O Fiat Cronos foi lançado em fevereiro do ano passado, mas ainda busca uma personalidade própria. Apesar do belo design italiano, o sedã compacto derivado do hatch Argo é apenas o trigésimo sétimo automóvel mais vendido do país, com 18.800 unidades emplacadas de janeiro a outubro. Em seu segmento, ficou atrás do Chevrolet Prisma/Onix Plus, do Ford Ka sedã, do Volkswagen Virtus, do Hyundai HB20S, do Volkswagen Voyage, do Toyota Yaris sedã e do Renaut Logan. Para tornar o Cronos mais atraente e competitivo, a principal novidade da linha 2020, apresentada em agosto, é a versão HGT. Apesar de o motor ser o velho conhecido 1.8 flex Etorq de 139 cavalos, um aspirado sem maiores pretensões dinâmicas, a estética esportiva é o forte da nova configuração. A expectativa do marketing da Fiat é que o visual ostensivamente dinâmico do Cronos HGT, cheio de adereços típicos dos modelos “envenenados”, reforce a percepção de esportividade e ajude a “puxar” as vendas de toda a linha do sedã. Não por acaso, a nova configuração topo de gama foi imediatamente promovida a protagonista das campanhas publicitárias do Cronos.
A configuração HGT é mecanicamente baseada na Precision 1.8 AT. Além do motor 1.8 flex Etorq com potência de 139 cavalos a 5.750 rpm e torque de 19,3 a 3.750 rpm – o mesmo que, com adaptações, movimenta versões da picape Fiat Toro e do Jeep Renegade –, ambas partilham ainda o câmbio automático de 6 velocidades. Diferentemente do Argo HGT, que traz um ajuste mais firme de direção e suspensão, o sedã não recebeu qualquer modificação. De acordo com a Fiat, os compradores de sedãs preferem priorizar o conforto e não apreciam suspensões mais rígidas, mesmo que possam significar uma melhor performance dinâmica. Como a própria marca italiana admite, o apelo da versão HGT do Cronos é puramente visual.
Assim, as diferenças entre as configurações Precision e HGT se limitam aos detalhes estéticos – como se a HGT fosse uma Precision com “tunning” de fábrica. No caso do sedã, o estilo ficou ainda mais agressivo que no Argo HGT, principalmente por conta do nada discreto aerofólio preto brilhante ostentado na tampa do porta-malas, exclusivo da versão com bagageiro protuberante. As molduras em black piano na grade e tomada de ar inferior que tomam o lugar dos habituais apliques cromados, os emblemas da Fiat escurecidos, as capas dos espelhos em preto e as estilosas rodas negras de 17 polegadas, calçadas com pneus Pirelli Cinturato de perfil baixo (205/45), deixaram o sedã com um jeito mais “malvado”.
A cabine é basicamente a mesma da Precision, mas com forração preta no teto. E os emblemas internos da Fiat também trocam o vermelho pelo preto. Como ocorre na Precision, o ponto alto do Cronos HGT são os itens de série. Lá estão o ar-condicionado automático digital, a tela multimídia de sete polegadas com Android Auto e Apple CarPlay, o sistema de monitoramento de pressão dos pneus, os controles eletrônicos de estabilidade e de tração, o assistente de partida em rampa, a direção elétrica, o alarme, o computador de bordo e vidros, travas e retrovisores elétricos.
O Cronos HGT custa R$ 78.490, apenas R$ 3 mil a mais que a versão Precision. No entanto, os opcionais disponíveis são muitos: teto preto (R$ 500), bancos de “couro ecológico” (R$ 1.500), câmera de ré (R$ 700), airbags laterais (R$ 2.500) e pacote composto por partida sem chave, retrovisor com rebatimento elétrico e iluminação periférica, sensores de chuva e crepuscular e retrovisor eletrocrômico (R$ 2 mil). Com todos os opcionais, inclusive pintura perolizada, o preço ultrapassa os R$ 88 mil. Se a proposta é tornar o Cronos mais competitivo e ganhar vendas, incluir de série ao menos uma parte do que é oferecido como opcional talvez seja uma boa ideia.
