Quando foi lançada, em 2010, a Amarok levava na caçamba uma indisfarçável carga de otimismo da Volkswagen. A partir da produção em General Pacheco, na Argentina, a proposta era crescer inicialmente na América Latina e depois ganhar outros mercados – atualmente, a picape também é produzida na Alemanha e na Argélia. O crescimento veio, mas bem mais lento que o previsto. O fato da marca ter demorado três anos para disponibilizar uma transmissão automática para sua versão mais cara – com motor turbodiesel 2.0 de quatro cilindros – ajudou os concorrentes que já haviam abolido o pedal de embreagem. Em 2015, a descoberta do chamado “dieselgate”, mecanismo de fraudes em testes de emissões de motores a diesel da marca, abalou a reputação da Amarok. Até que, em fevereiro de 2018, novo motor V6 3.0, também turbodiesel, o mesmo usado pelo Audi Q7, chegou para ajudar a picape a deixar para trás os questionamentos éticos e retomar a evolução nas vendas.
O V6 TDI de 3,0 litros havia sido apresentado em 2016, na Europa, onde cumpriu a mesma função de deixar o “dieselgate” no passado. Com injeção direta common-rail de combustível e turbocompressor de geometria variável, o motor tem acionamento dos comandos por correntes e circuitos separados de arrefecimento para cabeçote e bloco – o que melhora o gerenciamento da temperatura. A potência é de 225 cavalos na faixa de 3 mil rpm a 4.500 rpm e o torque chega a 56,1 kgfm, entregue já a partir de 1.500 rpm e pleno até as 3 mil rpm. Em relação ao 2.0 biturbo ainda adotado nas versões mais básicas da Amarok, são 45 cavalos e 13,3 kgfm a mais – ganho de 25% em potência e de 31% no torque. Há bloqueio eletrônico do diferencial e o sistema de tração é permanente nas quatro rodas. Segundo a Volkswagen, sua velocidade máxima é de 190 km/h e a picape acelera de zero a 100 km/h em apenas 8 segundos. Nada mal para uma picape de 2.036 quilos em ordem de marcha.
Além do motor 3.0, a Amarok “top” deu um “upgrade” nas tecnologias de segurança. O sistema ABS off-road favorece a frenagem em solos como terra ou cascalho. Os freios passaram a ser a disco nas quatro rodas, com cobertura interna para evitar o acúmulo de sujeira comum no off-road. O sistema de frenagem automática pós-colisão é de série, assim com o controle eletrônico de estabilidade, sensores de estacionamento, câmara de ré, assistente de partida em aclives e de descida, controle de tração e indicador de perda de pressão dos pneus. Airbags, frontais e laterais também são de fábrica na versão, junto com faróis bixenônio com luz de condução diurna em leds e sistema Isofix para fixação de cadeiras para crianças no banco traseiro. Os faróis de neblina com luz de conversão estática ampliam a área iluminada nas curvas feitas a baixa velocidade. Quando os faróis estão ligados e a seta é acionada ou o volante é girado, o farol de neblina do lado correspondente ao que o veículo estiver virando é acionado automaticamente.
Externamente, a Amarok V6 TDI 4Motion Highline se diferencia das demais apenas pelos logotipos na grade do radiador e na tampa traseira e pelos retrovisores pintados na cor Preto Mystic, com detalhes cromados. Por dentro, é a versão que assume o espírito mais SUV – ou seja, a que mais se distancia das espartanas picapes de trabalho e mais se aproxima dos carros de passeio. A central multimídia tem tela colorida e sensível ao toque de 6,33 polegadas, leitor de CD, duas entradas SD, Aux in, porta USB, conexão Bluetooth e GPS com atualização periódica gratuita da base de mapas durante toda a vida útil do veículo. Volante multifuncional e com aletas para trocas manuais de marcha, bancos revestidos em couro e com regulagem elétrica para os passageiros da frente aumentam o requinte. A Volkswagen Amarok V6 TDI 4Motion Highline está longe de ser barata: o preço sugerido é R$ 184.990. Contundo, entre as concorrentes, é mais cara que a Mitsubishi L200 Triton Sport HPE-S, mas custa menos que a Chevrolet S10 High Country, a Ford Ranger Limited e a Toyota Hilux SRX.
