A Kia já viveu melhores dias no Brasil. Em 2019, foi a décima sétima marca mais vendida do país, com 9.271 emplacamentos. Ficou 21% abaixo de 2018, quando vendeu 11.720 carros. Bem pouco para quem já comercializou 77.168 automóveis em um único ano no mercado nacional – em 2011, o melhor ano da história da fabricante sul-coreana no país, quando a redução nas tarifas de importação ajudou a conquistar a posição de décima primeira marca mais vendida. Como não tem fábrica no Brasil, os preços de seus modelos foram afetados com as recentes elevações do valor do dólar. Para 2020, a marca aposta na estabilização da cotação da moeda norte-americana, pretende retomar o crescimento no Brasil e planeja vender 12 mil unidades – o que representaria uma evolução de 30% nas vendas anuais. Boa parte das justificativas para esse otimismo estão depositadas no Rio, que chega em fevereiro às concessionárias nacionais. Importado do México, o hatch será oferecido por R$ 69.990 na versão LX e por R$ 78.990 na EX.
A vinda do Rio ao mercado brasileiro está prometida há tempos – tanto que o modelo foi apresentado nas edições do Salão do Automóvel de São Paulo em 2016 e 2018. Com ele, a Kia passa atuar no segmento de hatches compactos, que representou 27,8% das vendas nacionais de automóveis em 2019 – pouco mais de 738 mil veículos. O novo carro pretende disputar os consumidores dos modelos mais equipados do segmento, que custam acima de R$ 65 mil. É onde se posicionam concorrentes como o Volkswagen Polo, o Peugeot 208, o Citroën C3 e o Toyota Yaris e também as versões mais equipadas do Chevrolet Onix, do Hyundai HB20 e do Fiat Argo. As projeções da Kia podem até parecer modestas: emplacar 2.400 unidades anuais do Rio, ou duzentas por mês. Mas prever metas baixas para conseguir superá-las é um “recurso cênico” bastante utilizado no meio automotivo. Para ajudar, está prevista uma expansão nos pontos de vendas no país – dos oitenta atuais, a intenção é chegar a noventa e cinco no final de 2020. “O Rio é um modelo que tem tudo a ver com o Brasil. Seu nome remete, mesmo que não intencionalmente, ao Rio de Janeiro, cidade-símbolo do nosso país e referência em belezas naturais, musicalidade e estilo de vida”, observa José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil.
O Rio é um dos modelos mais vendidos da história da marca sul-coreana em todo o mundo, com mais 6,7 milhões de unidades comercializadas a partir de 2000. Sua quarta geração foi projetada nos estúdios de Design da Kia na Europa e nos Estados Unidos, em colaboração com a base de Design de Namyang, na Coreia do Sul. O estilo é jovial e instigante, bem dentro do elevado padrão da Kia, que é presidida desde 2012 pelo alemão Peter Schreyer, um dos designers automotivos de maior prestígio no mundo. Antes de entrar na sul-coreana, em 2006, Schreyer trabalhava no Grupo Volkswagen, no qual ajudou a criar o Audi TT, considerado um dos ícones do estilo automotivo contemporâneo. O exterior do Rio exibe linhas firmes e marcantes, em um estilo que consegue ser a um só tempo sofisticado e esportivo. Na frente, a indefectível grade “nariz de tigre” da marca conta com acabamento black piano na versão EX e se une aos faróis para conferir uma aparência agressiva. A traseira tem aspecto dinâmico e traz lanternas finas e elegantes.
Fabricado na planta de Pesquería, no México, o hatch tem 4,06 metros de comprimento, 1,45 metro de altura e 1,725 metro de largura, com entre-eixos de 2,58 metros, com porte similar ao dos principais concorrentes. As versões LX e EX vêm equipadas com rodas de liga leve de 15 polegadas, com pneus 185/65. Nas duas configurações, o hatch conta com o mesmo motor 1,6 litro flex, com comando duplo variável (Dual CVVT), desenvolvido originalmente para o Hyundai HB20 – as marcas Hyundai e Kia pertencem ao mesmo grupo. Com etanol, desenvolve até 130 cavalos de potência a 6 mil rpm e 16,5 kgfm de torque a 4.500 rpm. Com gasolina, atinge até 123 cavalos de potência a 6 mil rpm e 16 kgfm de torque a 4.700 rpm.
De série, os recursos de segurança de ambas as versões do Rio incluem câmera de ré com gráfico auxiliar de manobra e visor no sistema multimídia, direção elétrica progressiva, airbags frontais, freios com ABS e EBD, controles eletrônicos de estabilidade (ESC) e de tração (TCS), sistema de gerenciamento de estabilidade veicular (VSM), sensor de monitoramento de pressão dos pneus (TPMS), controle de frenagem em curvas (CBC), assistente de partida em rampa (HAC), acelerador tipo Drive by Wire (eletrônico, sem uso de cabo), acendimento automático dos faróis, sistema imobilizador de condução, sistema Isofix, destravamento automático das portas em caso de colisão e acionamento elétrico para vidros, retrovisores e travas das portas.
