Em tempos onde a eletrificação das motorizações domina a pauta da indústria automotiva global, uma proposta é a referência incontornável nessa matéria: o Nissan Leaf. Automóvel elétrico mais vendido do mercado global, o seu protagonismo foi reforçado com o lançamento da sua nova geração em 2018, que registra uma importante evolução em quase todos os aspectos. No Brasil, as pré-vendas do Leaf já estão abertas, com preços a partir de R$ 178.400 – a previsão é que as primeiras unidades cheguem às ruas no final de março.
Logo em um primeiro olhar, é evidente que o novo Leaf progrediu no plano estilístico face ao seu predecessor, apesar desse progresso não posicioná-lo ainda entre os automóveis visualmente mais atraentes do mercado. A antiga aparência quase “espacial” e um tanto bizarra deu lugar a um visual mais consensual e, também, mais sofisticado, maduro e distinto. Na versão Tekna Two Tone, há uma espécie de concessão à modernidade, representada pela opcional pintura em dois tons, em branco e preto (teto, colunas traseiras e mais alguns outros pormenores), responsável por um aspecto mais esportivo.
No entanto, o mais decisivo em um automóvel elétrico é o seu desempenho dinâmico. Não tanto em termos de performance ou prazer de utilização, mas sim no plano do consumo e, principalmente, da autonomia. Neste particular, o novo Leaf também apresenta importantes novidades, com destaque para o aumento da potência da unidade motriz de 109 cavalos para 150 cavalos, e a ampliação da capacidade da bateria de íons de lítio dos 30 kWh oferecidos nos derradeiros Leaf da primeira geração para os atuais 40 kWh.
O sistema e-Pedal é uma das grandes inovações e maiores atributos do novo Leaf. Permite que o motorista acelere, desacelere, pare e segure o carro usando apenas o pedal do acelerador. Segundo a Nissan, o e-Pedal atende a mais de 90% das necessidades médias de um motorista. Ativado por meio de uma tecla na base do console central, aumenta a regeneração de energia, também funcionando como um “freio motor” mais potente, porém de intensidade constante.
Nessa nova geração, com mais potência, mais autonomia e melhor em praticamente todos os quesitos, o Leaf continua a ser um automóvel cuja compra exige ponderação, por representar mudanças profundas nos hábitos do motorista e não ser barato – em Portugal, o modelo sai por 38.950 euros (cerca de R$ 160 mil). Todavia, optar pelo Leaf passa por uma questão de filosofia de vida e de custos de utilização, mais do que de aquisição. Acaba por ser um automóvel grande e caro, quando orientado essencialmente para uma utilização urbana, e limitado em termos de autonomia em estrada e performance dinâmica, quando comparado com um familiar compacto do mesmo nível de preço. As limitações impostas pelos morosos tempos de recarregamento devem ser igualmente levadas em consideração. Se, ainda assim, a opção for um elétrico, o Leaf terá de ser mesmo levado em conta. Até porque não há outro elétrico que ofereça tanto pelo mesmo preço. (colaborou Luiz Humberto Monteiro Pereira/Agência AutoMotrix)
Experiência a bordo
Mais fácil que parece
Uma vez no interior, chama a atenção o conjunto de materiais, na sua maioria, compostos por plásticos duros, algo que não compromete a qualidade dos acabamentos e, sobretudo, valoriza o rigor da montagem. A prova está na quase ausência de ruídos, mesmo quando se enfrentam pisos em pior estado de conservação. Algo que é sempre uma espécie de “teste de força” para um veículo elétrico, no qual praticamente não existem outros ruídos além do de rolamento.
A habitabilidade é generosa para quatro ocupantes, já que o enorme túnel central, imposto pela colocação da bateria, acaba por tolher fortemente a liberdade de movimentos e a comodidade de um eventual terceiro passageiro do banco traseiro – estranha-se que, nem mesmo nesta versão de topo, o Leaf se disponha de luz interior na parte de trás da cabine. O porta-malas, de 420 litros, é razoável, embora o acesso não seja dos mais propícios ao carregamento de volumes mais pesados e/ou de maiores dimensões.
