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 A Fábrica Nacional de Motores (FNM), conhecida popularmente como “FeNeMê”, foi inaugurada em 1942 em Xerém, distrito de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, para produzir motores aeronáuticos. Mas quando saiu o primeiro avião com motor FNM, em 1946, a Segunda Guerra Mundial já havia acabado e a demanda estava retraída. Em 1949, em uma parceria com a marca italiana Isotta Fraschini, a FNM tornou-se a primeira fabricante de caminhões no Brasil. Seu primeiro produto foi o D-7.300, com motor a diesel e capacidade para 7,5 toneladas de carga. Quando a Isotta teve problemas financeiros e deixou de fornecer componentes, deu lugar à também italiana Alfa Romeo. Em 1958, foi lançado o D-11.000, um pesado que se tornou “figura fácil” nas estradas brasileiras e marcou presença nas obras de construção de Brasília, com seu jeito abrutalhado e o som grave do motor a diesel de seis cilindros. Em 1960, a FNM lançou o automóvel JK 2000, que foi reestilizado em 1969 e renomeado como 2150. O sedã foi produzido até 1973 e tornou-se uma espécie de “sonho de consumo” dos brasileiros mais abastados, porém nunca obteve a empatia dos caminhões da marca. Em 1968, o regime militar resolveu privatizar a FNM, que foi repassada à Alfa Romeo. Em 1977, a marca italiana foi vendida à Fiat, que continuou a fabricar o caminhão pesado FNM 180 em Xerém por mais dois anos e depois passou a produzir caminhões com sua própria marca até 1985. No local da fábrica, atualmente funciona a Marcopolo Rio, unidade fluminense da encarroçadora de ônibus gaúcha. Mais de quarenta anos depois de deixar as linhas de montagem, a marca FNM voltará em breve às ruas e estradas brasileiras, agora à frente de modernos caminhões elétricos.

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            O renascimento da FNM começou em 2008, quando uma empresa carioca do ramo de mobilidade adquiriu os direitos no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para usar o nome da histórica marca brasileira – inclusive a logomarca, inspirada no clássico logotipo da Alfa Romeo. Em sua nova versão, a sigla FNM passou a significar Fábrica Nacional de Mobilidades. Sua divisão FNM Elétricos será voltada para soluções em mobilidade de alta tecnologia, com projetos de ônibus e caminhões com zero emissões. A empresa também desenvolve o sistema “RePower”, para transformação de veículos a diesel em elétricos. A proposta é produzir modelos para transporte de cargas e de passageiros que proporcionem uma logística sem poluentes, silenciosa, segura, sustentável e sem emissão de carbono.

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           Em novembro, começam a ser fabricados em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, os caminhões elétricos FNM 832, com PBT de 13 toneladas, e FNM 833, com PBT de 18 toneladas. Os irmãos e empresários gaúchos Zeca Martins e Alberto Martins, sócios da holding proprietária da FNM, atraíram a unidade industrial da empresa para a cidade, onde os caminhões serão montados em parceria com a Agrale S.A. “A Agrale está focada na modernidade da logística e do transporte limpo e já desenvolveu seus caminhões e ônibus movidos a gás metano, GNV e GNL. E agora, com essa parceria de sucesso com a FNM, vamos produzir caminhões, ônibus e tratores elétricos com tecnologias internacionais de ponta”, comemora Hugo Zattera, presidente da Agrale. Em um primeiro momento, a montagem dos caminhões será feita com a maioria dos componentes importada. A expectativa é que a parceria para montagem com empresas locais renderá frutos para a futura instalação de fornecedores na região, reduzindo os custos de produção. Os preços dos caminhões FNM ainda não foram divulgados. “A fábrica da FNM trará um novo impulso de modernidade para o Rio Grande do Sul”, prevê Zeca Martins.