Não há diferenças mecânicas ou de carroceria entre as duas versões do Rio – o nome de cada uma sequer aparece na carroceria. LX e EX são identificados apenas por detalhes estéticos no miolo da grade e pelos equipamentos. Ambas têm garantia de cinco anos ou 100 mil quilômetros. A previsão é que 80% das vendas sejam da versão mais básica e 20% da “top”. A EX adiciona ar-condicionado automático digital com filtro antipólen (no LX é manual), bancos revestidos em couro (no LX é em tecido), volante e alavanca de transmissão revestidos em couro, console central com descansa-braço e porta-objetos, porta USB para o banco traseiro, revestimento dos apoios de braço em soft touch nas quatro portas, vidros com comando elétrico nas portas frontais com sistema “one touch” e antiesmagamento para o motorista e volante multifuncional com controles do sistema de entretenimento, comando de voz e piloto automático. Externamente, a EX acrescenta retrovisores elétricos com rebatimento e setas integradas, lanternas de posicionamento dianteiras em leds, faróis com luz de assistência de manobra e luz diurna de navegação (DRL) em leds. Alguns botões sem função junto à alavanca de câmbio denunciam que as versões do Rio destinadas ao mercado brasileiro foram “aliviadas” de equipamentos de série e opcionais, para ganhar competitividade em termos de preços. Um deles é o start-stop, disponível no Rio vendido no México e que não é oferecido no Brasil.
Experiência a bordo
Jeito sul-coreano de ser
A cabine do Rio está entre as mais espaçosas da categoria. O estilo é sóbrio, elegante e sem muitas firulas, bem característico dos modelos da Kia – tudo bastante prático, com boa visualização e ergonomia decente. Os bancos da frente foram desenhados para proporcionar conforto, com design fino porém bem acolchoado. O acabamento é de bom padrão para o segmento. O console central oferece uma bandeja de dois níveis para acomodar melhor eventuais apetrechos, como smartphones.
O sistema multimídia com tela de 7 polegadas sensível ao toque oferece conectividade com smartphones por meio do Android Auto e do Apple CarPlay, com Bluetooth e reconhecimento de voz. O volante multifuncional, que inclui controles de chamada e do sistema de som, conta apenas com ajuste de altura, não de profundidade. E o computador de bordo poderia ser mais completo – não fornece informação de consumo instantâneo.
Primeiras impressões
Dinamicamente Consistente
Guarulhos/SP – A avaliação do Kia Rio para a imprensa automotiva brasileira foi feita em um “test-drive” nas estradas da periferia do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Logo na primeira oportunidade de acelerar um pouco mais fundo, tornou-se evidente que o ronco do motor é grave e esportivo e o giro sobe rápido. O carro retoma velocidade rapidamente e transmite uma agradável sensação de consistência do conjunto, do tipo que costuma ser encontrado em modelos germânicos. Embora os múltiplos radares de velocidade meticulosamente espalhados pela região não tenham permitido maiores radicalidades, ficou claro que o hatch mexicano é ágil e “aponta” bem nas curvas, graças à direção elétrica bastante direta e bem balanceada. Deu até vontade de levar para um autódromo para poder acelerar de verdade.
No Rio, o casamento de câmbio e motor é harmônico. As trocas são feitas sem trepidações ou “delays” e não parece faltar força em nenhum giro. Como não há opção de “paddle shifts” no volante, caso o motorista prefira acionar as marchas manualmente, é preciso trazer a alavanca do câmbio mais para perto e empurrá-la para frente para subir as marchas ou para trás para reduzi-las. Em velocidades de cruzeiro, com baixo giro, o nível de ruído do motor é impressionantemente baixo. Em breve, para tornar o produto ainda mais esportivo e dinâmico, a Kia promete uma outra versão EX, equipada com rodas de 17 polegadas e pneus 205/45, cujo preço ainda não está definido. Certamente essa nova versão será ainda mais instigante e “esperta” nas curvas.
Ficha Técnica
Kia Rio LX/EX
Motor: 1,6 litro, 1.591 cm3, quatro cilindros, flex, injeção eletrônica sequencial, DOHC, 16 válvulas com comandos variáveis D-CVVT
Taxa de compressão 11,0:1
Potência máxima: 123 cavalos com gasolina / 130 cavalos com etanol a 6 mil rpm
Torque máximo: 16,0 kgfm a 4.700 rpm com gasolina / 16,5 kgfm a 4.500 com etanol
Transmissão: automática de 6 marchas
Suspensão: dianteira tipo McPherson, independente, molas helicoidais e amortecedores a gás. Traseira com eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores a gás
Direção: elétrica
Tração: dianteira
Freios: dianteiros cm discos ventilados e traseiros com tambor 8”
Rodas e pneus: liga leve 6J15 185/65R15
Carroceria: hatch para cinco passageiros, monobloco em aço estampado e alumínio
Dimensões: 4,06 metros de comprimento, 1,72 metro de largura, 1,45 metro de altura e 2,58 metros de entre-eixos
Peso em ordem de marcha: 1.141 kg
Volume do porta malas (VDA): 325 litros/1.103 litros (com os bancos traseiros rebatidos)
Volume do tanque de combustível: 45 litros
Preços: R$ 69.990 na versão LX e R$ 78.990 na EX
Por: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Agência AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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