freios: disco ventilado na dianteira e na traseira
Direção: hidráulica
Suspensão: dianteira com braços sobrepostos e barra estabilizadora, traseira multilink, barra estabilizadora e molas helicoidais
Rodas e pneus: liga leve 255/65 R17 All Terrain
Dimensões: comprimento de 5,26 metros, altura de 1,86 metro, largura sem retrovisores de 1,85 metro e distância de ente-eixos de 3,15 metros
Peso em ordem de marcha: 2.075 quilos
Ângulos: 31,6 graus (ataque), 25,7 graus (saída) e 25,2 centímetros de vão livre em relação ao solo
Preço: R$ 274.890, nas cores Vermelho Alert ou Branco Aspen (a do modelo testado). As opções Cinza Grafite ou Preto Premium acrescentam R$ 1.960 ao valor.
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Luiza Kreitlon /AutoMotrix
Veja Também: