Na Fiat, os modelos que marcaram época no Brasil sempre foram hatches, como o 147, o Uno, o Mille e o Palio. Com os sedãs, as tentativas foram diversas, mas nada que realmente arrebatasse o consumidor nacional. Desde o lançamento do Oggi, o três volumes derivado do 147, em 1983, vieram o Prêmio, o Tempra, o Marea, o Siena, o Gran Siena e o Linea. Depois de 35 anos de tentativas de criar um sedã que fizesse a alegria dos concessionários, em fevereiro de 2018, chegou a vez do Cronos. Importado da Argentina, o sedã derivado do Argo foi um pouco ofuscado pelo lançamento do Volkswagen Virtus, apresentado um mês antes e que acabou se tornando o segundo sedã compacto mais vendido do país – com as 3.955 unidades comercializadas em novembro, o modelo da marca alemã perde apenas para o Chevrolet Prisma, que emplacou 7.598 unidades no mesmo mês. Embora não tenha conseguido brigar pela liderança, o sedã da Fiat não anda fazendo feio – foram 2.384 unidades em novembro. Na linha Cronos, a versão topo de linha, a 1.8 Precision AT6, é a encarregada de enfrentar as configurações mais caras do subsegmento de sedãs compactos mais espaçosos e equipados, como o Virtus Highline, o Honda City EXL e o Chevrolet Cobalt LTZ. Modelos que já tentam “roubar” os consumidores dos sedãs médios.
No Cronos, o design é um ponto alto. As linhas da carroceria são dinâmicas e robustas, em um estilo que agrada à maioria. Na frente, o capô é diferenciado em relação ao do Argo e recebe novos vincos, além de terminar um pouco mais avançado em relação à grade, que é mais afilada e longa em comparação à do hatch – a parte negra tem formato de ondas. Os faróis de neblina foram posicionados logo abaixo dos principais. Atrás, na tampa do porta-malas, um elegante aerofólio dá um toque de esportividade. A solução da traseira é criativa e equilibrada. Remete a modelos maiores e mais sofisticados. As lanternas bipartidas de leds reforçam o requinte. Sob o capô, o Cronos Precision recebe o motor 1.8 E.TorQ, um quatro cilindros 16V flex que entrega 139 cavalos e 19,3 kgfm de torque com etanol. A aceleração de zero a 100 km/h da versão com câmbio automático de 6 marchas é de 9,9 segundos com etanol. É possível acionar as marchas manualmente, na manopla do câmbio ou por meio de “borboletas” atrás do volante.
O Cronos Precision é farto em itens de conforto. Traz alarme antifurto, alertas de limite de velocidade e manutenção programada, apoia-pé para o motorista, ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro bi-partido 60/40, brake light, central multimídia com tela de 7 polegadas touch com Android Auto e Apple CarPlay, Bluetooth e sistema de reconhecimento de voz, chave canivete com telecomando para abertura das portas, dos vidros e do porta-malas, computador de bordo, direção elétrica progressiva, controle eletrônico da aceleração, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, sistema de partida a frio sem tanque auxiliar de gasolina, assistente de partida em subidas, iluminação do porta-malas, retrovisores externos elétricos com função Tilt Down e setas integradas, sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico, sistema Start/Stop, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, tomada 12V, travas elétricas, vidros elétricos dianteiros e traseiros com one touch e antiesmagamento e volante com regulagem de altura e profundidade.
Itens de segurança também são de série na versão “top” do sedã. Estão presentes assistente de partida em subidas, sinalização de frenagem de emergência e controles dinâmicos de estabilidade e tração. As rodas têm 16 polegadas de série, mas o modelo opcionalmente pode vir com rodas de 17 polegadas, se incluir um pacote que contempla também bancos revestidos em couro e maçanetas e frisos das portas cromados. Também de forma opcional, é possível incluir quatro airbags e o sistema de chave presencial, que permite abertura e fechamento das portas e partida do motor por meio de botões. O Cronos Precision, na versão com transmissão automática de 6 velocidades, parte de R$ 71.990. Com todos os opcionais disponíveis e ainda pintura metálica ou perolizada, o preço beira os R$ 84 mil.
