De 2011, quando foi lançado, a 2014, o Duster conseguia médias de 4 mil vendas mensais, quase o dobro das obtidas no ano passado. Para tentar retomar as trilhas mais gloriosas do seu utilitário esportivo, a Renault sabia que era necessário renová-lo radicalmente. Se no início da década passada o concorrente no segmento era o Ford EcoSport, atualmente, a proliferação de SUVs compactos tornou a disputa muito mais acirrada. Até a própria Renault lançou outro modelo da mesma categoria, o Captur. Por isso, renovar o Duster era a meta da linha 2021, apresentada em março deste ano. Só que as medidas de isolamento social causada pela pandemia do coronavírus atrapalharam as vendas não apenas do Duster, mas de todos os automóveis vendidos no Brasil. Desde o lançamento, o SUV da Renault gradualmente tenta retomar uma maior participação no segmento. Em outubro, vendeu 2.480 unidades e ultrapassou pela primeira vez no ano a média de 2.174 unidades mensais atingida em 2019. Agora, chegou a hora de mostrar se o Duster tem potencial para reencontrar o caminho que leva aos corações e mentes (e também ao bolso) dos consumidores brasileiros. Na linha 2021 do SUV, a versão “top” Iconic CVT X-Tronic é a que cumpre a missão de estrelar as publicidades.
A plataforma do Duster permanece a mesma “herdada” do sedã Logan e do hatch Sandero, porém, todas as peças da carroceria foram redesenhadas. As dimensões cresceram poucos centímetros e as linhas ficaram mais musculosas. O ângulo do para-brisa foi reduzido e a linha de cintura ampliada, diminuindo a área envidraçada. Os faróis apresentam a assinatura luminosa característica da gama Renault, com luzes diurnas de leds em formato de “C”. O novo para-choque reforça as linhas marcantes do capô. Na lateral, o Duster tem linha de cintura mais alta e as portas receberam um novo desenho. Com bons ângulos de entrada (30 graus) e de saída (34,5 graus) e altura do solo de 23,7 centímetros, o novo Duster se propõe a superar os eventuais obstáculos. Segundo a Renault, o modelo tem um aumento de 12,5% em sua rigidez torcional, o que ajuda a encarar terrenos irregulares com tranquilidade. Entre as novidades na parte traseira estão a tampa do porta-malas e o para-choque reestilizados e, principalmente, as lanternas de leds, que lembram as do Jeep Renegade. O porta-malas, com 475 litros, é um ponto forte do modelo.
No interior, o painel foi redesenhado e o novo console central abriga saídas de ar, painel de instrumentos e a central multimídia Easy Link com tela capacitiva de 8 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay, com layout personalizável para até cinco usuários diferentes. O novo sistema de ar-condicionado digital oferece oito velocidades e opções de temperatura entre 17,5°C a 26,5°C. Pela central multimídia da versão Iconic é possível visualizar imagens das quatro câmeras do novo sistema Multiview. A configuração também incorporou alerta de ponto cego e sensor crepuscular. O assento dianteiro, que oferece ajuste de altura, recebe espumas mais longas e melhor apoio lateral, enquanto o encosto apresenta maior espessura, laterais maiores e novos apoios de cabeça e de braço.
Se esteticamente a evolução do novo Duster é inquestionável, a decisão de manter a motorização aspirada 1.6 SCe do modelo anterior não rende críticas tão favoráveis. O motor flex, que com etanol atinge a potência de 120 cavalos e o torque de 16,2 kgfm, é compartilhado com o Captur e o Nissan Kicks e ostenta um item inegavelmente “retrô” e que “entrega” sua concepção antiga – o velho “tanquinho” de gasolina para ajudar nas partidas a frio, extinto em todo “powertrain” mais recente. Ganhou uma pouco lisonjeira nota C na classificação geral do Inmetro. A novidade é a adoção da tecnologia start&stop, que aparece tanto nas versões com câmbio manual quanto nas configurações com CVT X-Tronic, agregando ainda um software de gerenciamento e dando a opção ao condutor de reproduzir seis marchas virtualmente. Há possibilidade de trocar as marchas manualmente na alavanca de câmbio – basta posicionar a manopla à esquerda.
Toda a linha Duster vem com direção elétrica, ar-condicionado manual, faróis com leds, cinto de segurança de três pontos em todas as posições, dois Isofix no banco traseiro, vidro elétrico nas quatro portas, trava elétrica com fechamento automático, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro rebatível bipartido, alarme perimétrico, tomada 12V traseira, rodas de aço de 16 polegadas e chave canivete. A versão “top” Iconic CVT X-Tronic avaliada é a mais completa e incorpora faróis de neblina, grade dianteira cromada, maçanetas na cor da carroceria, barras de teto cromadas, faróis de neblina, retrovisor externo elétrico cromado, vidros elétricos com função um toque, indicador de temperatura externa, luz de cortesia no porta-luvas e porta-malas, espelho nos dois para-sóis, volante em couro, sistema multimídia Easy Link, sensor de estacionamento traseiro com câmera, ar-condicionado automático, sistema Multiview com quatro câmeras, alerta de ponto cego, sensor de luminosidade, chave-cartão hands free, rodas de liga leve de 17 polegadas diamantadas e apoio de braço. Em termos de airbags, o Duster se limita aos obrigatórios frontais. Airbags laterais, nem como opcional.