Pelo menu informativo do painel de instrumentos, assim como do monitor tátil de 7 polegadas do sistema de infoentretenimento, o novo Leaf Tekna Two Tone + ProPilot Park oferece um verdadeiro manancial de informação e funcionalidades, como vem sendo da praxe nos automóveis elétricos da atualidade. Melhor do que isso, o acesso a toda essa variedade de funções é bastante fácil e intuitivo.
Impressões ao dirigir
Tomada de posição
Lisboa/Portugal – A versão do Leaf testada na capital portuguesa e nas estradas periféricas foi a Tekna Two Tone, com o sistema de estacionamento automático ProPilot Park. Como é habitual em um carro elétrico, a função de recuperação de energia atua em frenagens e desacelerações, e é no meio urbano que a autonomia fica mais generosa. Com condução (muito) cuidada, é possível se aproximar dos 250 quilômetros, isto é, um pouco menos do que os 270 quilômetros anunciados pela Nissan no ciclo combinado, já na nova norma WLTP.
Nas estradas, mesmo a ritmos conservadores, dá para se percorrer uma distância semelhante a velocidades na casa dos 80 a 100 km/h, ou um pouco mais de 200 quilômetros rodando na faixa dos 120 a 140 km/h. Entretanto, se a ideia for tirar todo o partido do “powertrain”, rodando muito tempo próximo da velocidade máxima (limitada a 144 km/h), é necessário ter em conta que a carga da bateria se esgota rápido. No limite, não serão necessárias mais do que algumas dezenas de quilômetros para uma visita urgente a um posto de carregamento.
Quando tal acontece, continua a se evidenciar o “calcanhar de Aquiles” dequalquer automóvel totalmente elétrico: o tempo exigido para repor a carga da respectiva bateria. No caso do novo Leaf, em um posto de carga rápida a 50 kW, é necessário uma hora para se repor 80% da carga. Para uma recarga total, a espera passa a ser de 7,5 horas a 6,6 kW/32 A, de 15 horas a 3,6 kW/16A ou de 21 horas em uma tomada convencional doméstica europeia de 2,3 kW/10 A. Em outras palavras, é muito mais do que o tempo necessário para se reabastecer o tanque de combustível de um vulgar automóvel movido por um motor de combustão.
O Leaf conta com alguns auxiliares determinantes, caso do modo de condução Eco, que limita bastante a resposta do acelerador para reduzir o consumo energético. Já o modo B da transmissão serve, essencialmente, para mover cargas rebocáveis mais facilmente, mas atua ainda como um superpotente “freio motor” em desaceleração, assim contribuindo para uma maior regeneração energética. Ainda mais singular é o e-Pedal, que visa otimizar a recuperação de energia em desaceleração, assim incrementando a autonomia. Todavia, o sistema exige algum hábito para que se consiga tirar pleno partido. Com tempo e paciência, é possível se perceber quando e o quanto reduzir a pressão no pedal do acelerador para deixar o veículo rolar exatamente até ao ponto em que se pretende parar. Outro sistema que contribui para economizar energia – no caso, a energia do próprio motorista – é o ProPilot, um modo de condução autônoma para estradas. Mantém o Leaf na faixa e acompanha a velocidade do carro da frente de 30 km/h a 100 km/h.
Quando a autonomia não é uma preocupação, o Leaf é um automóvel bastante interessante e agradável de se conduzir. Graças ao torque instantâneo, que garante ao motor uma enorme disponibilidade logo desde o momento do arranque, as acelerações e as recuperações são convincentes no modo de condução Normal e até bastante vigorosas quando se pressiona mais intensamente o pedal da direita.
Graças à distribuição de peso imposta pela bateria, o Leaf acaba por fazer curvas relativamente bem. O centro de gravidade baixo é auxiliado pelas molas mais macias e pelos amortecedores e barras estabilizadoras mais firmes do que no seu antecessor. As frenagens são mais convincentes e a direção está mais rápida e precisa. O novo Leaf é um automóvel mais competente do que a maioria dos automóveis elétricos do momento. Muito além do aspecto ecológico do modelo “Zero Emission” da Nissan, seu inegável destaque é o custo de utilização incomparavelmente inferior ao de um automóvel com motor térmico.