No final de julho deste ano, o Gol passou por uma discreta reestilização. Mas a grande mudança do modelo 2019 do compacto da Volkswagen foi o lançamento da versão topo de linha MSI, a primeira do Gol com câmbio automático – antes, a opção era apenas entre câmbio manual ou automatizado. Externamente, as diferenças estéticas da versão automática em relação ao restante da linha são discretas. O capô e a grade do radiador são mais elevados do que nas outras configurações, com dois frisos ligando os faróis, que são maiores e mais retangulares. O para-choque dianteiro conta com entradas de ar na parte de baixo e design mais esportivo. Os faróis de neblina ganharam formas trapezoidais e molduras pretas. A assinatura “MSI Automatic”, próxima à lanterna direita, arremata as diferenciações externas.
O novo câmbio trabalha em conjunto com o motor 1.6 MSI com quatro cilindros e 16 válvulas, o mesmo da antiga versão Rallye, que foi descontinuada na linha 2019. Com duplo comando de válvulas, bloco e cabeçote feitos de alumínio, o Gol 1.6 MSI automático atinge 110 cavalos quando abastecido com gasolina e 120 cavalos com etanol, em ambos os casos a 5.750 giros. Já o torque é de 15,8 kgfm com gasolina e 16,8 kgfm com etanol, disponível aos 4 mil giros. Segundo a Volkswagen, o conjunto leva o Gol do zero a 100 km/h em 10,1 segundos, com velocidade máxima de 185 km/h. No novo câmbio, as trocas seqüenciais podem ser feitas na alavanca ou, opcionalmente, nas aletas localizadas atrás do volante. O sistema tem ainda o modo de acionamento esportivo (posição “S” na base da alavanca), que altera o momento de entradas das marchas para rotações mais altas para conferir acelerações mais vigorosas.
Com a redução na quantidade de versões imposta na linha 2019 do Gol, a Volkswagen adotou uma configuração de acabamento única para a família. Assim, os equipamentos da versão 1.6 16V MSI automática são os mesmos disponíveis quando o modelo vem com o motor 1.0 de três cilindros ou o 1.6 8 válvulas, ambos com câmbio manual – não há mais a oferta do transmissão automatizada. Por dentro, com exceção da troca da alavanca manual pela automática, o hatch continua o mesmo. Os plásticos rígidos ainda predominam no acabamento interno. Os bancos são revestidos em tecido e o do motorista conta com ajuste de altura. O volante incorpora comandos para acessar o sistema de áudio, computador de bordo e telefonia. A lista de itens de série inclui ar-condicionado, direção hidráulica, banco do motorista com ajuste de altura, suporte para celular com entrada USB, travamento elétrico das portas e vidros dianteiros com acionamento elétrico, alerta sonoro de faróis acesos, tomada 12V no console central, para-sol com espelho para motorista e passageiro e luzes indicadoras de frenagem de emergência.
As rodas são de aço, com 15 polegadas, mas, opcionalmente, é possível adotar rodas de liga leve de 15 polegadas. Por R$ 3 mil adicionais, o pacote “Urban Completo” adiciona chave canivete, retrovisores elétricos com pisca integrado, sensor de estacionamento traseiro, faróis de neblina e rodas de liga leve. Gastando mais R$ 2 mil, é possível acrescentar a central multimídia com espelhamento de smartphones, volante multifuncional com borboletas para troca de marchas e computador de bordo. Completo, como o modelo avaliado, o Gol salta de R$ 54.580 para R$ 59.580.
Aparentemente, a estratégia da Volkswagen ao lançar a sua linha 2019 – na qual a principal novidade é a inédita versão automática MSI – deu resultado. No primeiro semestre, antes do lançamento, a média de vendas do Gol ficava perto das 5.500 unidades mensais. Começou a subir após o lançamento da linha 2019, em julho. Em outubro, já atingiu 8.973 emplacadas. No ranking de vendas, superou o Chevrolet Prisma e o Volkswagen Polo e saltou da sexta para a quarta posição. Agora, está atrás apenas de Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Ford Ka. No embalo do novo câmbio automático, o Gol mostra que ainda é capaz de surpreender.
