Um hatch subcompacto, leve, feito para ser mais barato e para gastar menos combustível que os hatches compactos tradicionais. Uma marca com longa experiência em vender modelos compactos, grande capacidade de produção e uma ampla rede de concessionárias espalhadas por todo o país. Quando o Fiat Mobi foi lançado, em abril de 2016, essa “receita” parecia ideal para gerar um automóvel capaz de disputar a liderança do ranking nacional de vendas. Mas não foi o que aconteceu, e o Mobi nunca frequentou os primeiros lugares do ranking. Em 2019, está em décimo quarto lugar, com as 16.576 unidades vendidas de janeiro a abril, média de 4.144 unidades mensais. Um dos motivos que impediram que o Mobi se tornasse um “best seller” foi o motor. Na época do lançamento, a única opção era o veterano motor 1.0 8V de 73/75 cavalos e torque de 9,5/9,9 kgfm com gasolina/etanol – o mesmo que, desde a virada do século, moveu as versões básicas do Palio e do Uno. Sete meses após a estreia do modelo, o moderno motor tricilíndrico 1.0 Firefly, com potência de 72/77 cavalos e torque de 10,4/10,9 kgfm com gasolina/etanol, chegou à versão Drive – todavia, o impacto do lançamento já havia passado. Se o Mobi tivesse sido lançado já com o motor Firefly, talvez sua trajetória fosse diferente.
Outra questão controversa que acompanha o Mobi desde o lançamento diz respeito à estética. Na estreia do subcompacto, a Fiat destacou o design como um dos pontos altos. Contudo, ao contrário do Uno, cujo estilo “round square” transmite inegável jovialidade, ou do Argo, com seu aspecto vigoroso e esportivo, tipicamente italiano, a aparência do Mobi não obteve um impacto tão positivo. Na dianteira, faróis e lanternas são grandes e formam um conjunto de aparência quase rústica, singular em modelos desse porte. Na traseira, lanternas um tanto hiperdimensionadas emolduram a tampa do porta-malas feita em vidro preto – recurso usual em eletrodomésticos, mas que ainda causa estranheza em automóveis.
A versão 1.0 Drive é a mais equipada da linha Mobi e começa em R$ 44.990 na versão manual ou em R$ 47.590 com o câmbio automatizado GSR. Entre os itens de série mais relevantes da versão estão o banco traseiro rebatível com duas posições para o encosto, o comando interno de abertura do porta-malas e da tampa do tanque de combustível, o computador de bordo, o console central com porta-objetos e porta-copos, a direção elétrica com função City, o controle eletrônico da aceleração Drive by Wire, a sinalização de frenagem de emergência ESS, espelho no para-sol do motorista e do passageiro, os faróis com máscara negra, o follow me home, o sistema de partida a frio sem tanque auxiliar de gasolina, o limpador, o lavador e o desembaçador do vidro traseiro, o quadro de instrumentos com conta-giros, a iluminação a leds e o display digital de 3,5 polegadas, os retrovisores externos com comando interno mecânico, os vidros elétricos dianteiros one touch, as travas elétricas nas quatro portas e o volante com regulagem de altura.
Os opcionais são disponibilizados por meio de kits. O Kit Tech custa R$ 4.060 e inclui chave canivete com telecomando para abertura e fechamento das portas e dos vidros, faróis de neblina, alarme antifurto, sensor de estacionamento traseiro, banco do motorista com regulagem de altura, console de teto com espelho auxiliar, personalização interna, rodas de liga leve 5.5 x 14” mais pneus com baixa resistência a rolagem 175/65 R14, retrovisores externos elétricos com sistema Tilt Down mais setas de direção integradas e banco traseiro bipartido. Há também o Kit Connect, que custa R$ 1.650 e incorpora rádio Connect, volante multifuncional com comandos de mídia/telefone, predisposição para rádio, quadro de instrumentos em TFT com computador de bordo A e B. Já o Kit Live On consiste em sistema de conectividade via Bluetooth com rádio e aplicativo para smartphones com sistema IOS e Android – inclui volante com comandos do rádio/telefone, suporte retrátil e entrada USB para carregamento, predisposição para rádio, quadro de instrumentos em TFT com computador de bordo. Custa R$ 1.650.