Experiência a bordo
Sem excessos
A esportividade ostensiva do exterior o Cronos HGT é bem atenuada no interior. As forrações do teto e das colunas e a faixa central do painel são em preto – no Argo HGT, a faixa é vermelha. De resto, o padrão é similar ao do Cronos Precision. Os revestimentos são simples, contudo o interior do sedã transmite sensação de qualidade em virtude dos padrões de textura modernos e de bom-gosto. Além disso, a montagem é caprichada. A central multimídia de 7 polegadas sensível ao toque, que mais parece um tablet, é compatível com plataformas Android Auto e Apple CarPlay e tem uso bem intuitivo. Há conectividade via Bluetooth e sistema de reconhecimento de voz.
O aproveitamento de espaço no Cronos é bom. Embora a posição de dirigir seja um pouco mais elevada do que o normal nos sedãs, é fácil de se achar uma posição agradável, pois a coluna de direção é regulável em altura e em distância. O entre-eixos de 2,52 metros é o mesmo do Argo e o espaço interno no banco traseiro não é ruim para pernas e cabeças. Um quinto ocupante evidencia a pequena largura do assento, entretanto, tem direito a cinto de três pontos e encosto de cabeça. O porta-malas é um destaque do Cronos. Com 525 litros de capacidade, supera alguns sedãs médios. O acesso é fácil graças à tampa com 97 graus de ângulo de abertura. E, como o banco traseiro é bipartido, ainda permite ampliá-lo em diferentes configurações.
Impressões ao dirigir
A aparência e a essência
Há seis meses, a Fiat anunciou um grande investimento na fábrica mineira de Betim para produzir motores turbo da família Firefly. A previsão é de que o 1.0 tricilíndrico e o 1.3 de quatro cilindros sejam turbinados a partir do início de 2021. Até lá, cabe ao veterano 1.8 flex Etorq do Cronos HGT a tarefa de dar esportividade à linha Argo/Cronos. O motor não é fraco e dá conta do recado, mas não entrega uma performance que possa ser classificada como empolgante. Os 139 cavalos de potência e 19,3 kgfm de torque são convincentes e dão desenvoltura ao modelo. No entanto, o torque máximo só aparece em 3.750 rotações – um modelo turbo como o Volkswagen Virtus oferece um torque pouco maior, de 20,4 kgfm, contudo já disponível já em duas mil rotações, o que colabora nas acelerações e nas retomadas.
O câmbio automático de 6 marchas quase sempre faz trocas rápidas, porém as mudanças parecem estar ajustadas para ajudar no consumo. Mesmo quando o motorista abusa do pedal da direita, a aceleração é progressiva – um nível de “civilidade” inusitado em um sedã de aspecto tão esportivo. Não há sequer um modo Sport na transmissão para fazer o “powertrain” render mais. Ao menos as borboletas no volante permitem ao motorista controlar as trocas das marchas para tentar obter uma performance mais dinâmica. Já no trânsito urbano, o sistema start/stop dá sua contribuição para reduzir o consumo ao desligar o motor quando o motorista para. Assim que solta o freio, o motor religa de forma elegante, sem trepidações.
Se a Fiat não levou para o sedã a suspensão com acerto esportivo, com molas, amortecedores e barra estabilizadora específicos adotados no Argo HGT, os pneus mais largos e baixos ajudam a ganhar aderência, sem comprometer tanto o conforto. Como o acerto de suspensão do Cronos já era interessante, com um correto equilíbrio entre conforto e estabilidade, foi otimizado pelos pneus. A versão esteticamente esportiva do sedã da Fiat encara bem as curvas rápidas. O controle eletrônico de estabilidade, que é de série, ajuda a manter o carro “na mão” – mesmo quando o motorista se deixa levar pelo visual dinamicamente inspirador do Cronos HGT e se empolga no acelerador.
Ficha Técnica
Fiat Cronos HGT
Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.8, 16V, injeção eletrônica, flex
Potência: 139/135 cavalos a 5.750 rpm com etanol/gasolina
Torque: 19,3/18,8 kgfm a 3.750 rpm com etanol/gasolina
Câmbio: automático de 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: Independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Rodas e pneus: rodas de liga leve 6,5” x 17”; pneus 205/45 R17”
Dimensões: 4,36 metros de comprimento, 1,72 metro de largura, 1,51 metro de altura e 2,52 metros de entre-eixos
Tanque de combustível: 48 litros
Porta-malas: 525 litros
Peso: 1.271 kg
Preço base: R$ 78.490. Com todos os opcionais e em cor perolizada chega a R$ 88.040
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