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            Os novos FNM ostentam uma cabine de aspecto “vintage”, em uma releitura contemporânea dos antigos “FeNeMê” fabricados nos anos 60. O estilo dos caminhões elétricos foi desenvolvido por uma equipe própria, liderada por Celso Santos, Roberto Renner e Vicente Azevedo. A equipe contou ainda com a ilustre participação do consagrado designer automotivo paulistano Anísio Campos, morto em setembro do ano passado, aos 86 anos. Responsável por automóveis como os esportivos Puma GT DKW e Carcará e o microcarro Dacon 828, o veterano designer tornou-se um grande entusiasta do resgate da marca FNM e colaborou no desenvolvimento do visual do produto.

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           A FNM não quer adiantar muitos detalhes técnicos sobre os seus caminhões 832 e 833. O modelo com PBT de 13 toneladas tem 6,30 metros de comprimento e o com PBT de 18 toneladas tem 7,20 metros. O motor elétrico tem tecnologia norte-americana, sistema de 650 volts e gera 355 cavalos. A produção dos veículos utilizará nióbio em componentes como chassis, freios, suspensões, rodas e demais peças e estruturas, para diminuir o peso dos veículos e aumentar a resistência, a performance e a autonomia. A FNM afirma que todos os caminhões da marca serão conectados ao fabricante e às respectivas empresas operadoras. “O novo FNM é um ‘smart-truck’. Utiliza tecnologias de ponta, com tablet ligado com a TI operacional e com os sistemas de logística das empresas, incluindo monitoramento, soluções inovadoras de vídeo-telemática de câmeras anti-colisão com inteligência artificial, mudança de pista, alerta de partida de veículos à frente, alerta de motorista fumando e distraído, acelerômetro, avanço de sinal de trânsito vermelho, aviso de distância mínima dos veículos no trânsito, aviso de riscos de colisão, para-choques virtuais, telão de alta resolução na traseira, que pode transmitir imagem da câmera da frente ou anúncios, reconhecimento de sinais de tráfego, aviso de perigo de colisão com motocicletas e bicicletas e quatro câmeras – duas laterais, na dianteira e na traseira. Tudo sendo transmitido em tempo real para o centro de gestão dos frotistas e para a ‘nuvem FNM’… E com tudo pronto para se tornar um ‘caminhão autônomo’ no futuro”, explica Marco Aurélio Rozo, diretor de Tecnologia de Informação da FNM.

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            Se tecnologicamente a aposta é na modernidade, em termos de modelo de negócios, a FNM é ainda mais ousada. A empresa planeja uma disrupção total com o atual modo de operação das montadoras de veículos nacionais. Pretende trabalhar com “planilha aberta”, na qual todos os custos de produção dos veículos são apresentados – até a margem de lucro da montadora será aprovada pelos compradores. Não existirá rede de concessionárias FNM e a comercialização será direta com os operadores logísticos dos compradores, por meio de demanda pré-contratada, com pagamento antecipado. Sem concessionárias, a assistência técnica também será diferente. Como os caminhões da FNM estarão todos online com a fábrica, quando for necessário a assistência técnica da fabricante irá até o caminhão para resolver, direto nas garagens dos frotistas. As pré-vendas já estão acontecendo e, segundo a empresa, o interesse pelo produto é surpreendente. “As montadoras de caminhões instaladas no Brasil estão ‘agarradas’ ao diesel e suas matrizes determinam que aqui será o último país a evoluir para os modelos elétricos. Mas a nova FNM pensa diferente e entrega uma logística segura, silenciosa e conectada, que traz economia para os seus clientes, não opera com revendas, abre todos os custos e margens e produz sob demanda. A FNM é fora do normal”, sintetiza Zeca Martins. A FNM ainda não anunciou oficialmente a sua equipe, entretanto o marketing está a cargo de Rubem Roberto Duailibi, ex-DPZ Publicidade, e o departamento comercial é coordenado por Marcos Pettinati, ex-Dacon Veículos.

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Por: Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação

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1 COMENTÁRIO

  1. Matéria excelente! Um grande avanço da indústria brasileira de caminhões, com destaque para a localização da fábrica e para a direção do marketing a cargo do brilhante Rubem Duailibi que dispensa apresentações. Parabéns aos empresários! Sucesso!

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