Sedãs são carros que privilegiam o conforto, normalmente preferidos por pessoas mais velhas, que apreciam um ambiente interno sóbrio e discreto, com acesso fácil, combinado a um bom espaço para as bagagens. Certo? Nem tanto! A Volkswagen resolveu perverter a tradicional receita dos sedãs com o lançamento do Jetta GLI, importado do México e que chegou ao Brasil em junho deste ano para suceder a antiga versão Highline. A configuração esportiva do três volumes até oferece a praticidade das quatro portas e um porta-malas generoso, com seus 510 litros de capacidade – mas as concessões à velha cartilha dos sedãs ortodoxos ficam por aí. Todo o resto da “receita” parece ter sido tirada de um cupê esportivo, dos detalhes internos e externos, passando pela configuração da suspensão e do câmbio até chegar ao imponente motor 2,0 litros 350 TSI, com quatro cilindros e 16V, comando duplo variável, turbo e injeção direta de gasolina, que entrega 230 cavalos e 35,7 kgfm. É exatamente igual ao do novo Tiguan e do Golf GTI. A denominação 350 TSI refere-se ao em Newton/metro (Nm) (350) e ao fato de ser um turbo com injeção direta de gasolina – o 250 TSI que move o restante da linha Jetta é bicombustível.
A sigla GLI significa Gran Luxury Injection e nasceu nos anos 80, para sedãs refinados tecnicamente e com a pegada esportiva dos hatches GTI. Para deixar de ser visto apenas uma alternativa maior e mais conservadora ao Virtus, como alguns costumam definir a linha Jetta, a versão GLI ganhou para-choque dianteiro redesenhado e elegante spoiler sobre a tampa traseira, ladeada pelas lanternas idênticas às das outras versões do sedã. Os faróis trazem dois canhões de leds com controle automático dos fachos e luzes diurnas que contornam os conjuntos, com uma “assinatura visual” diferenciada em relação às versões com motor 1.4 turbo flex. Mas o que realmente rouba a cena no visual externo são as rodas aro 18 com pneus mais largos e baixos (225/45) e com as pinças dos freios pintadas de vermelho aparecendo dentro delas, a nova grade com o característico filete vermelho, o para-choque com saia aerodinâmica e as duas vistosas ponteiras do escapamento esportivo, uma de cada lado. Sob qualquer ângulo que se observe, algo entrega que se trata da versão esportiva do sedã. Detalhe curioso é a ausência do nome do sedã – apenas a sigla GLI, nos emblemas dos para-lamas frontais e na tampa do porta-malas.
Não é apenas no motor que o GLI se diferencia dos outros Jetta. Nesta geração, é a única versão que tem suspensão traseira independente multilink. Os outros equipamentos diferenciais da versão mais relevantes são a função Auto Hold, que mantém o freio eletrônico acionado em paradas curtas, e os eficientes alto-falantes da marca Beats – os mesmos da série Beats do Polo. O quadro de instrumentos traz a mesma tela configurável de 10 polegadas do Jetta R-Line, também utilizada no Polo e no Virtus. A central multimídia de 8 polegadas com GPS e as interfaces Android Auto e CarPlay também é a mesma.
Apesar de compartilhar com o Golf a plataforma MQB, o Jetta tem 5 centímetros a mais no entre-eixos (2,68 metros) e 43 centímetros a mais no comprimento (4,70 metros). Na prática, a diferença é que, no Jetta, os passageiros do banco traseiro ficam menos oprimidos e podem até cruzar as pernas. Por dentro, muitas partes com revestimentos emborrachados, montagem de alto padrão e um cuidado nos detalhes. Há quadro de instrumentos digital, central multimídia com tela sensível ao toque com 8 polegadas, sistema de som da marca Beats e iluminação da cabine com dez cores. O volante de base reta e aro mais grosso, com encaixe anatômico para as mãos, é emprestado do Golf GTI, assim como o câmbio automático de dupla embreagem com 6 marchas. Os bancos esportivos têm abas maiores e ajuste elétrico para o motorista, com revestimento de couro perfurado com costura pespontada vermelha. No console central, é possível escolher entre quatro modos: Eco, Normal, Sport e Individual. Evidentemente, o Eco é para quem quer economizar e o Sport, para quem busca diversão. Quem quiser pagar um pouco mais, pode levar o teto solar – o opcional, porém, acrescenta R$ 4.990 ao preço do sedã, que parte de R$ 144.990. A pintura metálica acrescenta R$ 1.480 à fatura.