Dependendo dos kits e equipamentos, o preço do Mobi Drive pode ultrapassar o Argo mais básico – a versão Drive com o mesmo motor 1.0 Firefly –, que começa em R$ 51.490. Talvez seja esse o grande obstáculo para o crescimento nas vendas do Mobi – a concorrência interna do Argo, um hatch bem mais espaçoso, com um porta-malas maior (trezentos litros no Argo ante 215 litros no Mobi), que não sai tão mais caro assim. O fato é que cabe ao Argo o lugar de automóvel mais vendido da Fiat, com 23.076 unidades emplacadas no primeiro quadrimestre de 2019, média de 5.769 emplacamentos mensais.
Um quesito no qual o Mobi Drive está “bem na foto” é o consumo. Segundo os números do Inmetro para o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, a versão Drive do Mobi percorre 9,6 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada com etanol e 13,7 km/l na cidade e 16,1 km/l na estrada com gasolina, o que lhe garantiu um B na Comparação Relativa na Categoria e um A na Comparação Absoluta Geral.
Experiência a bordo
Sem folgas
As portas do Mobi até têm uma abertura ampla – são 75 graus –, mas a altura da porta traseira – mais baixa, em virtude do caimento do teto – dificulta o acesso. Falta espaço no habitáculo, principalmente para os ocupantes do banco traseiro. Na dianteira, pessoas mais corpulentas podem se sentir um pouco oprimidas. Levar três passageiros atrás pode até ser possível – porém, é um má ideia. Além disso, pessoas com mais de 1,75 metro no banco traseiro já raspam a cabeça no teto – e os espaços para as pernas também são exíguos.
O Mobi Drive tem poucos comandos e todos de leitura fácil e uso intuitivo. Os plásticos rígidos estão por toda parte e é possível encontrar algumas rebarbinhas nos acabamentos. O aspecto geral é simples, no entanto, o design se esforça para emprestar alguma modernidade ao ambiente. A direção é elétrica, o que representa uma vantagem em relação às versões com motor de quatro cilindros, que têm direção hidráulica. O isolamento acústico não é dos melhores, mas o ar-condicionado funciona bem.
Impressões ao dirigir
Pequeno urbanóide
Por fora, só o emblema “Drive” na tampa traseira de vidro denuncia a diferença. Porém basta girar a chave de ignição para surgir o ruído característico dos motores de três cilindros – um som mais metálico e agudo do que nos quatro cilindros. O motor 1.0 tricilíndrico consegue mover os 945 quilos da versão Drive do Mobi certa agilidade. O comportamento é notavelmente mais “esperto” que os das configurações equipadas com o veterano motor de quatro cilindros. O Mobi Drive responde mais rapidamente às solicitações feitas sobre o pedal direito quando os giros do motor são elevados. Contudo, como a proposta do Mobi é explicitamente urbana, reações mais contidas fazem parte do contexto. Retomadas um pouco mais vigorosas demandam reduções de marchas para que se atinja o torque máximo, que aparece pouco acima das 3 mil rpm.
A direção elétrica facilita a vida e torna a condução muito menos cansativa no “anda e para” do trânsito urbano. A direção tem o peso corrreto – e a função City reduz os esforços para manobras em baixas velocidades. O câmbio do Mobi é um tanto “mole” e poderia ser mais impreciso nos engates. A suspensão é macia e privilegia o conforto, dentro do padrão da Fiat. Se o motorista não abusar do pedal do acelerador, o carrinho faz bem curvas. Quando se acelera um pouco mais nos trechos sinuosos, as rolagens de carroceria são perceptíveis. Para quem tem garagens apertadas, uma “praga” comum nos prédios modernos, o tamanho do Mobi é uma vantagem: é um carrinho fácil de colocar em qualquer vaga.
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