A Volkswagen do Brasil começou a importar o novo Jetta do México há seis meses, em outubro do ano passado, com um objetivo claro – brigar pela liderança entre os sedãs médios. Há tempos o segmento é dominado no mercado nacional pelo Toyota Corolla, seguido de longe por Honda Civic e Chevrolet Cruze – e o modelo da marca alemã, em suas gerações anteriores, jamais ameaçou esse trio. A sétima geração do sedã médio da Volkswagen desembarca em três versões, todas com o mesmo motor 1.4 TSI flex, produzido na cidade paulista de São Carlos e enviado para a fábrica mexicana de Puebla, antes de voltar ao Brasil. A mais básica é a 250 TSI, que sai por R$ 99.990, enquanto a intermediária é a 250 TSI Comfortline, a R$ 109.990. Mas é a “top” 250 TSI R-Line, que sai por R$ 119.990 e reúne os atributos para enfrentar o que os concorrentes têm de melhor – ou seja, as versões topo de linha dos sedãs médios das marcas generalistas.
O desenho do novo Jetta se esforça para não ser mais apenas uma “versão sedã do Golf” e tenta valorizar uma personalidade própria. O estilo é o mesmo expresso nos lançamentos mais recentes da marca, como o Polo, o Virtus, o Tiguan e o T-Cross. As superfícies planas parecem sobrepostas como se fossem entalhadas, o que reforça o aspecto de força e robustez. O design pode parecer meio previsível para alguns, mas o novo Jetta tem a chamada “family face” e é indisfarçavelmente um Volkswagen. Como diferenciais externos em relação ao restante da linha Jetta, a versão R-Line traz a grade dianteira em preto brilhante, com uma barra cromada na parte superior, e emblemas alusivos à configuração na grade, nas laterais dos para-lamas dianteiros e nas soleiras das portas, além das rodas de liga leve exclusivas.
Se na aparência as diferenciações entre as versões são sutis, é em termos de equipamentos que a R-Line se justifica. Além do bom pacote já incluso na versão Comfortline – ar-condicionado com duas zonas, seis airbags, controle de estabilidade e tração, diferencial com bloqueio eletrônico, revestimento em couro sintético, sistema multimídia com tela “touch” de 8 polegadas com espelhamento de celular, chave presencial para travas e ignição, frenagem de emergência em manobras, câmara de ré combinada com sensores dianteiros e traseiros, rodas de liga leve de 17 polegadas, sensores de luz e chuva, faróis e luzes diurnas em leds –, a versão topo de linha investe em tecnologias semiautônomas de auxílio ao motorista, que andam em alta no mercado automotivo global. Assim, lá estão o controle de cruzeiro adaptativo, os sistemas de frenagem de emergência, o alerta de colisão, o farol alto automático, o painel de instrumentos digital configurável com tela de 10,25” e o detector de fadiga. São apenas dois opcionais: teto solar, por R$ 4.990, e pintura metálica, por R$ 1.480, ou perolizada, por R$ 1.580.
Sob o capô está o motor turbo 1.4 TSi flex, o mesmo propulsor “made in Brasil” que move todas as versões atualmente disponíveis e que já equipava o Jetta anterior. Rende 150 cavalos de potência a 5 mil rpm e 25,5 kgfm de torque de 1.400 a 3.500 rotações. Em todas as versões atua em parceria com o câmbio automático de 6 marchas, com opção de acionamento manual na manopla. Está prevista a chegada de uma versão com um motor 350 TSI, um 2.0 turbo de 230 cavalos, o mesmo utilizado no Golf GTI.
Se a pretensão da Volkswagen é tentar brigar pela liderança do segmento de sedãs médios, o novo Jetta parece estar no caminho certo. No ano passado, entre a versão anterior e a atual, comercializada apenas no último trimestre, o sedã da Volkswagen vendeu 4.404 unidades – média mensal de 367 emplacamentos. Já esse ano, foram 504 unidades emplacadas em janeiro e 1.248 em fevereiro – apenas 215 unidades atrás do Cruze, o terceiro sedã médio mais vendido do país, que totalizou 1.463 emplacamentos no segundo mês do ano. Se mantiver a tendência de evolução nas vendas, em breve, o Jetta pode estar disputando um lugar no pódio brasileiro dos sedãs médios.