Experiência a bordo
Magia dos detalhes
Coerentemente com a aparência externa, tudo no interior do Jetta GLI deixa explícita a proposta esportiva do sedã. O acabamento é simples, porém, sem falhas. Um destaque evidente são os diversos detalhes no painel, no tablier, no console, nos bancos com costura vermelha, nas portas e até nas soleiras das portas, lembrando ao visitante de que esse não é um sedã comum. Em alguns casos, até de forma um tanto espalhafatosa – no entanto, esse conceito varia de acordo com o gosto de cada um. Quem viaja à frente tem ar-condicionado digital bizona, entretanto, a Volkswagen ficou devendo saídas de ar para a traseira.
O motorista tem justificáveis privilégios, como ajuste elétrico do banco com memórias de posição. Atrás, os encostos de cabeça são costurados e não permitem grandes ajustes. Nestes tempos intensamente conectados, entradas USB extras para os passageiros do banco traseiro seriam mais do que bem-vindas. O porta-malas oferece bons 510 litros, mas as alças da tampa invadem o recinto e comprometem um pouco o aproveitamento do espaço.
Impressões ao dirigir
Impacto multisensorial
Tudo no Jetta GLI é feito para impressionar. E, de fato, muita coisa impressiona mesmo. Para começar, basta apertar o botão de partida e um ronco encorpado domina o ambiente. No console central, o motorista pode escolher entre quatro personalidades (Eco, Normal, Sport e Individual). É evidente que a tendência de quem testa é optar pela configuração mais esportiva – com isso, a direção fica mais firme e as trocas de marchas se tornam mais rápidas. Só que o consumo sobe de forma igualmente veloz. Quando se está com pouco combustível, a opção Eco é mais prudente e fortemente recomendável. Graças ao “powertrain” vigoroso e aos quatro modos de direção, torna-se divertido fazer o Jetta GLI deixar de ser sedã familiar e se tornar um furioso esportivo em instantes, embora o modelo apresente algum “turbo lag” – o turbocompressor às vezes demora a entrar em ação. Porém, sobra força sempre. Afinal, o motor 2.0 350 TSI entrega 80 cavalos a mais do que os 1.4 250 TSI das demais versões.
A suspensão traseira independente multilink torna o desempenho em curvas de alta velocidade bem mais confiável, embora de um jeito mais suave em relação ao Golf GTI, que utiliza conjunto suspensivo traseiro similar. No limite, a tendência é sair de dianteira nas curvas. Em mudanças bruscas de direção, a traseira pode oscilar um pouco. Em ambos os casos, são sempre situações facilmente controláveis e que só surgem realmente acima das velocidades recomendáveis. A direção é corretamente progressiva, firme e direta nas velocidades mais elevadas e bastante suave nas manobras de estacionamento. O câmbio de dupla embreagem amplia a agilidade e permite ao sedã alcançar os 100 km/h em pouco mais de 6,5 segundos. E é possível ultrapassar os 200 km/h com um conforto a bordo que outros sedãs não entregam aos 100 km/h. Em resumo, o Jetta GLI é um sedã surpreendente e empolgante, bem gostoso de se dirigir. Um daqueles veículos capazes de conquistar paixões entre quem aprecia pisar forte no acelerador.
Ficha técnica
Volkswagen Jetta GLI
Carroceria: sedã de quatro portas com 4,71 metros de comprimento, 1,80 metro de largura, 1,47 metro de altura, 2,68 metros de entre-eixos.
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16V, turbo, comando duplo variável, 1.984 cm3
Potência: 230 cavalos a 4.700 rpm
Torque: 35,7 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático de dupla embreagem, 6 marchas, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), multilink (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
Direção: elétrica
Rodas e pneus: liga leve, 225/45 R18
Peso, 1.432 kg
Tanque, 50 litros
Porta-malas, 510 litros
Preço: R$ 144.990. Com os opcionais de teto solar (R$ 4.990) e cores metálicas (R$ 1.480), como o cinza presente no modelo testado, chega a R$ 151.460.
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