Experiência a bordo
Espaço funcional
Quando resolveu criar uma versão sedã do Polo, que seria o Virtus, a Volkswagen optou por alongar o entre-eixos para aumentar o espaço no banco traseiro. Já a Fiat, ao criar o Cronos, manteve o mesmo entre-eixos do hatch Argo. Atrás, dois adultos e uma criança viajam bem. O espaço parece maior porque os assentos dos bancos traseiros são um tanto curtos e não dão apoio total às pernas, o que cansa em viagens mais longas. Como em qualquer projeto recente, existe um bom número de porta-objetos, mas no Cronos são um tanto rasos. O porta-malas, de 525 litros, é sutilmente maior do que o do seu concorrente Virtus, que tem 521 litros. Pena que as alças da tampa roubem um pouco de espaço. Pelo menos, elas têm molas que limitam o retorno da tampa do bagageiro na abertura, o que evita que despenque na cabeça de quem abre o porta-malas e se abaixa para pegar a bagagem.
Na versão 1.8 Precision AT6 avaliada, os bancos tinham o opcional de revestimento em couro, o que contribui para o requinte a bordo. Os bancos oferecem boa ergonomia, com espumas de densidade macia. Os tons de cinza adotados em todos os revestimentos também criam um ambiente de certa classe. As superfícies do habitáculo trazem texturas agradáveis e que aparentam qualidade. A coluna de direção tem ajustes de distância e altura. Os comandos são bem posicionados e a tela sensível ao toque de 7 polegadas situada no console central – que lembra um tablet – dá acesso à central multimídia, que interage com smartphones Android e iPhone e obedece a comandos de voz. Além de abrigar os “paddle shifts” para acionamento manual das marchas, o volante multifuncional dá acesso ao computador de bordo e ao sistema de som. O isolamento acústico é eficiente. Nos engarrafamentos, o sistema start/stop desliga motor nas paradas para economizar combustível. No entanto, quem se irritar com isso, pode desativá-lo em um botão no console central. Pela oferta do câmbio automático e a direção elétrica progressiva e por não extrapolar o teto de R$ 70 mil para a compra com isenção tributária, essa versão do Cronos torna-se também uma opção para pessoas com deficiência (PcD).
Impressões ao dirigir
Um velho conhecido sob o capô
“Figurinha fácil” na linha da FCA, o motor flex 1.8 de 139 cavalos de potência e 19,3 kgfm de torque do Cronos AT6 é o mesmo que, com adaptações, movimenta a picape Fiat Toro e o Jeep Renegade. Recebeu atualizações, mas o fato de ser confrontado com concorrentes mais modernos – como o motor flex de um litro com três cilindros, turbinado e com potência máxima de 128 cavalos e 20,4 kgfm que move o Virtus – deixa claro que o propulsor do sedã da Fiat está um tanto “datado” e não é nenhum primor em termos de eficiência energética. Não que o desempenho do Cronos deixe a desejar. Pelo contrário, o Cronos 1.8 Precision AT6 roda com bastante agilidade. Arrancadas e ultrapassagens podem ser obtidas facilmente e sem esforço aparente. É no consumo de combustível que a diferença na eficiência energética é revelada. O Cronos 1.8 recebeu do Inmetro a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE – como classificação “C” na comparação absoluta geral e “D” na comparação relativa na categoria. Já o sedã turbinado da rival Volkswagen, que entrega um pouco menos de potência que o Cronos 1.8 porém oferece um pouco mais de torque, se saiu melhor: levou classificação “B” no geral e “C” na categoria.
No Cronos, o torque de 19,3 kgfm está disponível em 3.750 rotações, contudo a partir de 2 mil giros o sedã não nega serviço. A utilização dos “paddle shifts” atrás do volante para acionar as marchas pode tornar a “brincadeira” mais divertida para quem gosta de buscar performances mais esportivas. Nas frenagens mais fortes, o bom equilíbrio se reafirma. A dianteira até mergulha um pouco, todavia a traseira se mantém sob controle. Já no trânsito urbano, o sistema start/stop dá sua contribuição para reduzir o consumo ao desligar o motor quando o motorista para. Assim que solta o freio, o motor religa de forma elegante, sem trepidações.
Embora o conjunto suspensivo seja mais voltado para o conforto, o Cronos encara bem as curvas rápidas. Nas de raio longo, a tendência é sair sutilmente de frente, porém nada que chegue a intimidar. A carroceria inclina dentro do aceitável. O controle eletrônico de estabilidade, que é item de série na versão, cumpre a importante função de “segurar a onda” quando o motorista se excede no acelerador. Quando o Cronos 1.8 Precision AT6 passa em algum buraco mais profundo, o impacto é transmitido aos ocupantes com menos sutileza do que se esperaria de um sedã familiar. Os pneus de perfil baixo (205/45 R17), embora ajudem no desempenho, certamente contribuem nesse “efeito colateral”.