Luiz Humberto Monteiro Pereira/Agência AutoMotrix

Em meados da década passada, quando os primeiros carros chineses começaram a chegar ao Brasil, eram esquisitos, mal acabados, desconfortáveis, pareciam frágeis e até cheiravam mal. Para que alguém os comprasse, precisavam ser oferecidos com diversos equipamentos e por um preço muito inferior aos modelos das marcas norte-americanas, europeias, japonesas e sul-coreanas já estabelecidas há mais tempo no mercado brasileiro. Pouco mais de uma década depois, o aroma untuoso desapareceu dos veículos chineses, os acabamentos foram aprimorados, a aparência de fragilidade deixou de existir e o design em nada deixa a desejar em relação à concorrência. Com a evolução nos padrões estéticos e construtivos, as marcas chinesas agora apresentam modelos competitivos, inclusive nos segmentos superiores do mercado. Mas ainda têm de lutar contra o desgaste de imagem causado pelos primeiros automóveis “made in China” que chegaram ao país. Na briga dos utilitários esportivos de sete lugares com padrão de acabamento premium – no qual se situam modelos de prestígio da marcas generalistas, como o Volkswagen Tiguan, o Chevrolet Equinox, o Hyundai Santa Fe e o Kia Sorrento, todos com preços próximos aos R$ 200 mil –, a Lifan foi a primeira chinesa a se apresentar ao trazer, em junho do ano passado, o X80. Agora é a vez da JAC Motors, que acaba de lançar o T80, por preços que partem de R$ 139.990 – é o mais caro veículo chinês vendido no Brasil. O objetivo é provar que é possível adquirir um SUV de sete lugares por menos de R$ 140 mil e com os recursos tecnológicos disponíveis em modelos bem mais caros.

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O T80 é o quinto SUV que a JAC Motors lança no Brasil – chega depois do T6, do T5, do T40 e do T50. Após a aposta inicial nos hatches compactos quando desembarcou por aqui, em 2011, a marca encarou uma longa temporada de quedas nas vendas até se render a uma realidade cada vez mais evidente: os hatches, sedãs e minivans não param de perder espaço na preferência nacional para os “jipinhos”. Mas a missão do T80 no Brasil vai além de ser apenas mais um SUV nas vitrines da marca. Como topo de gama, o novo modelo terá a tarefa de elevar o status da JAC Motors na percepção de requinte e sofisticação. Com seus 4,79 metros de comprimento, 1,90 metro de largura, 1,76 metro de altura e 2,75 metros de distância entre-eixos, o T80 pretende tornar-se uma oferta atraente ao combinar preço similar aos utilitários esportivos médios – como o Jeep Compass, o Hyundai New Tucson, o Kia Sportage e o Mitsubishi Eclipse Cross – com porte dos SUVs grandes de sete lugares. Sob o capô, o T80 traz um motor 2.0 turbo com intercooler de 210 cavalos e 30,6 kgfm – ou 300 Nm, que justificam a inscrição “300T” que aparece sob o logo “T80” na tampa do porta-malas. Atua em conjunto com o câmbio DCT (Dual-Clutch Transmission, ou caixa de dupla embreagem).

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Desenvolvido no Centro de Design da JAC Motors, em Turim, na Itália, o estilo do T80 é bastante contemporâneo e imponente, com aspecto musculoso e agressivo. A frente é vistosa, com uma grade hexagonal ampla e muitos cromados. O perfil é dinâmico e de aspecto robusto, com belas rodas de liga aro 18. Na traseira, destaque para as lanternas assimétricas, unidas por uma larga barra cromada. Por dentro, os revestimentos aparentam boa qualidade, inclusive com imitação de couro no painel, nas portas e nos bancos. O painel de instrumentos totalmente digital conta com três configurações diferentes. Um simpático relógio analógico cumpre a função de dar uma “pitada vintage” ao conjunto, que contrasta com a modernosa imitação de fibra de carbono usada na parte superior do painel e no console central. Os 2,75 metros de distância entre-eixos permitem a acomodação de três adultos no banco traseiro com conforto – o do meio pode ficar um pouco incomodado com o volume no encosto causado pelo console retrátil que fica embutido ali. Os bancos da segunda fileira contam com encosto reclinável e assentos deslizantes. Quando configurado com cinco assentos, o novo SUV oferece um porta-malas de 620 litros de capacidade. Com o rebatimento das duas fileiras de bancos, chega à capacidade de 1.550 litros. No sexto e sétimo lugares, o acesso é mais complicado e a posição dos passageiros não é tão confortável. Mas quebra um bom galho para deslocar sete pessoas em viagens curtas.