O preço da versão Iconic parte de R$ 101.390 na cor Vermelho Vivo – um salto de 15,9% em relação aos R$ 87.490 cobrados pelo mesmo modelo em março deste ano, na época do lançamento. É fato que todos os automóveis vendidos no Brasil aumentaram seus preços nesse período – mas a maioria em percentuais menores. A cor Branco Glacier eleva o preço do Duster Iconic em R$ 700 e todas as outras cores disponíveis (inclusive o Marrom Vison do modelo testado) acrescentam R$ 1.650 à fatura.
Experiência a bordo
Maturidade interna
A disposição generosa dos espaços a bordo foi preservada na linha 2021 do Duster. O modelo permite que cinco pessoas embarquem com relativa facilidade (por ser um SUV, a altura é um tanto elevada) e se acomodem nos bancos de tecido sintético imitando couro. Uma inovação interessante e bem-vinda da linha 2021 do SUV compacto da Renault é a regulagem de profundidade na coluna de direção, que tornou muito mais fácil a tarefa de se achar uma posição agradável para dirigir. O volante é o mesmo da dupla Logan e Sandero.
O teto tem revestimento preto e ganhou novas luzes de leitura, tanto na parte frontal quanto no centro da cabine. Um detalhe que incomodava no Duster anterior, o posicionamento da tela do sistema multimídia, foi resolvido. Agora, a visualização da tela é perfeita. Com uma tela capacitiva de 8 polegadas, a nova central multimídia Easy Link tem layout personalizável. Os ocupantes podem fazer conexão via Bluetooth e visualizar informações como temperatura externa e horário direto na tela. O Easy Link também permite salvar as preferências de configuração de som e até personalizar o som das teclas.
Impressões ao dirigir
SUV de família
A direção elétrica tornou o Duster bem mais confortável para as manobras. Conforme a Renault, o esforço de manobra diminuiu 35% em relação à versão anterior. Já nas velocidades mais elevadas, o sistema entrega a desejada firmeza. Com seu motor 1.6 16V SCe. o Duster oferece acelerações progressivas, porém, sem qualquer esportividade. Quando o motorista resolve pisar fundo no pedal do acelerador, a transmissão Xtronic CVT com seis marchas simuladas até trabalha para rentabilizar ao máximo o potencial do motor, no entanto, a transmissão é lenta nas saídas e retomadas e, nas subidas, o SUV demora a embalar. O câmbio CVT é claramente voltado para o conforto de rodagem, ideal para quem prefere dirigir sem se estressar. Para os mais apressados, fazer as trocas manualmente proporciona performances mais convincentes e é útil nas ultrapassagens. Cogita-se que a Renault apresente no Brasil uma versão flex do motor 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Mercedes-Benz na Europa. Provavelmente, o novo “powertrain” estrearia primeiro no Captur, para depois chegar ao Duster.
A versão Iconic incorpora tecnologias de segurança como o ESP (controle eletrônico de estabilidade), freios ABS com AFU (Auxílio à Frenagem de Urgência) e o HSA (Assistente de Partida em Rampa), que mantém o veículo parado por até dois segundos após a liberação dos freios em subidas. Em termos suspensivos, o Duster preserva o ajuste confortável, contudo, transmite percepção de robustez quando trafega sobre pisos irregulares. A suspensão entrega um bom nível de estabilidade e absorve bem os buracos no chão. O sistema Multiview, que é de série na Iconic, exibe as imagens de quatro câmeras na tela do multimídia e facilita bastante nas manobras – além de ajudar a reforçar a percepção de modernidade a bordo.
Ficha técnica
Renault Duster 1.6 16V SCe X-Tronic CVT Iconic
Motor: quatro cilindros em linha, 1.598 cm³ de cilindrada, 16 válvulas, com 120 cavalos (etanol) e 118 cavalos (gasolina) de potências máximas a 5.500 rpm e torque máximo de 16,2 kgfm (e/g) a 4 mil rpm
Transmissão: câmbio CVT
Direção: elétrica
Freios: disco ventilado na dianteira e tambor na traseira com ABS, ESP (controle de estabilidade) e HSA (assistente de partida em rampa)
Suspensão: dianteira, independente, do tipo McPherson, traseira, eixo de torção e barra estabilizadora
Rodas/pneus: liga leve 215/60 R17
Peso: 1.279 kg
Dimensões: comprimento de 4,37 metros, largura de 1,83 metro, altura de 1,69 metro e distância de entre-eixos de 2,67 metros
Altura do solo: 23,7 centímetros
Porta-malas: 475 litros
Preço: a partir de R$ 101.390 (R$ 103.040 na cor Marrom Vison do modelo testado)
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Luiza Kreitlon/AutoMotrix
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