A indústria automotiva global está impactada de crise global de componentes. No Brasil, a escalada inflacionária eleva os custos dos insumos e o aumento da taxa de juros complica o crédito, o que agrava ainda mais a situação. No mercado automotivo nacional, a produção de ônibus é um dos segmentos mais fortemente afetados. Até junho, foram vendidos 7.297 ônibus no mercado brasileiro, 2,6% abaixo do primeiro semestre de 2021, quando foram comercializadas 7.493 unidades. O mercado de ônibus apresenta um bom volume de vendas, mas por causa do descompasso na logística está havendo atraso nas entregas dos veículos para os clientes. Apesar disso, a Mercedes-Benz – que há mais de 50 anos lidera o mercado brasileiro de ônibus – está otimista para o segundo semestre. No embalo do ano eleitoral – quando muitos governantes gostam de “mostrar serviço” e investir em transporte público – e da antecipação de compras de modelos com tecnologia antipoluição Euro 5 – que custam menos em comparação aos Euro 6, obrigatórios a partir de janeiro de 2023 –, a marca prevê a venda de 21 mil veículos em 2022, superando 2019, quando foram emplacadas 20.741 unidades. “Se não conseguir recuperar parte da produção por causa do descompasso na logística, o mercado ficará mais próximo do projetado pela Anfavea, que é igualar o ano passado, com cerca de 17 mil ônibus comercializados no país”, pondera Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil. Outro fator que deve ajudar no aquecimento do mercado nacional de ônibus no segundo semestre é o aumento da demanda pela eletromobilidade. A marca alemã está em preparativos finais para a montagem do ônibus elétrico eO500 U modelo Padron 4×2 piso baixo na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que começará até o final do ano.
No acumulado do primeiro semestre, a Mercedes-Benz garantiu 50,1% de participação em todo o mercado brasileiro de ônibus – 5.180 das 9.188 unidades emplacadas tinham o emblema da estrela de três pontas. No segmento rodoviário, o “market share” da marca foi de impressionantes 75%. “O ano será bom para os rodoviários, e a tendência é de chegar a um volume maior nos próximos anos. Além do custo elevado da malha aérea, há mais empresas chegando no mercado”, avalia Barbosa, que prevê um crescimento de vendas de 159% em 2022, totalizando 807 unidades, ante os 312 veículos vendidos em 2021. Já no segmento de ônibus urbanos, a participação da Mercedes é de 72%, com expectativa de emplacar 2.072 unidade, uma alta de 6% frente aos 1.955 veículos emplacados em 2021. “Este setor teve as vendas represadas por causa da pandemia e agora os empresários querem antecipar as compras para não pagar mais caro pelos modelos com motor Euro 6”, justifica Barbosa. No mercado de fretamento – um destaque em 2021, por causa da redução na necessidade de distanciamento causada pelo esperado abrandamento da pandemia –, a expectativa é que a redução seja de 44% – das 1.166 unidades de 2021 para 657 em 2022, ficando para a Mercedes um “share” de 43,5% no segmento. Entre os micro-ônibus, o temor é de uma queda de 7%, de 1.554 unidades em 2021 para 1.448 em 2022. A Mercedes espera atingir 39,6% de participação e garantir pela primeira vez a liderança nesse setor. E no segmento escolar, a meta da marca é de uma participação de 30,6%. Pelos cálculos da empresa, as vendas de escolares reduzirão 8%, de 2.506 para 2.313 veículos – a demanda do programa governamental Caminho da Escola para este ano é bem maior, porém, as dificuldades na cadeia logística dificultarão as entregas.
Se para 2022 o setor de ônibus no Brasil ainda enfrenta dificuldades, para os próximos anos, o otimismo parece estar ligado na tomada. A Mercedes-Benz prevê que até o final de 2024 o Brasil terá mais de três mil ônibus elétricos. Destes, o maior volume, de 2,6 mil, estará concentrado na capital paulista. São José dos Campos (SP) já tem demanda confirmada para 350 veículos, Curitiba (PR), 150, Campinas (SP), 140, Goiânia (GO), 114, São Bernardo do Campo (SP), 96, Rio de Janeiro, 62, Itajaí (SC), 45, Niterói (RJ), 40, Salvador (BA), 20 e Vitória (ES), quatro. Para atender à aquecida demanda paulistana pela eletromobilidade, a Mercedes-Benz contará com o ônibus elétrico eO500 U modelo Padron 4×2 piso baixo. O veículo é movido por dois motores de 340 cavalos – posicionados no eixo traseiro –, autonomia de até 250 quilômetros com quatro packs de bateria e capacidade para transportar 84 passageiros. Dois protótipos do ônibus elétrico já estão rodando na Alemanha e em São Paulo. A capital paulista precisará de mil ônibus elétricos até o fim de 2023. “Deste total, 500 carros já estão sendo negociados com os principais operadores de São Paulo pelas montadoras. A Mercedes-Benz investiu mais de R$ 100 milhões na tecnologia de ônibus elétrico e está preparada para a transição da eletromobilidade, com produto, estrutura de pessoal e capacidade para produzir os modelos elétricos no Brasil. E já conta com parcerias importantes para o negócio para fornecer todo o ecossistema, que inclui o produto, a infraestrutura de recarga e energia, manutenção, peças e treinamento”, contabiliza Barbosa.
Para as demais metrópoles brasileiras, que têm exigências de modelos diferentes em relação ao padrão paulistano, a Mercedes-Benz oferece os chassis O500 U de 12,5 metros, o modelo O 500 UDA de piso baixo e o O 500 MDA de piso alto, ambos superarticulados de 21,5 metros, que contam com parceria da Eletra para eletrificação. Desses modelos, a empresa já tem 108 encomendados, sendo 96 para São Bernardo do Campo – modelo O500 UDA superarticulado piso baixo –, oito para Salvador e quatro para Vitória, do Padron O500U piso baixo. “Os chassis para Vitória e Salvador já foram entregues. Estão em fase de eletrificação na Eletra e depois serão levados para a Caio fazer a montagem das carrocerias, entrando em operação até o fim deste ano”, confirma Barbosa. Para o corredor BRT da região do ABC, os ônibus serão produzidos por fases, porque a infraestrutura do sistema ainda não está pronta. “São veículos de 21,5 metros articulados sobre o chassi O500 UDA piso baixo. Dos 96 ônibus, dez chassis já estão prontos e serão enviados para eletrificação, com previsão de serem finalizados entre outubro e novembro deste ano. O restante do lote deve ficar pronto até 2024, quando as obras públicas do corredor BRT estarão concluídas”, explica Barbosa.
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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