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A lista de equipamentos é generosa e inclui chave Keyless, fechamento dos vidros com comando na chave, rebatimento elétrico dos retrovisores externos, sensor de luminosidade e acendimento automático, luzes diurnas de leds (DLR), faróis com regulagem elétrica de altura, luzes de conversão estática, sensor de chuva, cruise control, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, computador de bordo, bancos em couro, câmera de ré, câmera 360 graus, freios com ABS, BAS e BOS, assistente de partida em rampa, controles eletrônicos de tração e estabilidade (TCS e ESP), sistema de monitorização da pressão dos pneu (TPMS), assentos Isofix, vidros com acionamento elétrico e antiesmagamento, retrovisores com acionamento elétrico e rebatimento, painel Digital Active Info Display, com tela de 12,3 polegadas em LCD e três opções temáticas, tela multimídia de 10 polegadas com  espelhamento com Android e iOS, seis airbags (frontais, laterais e tipo cortina), freio de estacionamento elétrico, ar-condicionado digital dual zone e bancos dianteiros com ajustes elétricos, sendo o do motorista com memorização, resfriamento, aquecimento e massageador. Como opcionais, o teto solar elétrico panorâmico duplo Command View e o sistema de som Premium Sound System Infinity HI FI com 280 Watts RMS e 10 alto-falantes, que oferece uma qualidade sonora admirável. Juntos, os opcionais fazem o preço chegar a R$ 145.990. A pretensão da JAC Motors é vender cerca de 50 unidades mensais do T80 no Brasil – e que a presença do novo modelo nas concessionárias ajude a embalar as vendas dos SUVs menores da marca.

Primeiras impressões

Foco no conforto

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Araçoiaba da Serra/SP – No T80, o motor 2.0 turboalimentado (com intercooler) de 210 cavalos e 30,6 kgfm de torque de 1.800 a 4 mil rpm atua de forma harmônica com a caixa de dupla embreagem. É possível de se trocar as marchas manualmente na alavanca de transmissão, o que não é muito prático – não há “paddle shifters” no volante. Mas nem é muito necessário recorrer ao acionamento manual já que as marchas são trocadas automaticamente pela caixa automatizada de forma precisa e sem “trancos”. Segundo a JAC Motors, o T80 atinge 217 km/h e precisa de apenas 9,2 segundos para sair da imobilidade e alcançar 100 km/h. Nada mal para um utilitário esportivo de 1.775 quilos.

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Dinamicamente, embora seja um veículo mais voltado para o conforto, o JAC T80 não faz feio. O turbo às vezes parece demorar um pouco a “encher”, mas o modelo oferece retomadas convincentes e permite ultrapassagens seguras, além de transmitir uma agradável sensação de consistência ao motorista. No modo “S”, as respostas ficam um pouco mais “espertas”. A direção elétrica progressiva conta com três modos de ajuste (leve, normal e pesada) e transmite suavidade nas manobras e a esperada firmeza em altas velocidades. Pena que o volante não conte com regulagem de profundidade, para facilitar os ajustes de posição.

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Embora tenha boa altura do solo – 22 centímetros –, como não tem opção de tração integral, o T80 pode ser classificado como um “SUV de asfalto”. E cumpre esse papel com eficiência e serenidade. A suspensão independente nas quatro rodas (MacPherson na frente e Multilink na traseira) permite ao T80 rodar de forma suave e transmitir uma reconfortante sensação de segurança, mesmo em velocidades mais elevadas. Os recursos eletrônicos se encarregam de preservar a aderência e reforçar a estabilidade em curvas. Os freios são bastante eficientes e param o carro de forma equilibrada.

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