Experiência a bordo
Conforto tecnológico
O acesso ao interior do Jetta é facilitado pela boa altura do sedã – 1,48 metro. Os assentos são ergonômicos e os espaços são bons tanto na dianteira quanto na traseira. No habitáculo, um toque de sofisticação nos detalhes é a característica da versão R-Line. O interior tem um design moderno e elegante. No painel digital configurável, os comandos são bem posicionados. O tablier é dominado pela central multimídia “touchscreen” de 8 polegadas, que conta com sistema de comando vocal. As luzes de cortesia oferecem 10 opções de cores. Há diversos porta-objetos entre os bancos e os painéis das portas. Há algumas superfícies “soft touch”, de aspecto emborrachado, mas os plásticos duros predominam. A aparência é boa e os revestimentos aparentam qualidade, porém sem maiores sofisticações.
A suspensão do Jetta é firme, favorecendo a performance dinâmica nas curvas, todavia não chega a ser desconfortável. O isolamento acústico funciona bem. Contudo, é nas tecnologias que essa versão R-Line do Jetta se destaca. O sistema de freio automático em manobras, que evita pequenas colisões traseiras, é bem eficiente. A versão R-Line oferece outros recursos interessantes, como farol alto automático, controle de cruzeiro adaptativo (ACC), freio automático de emergência e detector de fadiga, entre outros. Muitas tecnologias a serviço do conforto. E o porta-malas é generoso – são 510 litros.
Impressões ao dirigir
Dinamicamente elegante
O Jetta 2019 usa a nova plataforma modular MQB, compartilhada com outros modelos recentes da marca. Mescla aços nobres e técnicas de construção modernas, como as chapas de espessura variável, que se revertem em um bom nível de rigidez estrutural do conjunto. A plataforma disponibiliza diversos recursos de condução semiautônoma, como a função City Emergency Brake, que monitora a distância entre veículos durante o deslocamento e detecta riscos de colisão. Atua em situações de trânsito em cidades, acionando os freios automaticamente quando necessário. A direção elétrica é suave nas manobras de estacionamento e impõe a firmeza necessária nas altas velocidades. O sistema start-stop de segunda geração desliga o motor um pouco antes da parada completa do carro, para colaborar na economia de combustível.
O motor 250 TSI 1,4 litro turbo rende 150 cavalos de potência e torque de 25,5 kgfm de 1.400 a 3500 rpm, tanto com gasolina quanto com etanol. É força bastante para fazer o sedã mostrar boa disposição nas situações cotidianas de uso. O zero a 100 km/h é feito em 8,9 segundos, com máxima prevista para 210 km/h, números que dão conta de que se trata de um sedã “esperto”, embora sem uma esportividade exacerbada. O câmbio automático de 6 marchas se entende bem com o propulsor. Em condução normal, a evolução das marchas é extremamente sutil. Quando há uma pressão mais abrupta no pedal do acelerador, o sistema leva alguns instantes além do desejável para entender a demanda, mas a reação vem na medida e sem qualquer sinal de “preguiça”.
Uma rara “bola fora” do Jetta R-Line é o fato de inexplicavelmente não oferecer a opção de trocas sequenciais por meio de aletas no volante – modelos mais baratos da Volkswagen, como é o caso do Virtus e do Gol, oferecem paddle shifts. O avanço ou retrocesso das marchas podem ser feitos apenas na alavanca de câmbio, o que não é tão divertido. Já o conjunto suspensivo surpreende positivamente. Mesmo com uma configuração mais simples que a da geração anterior, que oferecia suspensão traseira multibraço, o atual conjunto formado pela suspensão traseira por eixo de torção e a dianteira McPherson atua com precisão no controle da carroceria. O acerto é mais para rígido e faz do Jetta um sedã bom de curvas e agradavelmente neutro nas retas, todavia não traz incômodos para os ocupantes. Nas curvas em velocidades altas, a traseira solta discretamente, nada que não possa ser controlado com facilidade pelo motorista. A percepção de quem dirige em relação ao conjunto mecânico é de confiabilidade.