Experiência a bordo
Velho conhecido
Desenvolvido no Brasil, onde foi lançado em 1980 para “herdar” do Fusca o posto de carro mais vendido do país – posição que sustentou por mais de 30 anos, até 2013 –, o Gol sempre cumpriu a função de carro básico. Por isso, jamais ofereceu grandes luxos. Na linha 2019, os plásticos rígidos continuam onipresentes no interior, mas as texturas são agradáveis ao toque e os encaixes são precisos. No aspecto de acabamento, a Volkswagen evoluiu seu padrão em toda a linha. Quatro pessoas se acomodam bem em um Gol. Colocar três adultos no banco traseiro reduz o conforto e deve ser evitado em viagens longas.
No habitáculo, há bons espaços no Gol para garrafas e outras “tranqueiras” nos nichos das portas e porta-trecos do console central. Um suporte no alto do tablier, que a marca oferece em seus modelos mais populares, permite deixar o celular ao alcance da visão, útil para utilizar softwares de navegação. Além de facilitar a interatividade entre o motorista e o smartphone, tem uma entrada USB própria para carregar o aparelho. O porta-malas comporta 285 litros – dentro da faixa normal para os hatches compactos. A central multimídia, que é opcional, espelha celulares, e seu pacote acompanha ainda computador de bordo, volante multifuncional e aletas no volante para trocas manuais de marchas. Outros opcionais, como retrovisores elétricos e sensores de estacionamento traseiros, melhoram expressivamente a interatividade entre o motorista e o carro. O isolamento acústico deixa um pouco a desejar em rotações altas, mas nada muito diferente da concorrência no segmento.
Impressões ao dirigir
Solução sem “soluços”
A ausência do pedal da embreagem no Volkswagen Gol não é novidade. Mas o desempenho do hatch com a nova transmissão automática é imensamente superior ao oferecido pelo antigo câmbio automatizado e seus desagradáveis “soluços” nas trocas de marcha. O motor 1.6, com 120 cavalos e 16,8 kgfm de torque com etanol, movimenta com o Gol desenvoltura. As trocas de marchas do câmbio automático de 6 velocidades são rápidas e a sintonia com o propulsor impressiona, proporcionando ao compacto um desempenho bastante satisfatório. O carro tem boas arrancadas e um torque decente desde as baixas rotações. A boa relação de marchas do câmbio elimina os trancos nas mudanças e rentabiliza com eficiência a força do motor. E as aletas atrás do volante para trocas manuais das marchas aumentam os recursos de quem gosta de uma performance mais esportiva. Para os menos afeitos aos esforços dispensáveis, há ainda a opção de levar a alavanca de câmbio do modo “D” para o modo “S” (Sport), que faz com que as marchas sejam trocadas em giros mais elevados.
O acerto de suspensão dos automóveis da Volkswagen normalmente é um pouco mais firme. No caso do Gol, o conjunto suspensivo proporciona boa estabilidade em curvas rápidas, porém, transfere para o interior do carro as imperfeições da pista. O compacto tem um comportamento dinamicamente equilibrado, com rolagens de carroceria discretas. Para um modelo que não conta com controle eletrônico de estabilidade, não faz feio. A direção tem assistência hidráulica, um pouco mais pesada que a assistência elétrica do Pólo. Mas o bom diâmetro de giro facilita as manobras. Aos poucos, os modelos de entrada do mercado automotivo brasileiro começam a se adaptar aos novos gostos dos consumidores. A transmissão automática figura entre os itens desejados por consumidores deste tipo de veículos. Para quem roda muito em cidades engarrafadas, o câmbio automático é uma “extravagância” que começa a ser encarada como racional.