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Quem diz que bebida e direção não se misturam é porque não conhece a importância que a entrega de bebidas em bares, restaurantes e mercados tem para o mercado brasileiro de caminhões. O setor impulsiona as vendas do setor de transporte rodoviário, principalmente no segmento de veículos urbanos de carga (VUCs), que são caminhões leves e médios adequados às entregas nas cidades. Nos últimos tempos, a preocupação das empresas do setor em reforçar o marketing ambiental e contribuir para reduzir a emissão de CO2 tem aumentado a procura por formas de distribuição movidas a energia limpa. É o caso da Ambev, que controla cerca de 70% do mercado brasileiro de cerveja e fechou uma parceria com a startup carioca FNM para o fornecimento de mil veículos elétricos, entre caminhões e vans, A previsão é que os veículos estejam nas ruas até o fim de 2023 atuando na entrega de bebidas – incluindo algumas das marcas de cerveja mais conhecidas do país, como a Brahma, a Antarctica, a Skol, a Bohemia, a Budweiser e a Stella Artois, e também refrigerantes. A iniciativa visa ajudar a reduzir em 25% a emissão de CO2 em toda sua cadeia até 2025, um compromisso assumido pela Ambev em 2018. A fabricante de bebidas já tinha feito em 2019 um acordo de intenção de compra de 1,6 mil caminhões elétricos eDelivery, a serem produzidos pela Volkswagen Caminhões e Ônibus na cidade fluminense de Resende, também com prazo até o final de 2023 para a entrega dos veículos.

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            A Obvio!, uma empresa carioca do ramo de mobilidade criada em 2001, comprou em 2008 os direitos e registrou no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o nome e a logomarca da histórica Fábrica Nacional de Motores (FNM), popularmente conhecida como “Fenemê”, que em 1949 tornou-se a primeira fabricante de caminhões no Brasil e produziu durante três décadas no distrito de Xerém, na cidade fluminense de Duque de Caxias. Agora, a sigla FNM passou a significar Fábrica Nacional de Mobilidades. Em 2019, seu projeto de produzir veículos elétricos tornou-se um dos finalistas da primeira edição do programa “Aceleradora 100+”, promovido pela Ambev para valorização de ideias inovadoras. Desde então, a nova FNM vem trabalhando em tecnologias para entregar soluções sustentáveis e eficientes para a própria logística da Ambev e que podem ser disponibilizadas para clientes locais e internacionais. “É motivo de muito orgulho para todos nós ver o projeto de uma startup brasileira se concretizar. Uma inovação que surgiu aqui no Brasil, com muitas colaborações e parcerias e que resultou em um veículo com tecnologias de ponta e agora poderá ser exportado para outros países e outras empresas interessadas”, comemora Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de sustentabilidade e suprimentos da Ambev.

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            A FNM tem entre seus sócios os empresários Malena Hierneis, Celso Santos, Marco Rozo, Rubem Duailibi e José Antonio Martins, Alberto Martins e José Antonio Fernandes Martins – um dos acionistas da Marcopolo –, além de investidores institucionais. Ricardo Machado, fundador da Obvio!, é o CEO. Para a produção dos veículos, a FNM fez contrato de cooperação técnica e industrial com a Agrale, a única fábrica de veículos 100% brasileira, que atua há quase sessenta anos no mercado nacional, com quatro unidades industriais na cidade gaúcha de Caxias do Sul onde produz tratores, caminhões, chassis para ônibus, utilitários Marruá 4×4, veículos escolares, motores e grupos geradores. Em uma delas, estão sendo montados os caminhões elétricos da FNM, que ostentam uma cabine de aspecto “vintage”, em uma releitura contemporânea dos antigos “fenemês” fabricados nos anos 60. O estilo foi desenvolvido por uma equipe própria, liderada por Celso Santos, Roberto Renner e Vicente Azevedo, e que contou ainda com a participação do consagrado designer automotivo paulistano Anísio Campos, morto em setembro de 2019, aos 86 anos. O modelo 832, um VUC com PBT de 13 toneladas, tem 6,30 metros de comprimento, e o 833, com PBT de 18 toneladas, tem 7,20 metros. Os veículos utilizam nióbio em componentes como chassis, freios, suspensões e rodas, para diminuir o peso e aumentar a resistência, a performance e a autonomia.

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            Os caminhões FNM utilizam motores Editron, da empresa dinamarquesa Danfoss. O motor elétrico tem sistema de 650 Volts, gera 355 cavalos e pesa apenas 85 quilos – outros similares do mercado pesam até 500 quilos. São abastecidos por baterias modulares de alta densidade energética produzidas pela norte-americana Octillion Power Systems, refrigeradas por água gelada. Após o término de seu uso por dez anos nos caminhões, os módulos de bateria podem ser utilizados para outros fins, como acumuladores para sistemas de captação fotovoltaicos. Segundo a Ambev, tanto a Danfoss quanto a Octillion estudam instalar fábricas no Brasil. As transmissões são da norte-americana Eaton, que já conta com unidades industriais nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. E a empresa de implementos rodoviários Randon, também instalada em Caxias do Sul, produzirá os baús de carga dos caminhões FNM, desenvolvidos para as necessidades de cada cliente.

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            De acordo com a Ambev, cada caminhão elétrico do modelo FNM 833 deixará de emitir 126 mil quilos de CO2 por ano. Os dois veículos já produzidos rodarão nas rotas de entrega de bebidas no Rio de Janeiro, com autonomia definida pela Ambev de até cem quilômetros por dia – a FNM afirma que é possível produzir configurações com mais baterias modulares para até setecentos quilômetros de autonomia. A recarga total dos caminhões será feita por tomadas do tipo CCS2 em até quatro horas, conectadas na rede de 380 Volts nos próprios centros de distribuição da Ambev espalhados pelo Brasil, que já operam com energia solar. Também para a Ambev, a FMN tem planos de produzir vans elétricas com PBT de 3,5 toneladas.  “A FNM não vende caminhões, mas sim soluções de logística com performance de TCO (Total Cost of Ownership ou Custo Total de Propriedade) positivo. Para entregar esse serviço, fizemos um anteprojeto para definir as necessidades de cada cliente, como é o caso da Ambev, sempre aliando produtividade com redução de custos, em modelo de negócio baseado em contratos de pré-vendas, com planilha aberta e pagamento antecipado”, explica Ricardo Machado, CEO da Obvio! e da FNM.

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            Os caminhões elétricos da Ambev serão conectados aos sistemas de TI da fabricante de bebidas, trazendo em tempo real as informações de rota e performance para a área de monitoramento da empresa e dados como trânsito e trajetos. Contarão ainda com tecnologias focadas na segurança, como um sistema anticolisão com inteligência artificial e câmeras integradas. A FNM adianta que, além dos mil caminhões já encomendados pela Ambev, há negociações para a venda de outros seis mil veículos elétricos para outras empresas. A ampla estrutura industrial da Agrale em Caxias do Sul permitirá uma rápida expansão da produção para atender à demanda pelos “fenemês” elétricos. A FNM e a Agrale estão em conversações com o Ministério da Economia sobre a Resolução Gecex nº 92, de 21 de setembro de 2020, que zerou os impostos de caminhões elétricos importados. Segundo as duas empresas, com a produção de caminhões elétricos no Brasil, essa facilidade de “imposto zero” para caminhões elétricos importados deverá ser anulada. 

Por: Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação

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