Experiência a bordo
“Vintage” com privilégios
A Amarok foi lançada em 2010 – e o visual do interior evidencia esses oito anos de estrada. As linhas são bastante sóbrias e a tela do multimídia de 6,33 polegadas não segue a tendência megalômana dos lançamentos mais recentes. A picape da Volkswagen pode até já ser esteticamente datada e carecer de uma reestilização, mas está longe de estar ultrapassada. Os bancos, bastante confortáveis, são revestidos parcialmente de couro, com ajustes elétricos nos dianteiros, que têm o certificado “ergoComfort” – emitido pelo instituto alemão AGR, uma associação mantida por médicos e terapeutas que promove pesquisas para prevenção de dores nas costas. O volante multifuncional tem regulagem de altura e distância e ajuda na operação do sistema de entretenimento e das funções do computador de bordo da picape e abriga “shift paddles” para mudanças manuais de marchas.
O sistema Park Pilot, complementado pela câmera de ré, torna mais fácil a tarefa de estacionar a picape. Há sensores de estacionamento na dianteira e na traseira. O ar-condicionado é digital, com duas zonas. Sensores de chuva e crepuscular são de série. O sistema de entretenimento Discover Media tem tela colorida sensível ao toque de 6,33 polegadas, leitor de CD, duas entradas para SD-Card, Aux in e porta USB. Possibilita parear via Bluetooth dois celulares simultaneamente e operar telefone e áudio (streaming). O Discover Media faz a interface com o sistema de assistência de estacionamento Park Pilot, que informa sobre a aproximação de obstáculos na dianteira em manobras de estacionamento e transmite (na tela central do console) a imagem da câmera traseira de estacionamento. O sistema inclui ainda indicadores de off-road – bússola, ângulo de direção das rodas e altímetro.
Impressões ao dirigir
Insuspeitas duas toneladas
São 56,1 kgfm de torque entregues já a partir de 1.500 giros e 225 cavalos de potência na faixa de 3 mil rpm a 4.500 rpm. Isso não é pouco! Se traduz em desempenho robusto em qualquer tipo de terreno. Em relação ao motor diesel 2.0, o novo motor com turbo de geometria variável entrega força mais cedo e mais rápido, sem aumento de ruídos e com sensível melhora em vibrações. A facilidade de aceleração faz com o que o motorista rapidamente esqueça de que se trata de um veículo do porte da Amarok. Sobra torque em qualquer giro e a velocidade surge rápido sempre que se pisa no acelerador – e nem é necessário acionar demais o pé direito. O câmbio automático de 8 marchas que equipa a Amarok V6 Highline ajuda a rentabilizar bem a potência e o torque disponibilizados pelo motor, sem “lacunas” na eficiência. O sistema de tração permanente nas quatro rodas 4Motion reforça o equilíbrio nos trechos sinuosos e no off-road. Mesmo sem “lastro” na caçamba, a Amarok ostenta um bom comportamento dinâmico nas curvas.
Os recursos de auxílio ao motorista disponíveis na picape da Volkswagen são fartos. Lá estão o Controle Eletrônico de Estabilidade (ESC), o HDC (Hill Descent Control ou Controle Automático de Descida) e o HSA (Hill Start Assist ou Assistente para Partida em Subida), o BAS (Sistema de Assistência à Frenagem), o ASR (Controle de Tração) e o EDS (Bloqueio Eletrônico do Diferencial), que são itens de série na versão V6. Todos atuam de forma elegante e discreta e ajudam a tornar a vida do motorista mais tranquila, como se estivesse ao comando de um carro de passeio. Algo que, apesar da caçamba generosa e do aspecto bruto, a Amarok V6 TDI 4Motion Highline não deixa de ser.