O começo da existência do Porsche Cayenne não foi fácil. Em 2002, quando foi lançado, o modelo teve de quebrar paradigmas de uma marca que, até então, produzia apenas cupês esportivos. O utilitário esportivo, com seu design abrutalhado da época, foi considerado uma verdadeira heresia pelos fãs mais puristas da Porsche. Dezesseis anos se passaram e a fabricante alemã mostrou que estava certa ao investir nos SUVs, que se tornaram “queridinhos” da indústria automotiva em todo o mundo. Ao longo do tempo, o Cayenne também evoluiu bastante e tornou-se um sucesso. É o segundo veículo mais vendido da Porsche, com quase 800 mil unidades emplacadas – perde apenas para o 911, o ícone histórico da marca. A terceira geração chegou ao Brasil em agosto deste ano e representa uma expressiva evolução do modelo, que se aproxima cada vez mais da performance dinâmica dos cupês da marca, além de avançar na versatilidade, no conforto e no requinte esperáveis de um utilitário esportivo de luxo. Os preços, como era de se esperar, são elevados. A versão mais cara, a Turbo, 4.0 V8 biturbo com 550 cavalos, sai por estratosféricos R$ 733 mil. Abaixo dela, está a versão S, V6 2.9 biturbo de 440 cavalos, a R$ 523 mil. A versão inicial é denominada simplesmente Porsche Cayenne e é movida por um motor 3.0 V6 turbo de 340 cavalos. Disponível por R$ 433 mil, oferece um conjunto capaz de encher os olhos da imensa maioria dos mortais.
A terceira geração do Cayenne é a primeira a utilizar a plataforma MLB Evo do Grupo Volkswagen, uma arquitetura modular já utilizada, por exemplo, pelos Audi Q7 e Q8. Em relação à segunda geração, sutis mudanças nas dimensões. Ficou 6,3 centímetros mais comprida (tem 4,92 metros), 2,9 centímetros mais larga (1,98 metro) e 0,9 centímetro mais baixa (1,69 metro) que a anterior. O entre-eixos manteve os 2,89 metros da segunda geração. O Cayenne ainda “emagreceu” 65 quilos, principalmente pelo uso intensivo de alumínio em toda a construção de sua carroceria. Por isso, o carro se manteve com menos de 2 mil quilos – tem agora 1.985 quilos.
Embora não represente uma transformação tão radical em relação à geração anterior, as novas linhas exteriores alinharam o estilo com o do 911 e do cupê de quatro portas Panamera, recentemente reestilizado. A dianteira, inconstestavelmente Porsche, é harmoniosa. O capô e os para-lamas são novos, de aspecto musculoso e bem complementados pelos faróis full led. De perfil, destacam-se as portas redesenhadas e as novas rodas de 20 polegadas. Na traseira, as lanternas tornaram-se mais afiladas e interligadas por um friso negro com a assinatura Porsche. Por dentro, o estilo também ficou mais “clean” e elegante. Ladeado por grandes alças, o console central foi redesenhado. O quadro de instrumentos é quase totalmente digital, semelhante ao do novo Panamera – apenas o conta-giros central é analógico. Sobre o console, se destaca uma suntuosa tela de 12 polegadas para a central multimídia.
A versão de entrada do SUV da Porsche trocou o 3.6 aspirado da antecessora pelo novo 3.0 turbo, com 340 cavalos (40 cavalos adicionais) e 45,9 kgfm (5,1 kgfm a mais) de torque. Mais leve e eficiente, o novo motor utiliza um turbo único de duplo fluxo posicionado entre as bancadas de cilindros. A transmissão automática de 8 velocidades ganhou sistema de engates eletrônicos. A oitava marcha foi alongada para garantir velocidades de cruzeiro com torques mais baixos e economia de combustível. Nos engarrafamentos, o sistema start/stop desativa o motor nas paradas e também contribui para reduzir as visitas ao posto de gasolina. A tração é integral, com distribuição automática de torque entre os eixos.
Os R$ 433 mil pedidos pelo Cayenne “mais em conta” podem ser acrescidos de opcionais e de customização. Mas o modelo “básico” já inclui rodas de 20 polegadas, suspensão adaptativa, faróis full leds, teto solar panorâmico, ar-condicionado de duas zonas, controles de tração e estabilidade, sistema multimídia com tela de 12 polegadas e Apple CarPlay, sistema de frenagem automática, câmera de ré com sensores dianteiros e traseiros, tampa traseira elétrica e bancos dianteiros elétricos. Ou seja, de básico, a versão mais básica do Porsche Cayenne não tem nada.
Experiência a bordo
Ambiente respeitável
O habitáculo do Cayenne entrega uma interessante mistura de luxo e modernidade, sem deixar de ser aconchegante. Os bancos contam com ajustes elétricos e é bem fácil de se achar uma posição confortável para se sentar. Há generosa quantidade de superfícies emborrachadas e todos os revestimentos são bastante agradáveis ao toque. O novo console central é uma superfície preta brilhante sensível ao toque, no qual é possível ativar diversos comandos sem usar botões. No painel de instrumentos, duas telas full-HD com mostradores se posicionam uma de cada lado do conta-giros analógico. A central multimídia com tela touchscreen de 12 polegadas recebe o pomposo nome de Porsche Communications Manegement. É um espetáculo à parte! Nela, é possível configurar quase todas as funções do veículo e conferir a mídia, a navegação e os dados de bordo. Além da definição de imagem fora do comum, o uso é simples e intuitivo. O GPS também dá um show de funcionalidade.
O Cayenne leva quatro adultos e uma criança com extremo conforto. Um adulto sentado ao centro do assento traseiro sofreria com a altura do túnel do cardã e comprometeria o conforto dos vizinhos e o seu próprio. Os bancos têm um design excelente e são revestidos em couro bege de alta qualidade. O teto solar panorâmico amplia bastante a luminosidade e a sensação de espaço a bordo. Dá para passar algumas horas dentro do Cayenne sem ter vontade alguma de sair. O porta-malas leva ótimos 770 litros. Ou seja, tudo na medida certa para longas viagens.
Primeiras impressões
Tudo ao mesmo tempo
O Cayenne é um veículo singularmente múltiplo. Cumpre as funções de vários carros ao mesmo tempo, sempre em níveis elevados, como se espera de um Porsche. Quando se busca um comportamento de esportivo, as acelerações esbanjam vigor e consistência em qualquer situação, oferecendo sempre respostas rápidas. A transmissão automática Tiptronic S de 8 marchas beira a perfeição. As trocas são tão suaves que se tornam praticamente imperceptíveis, mesmo quando o motorista resolve pisar forte no pedal da direita. Os “paddle shifts” estão atrás do volante, mas o câmbio é tão preciso que não faz sentido usá-los. Quando o motorista quer contar com um utilitário esportivo consistente e confortável, o Cayenne atende à encomenda com um comportamento dócil e preciso. O isolamento acústico e o baixo nível de trepidação a bordo são admiráveis e reforçam a sensação de conforto.
Para economizar combustível no trânsito, o sistema start-stop tem um ajuste excepcional, que permite que o SUV desligue o motor e volte a funcionar de maneira instantânea. As duas ações são mais suaves do que nos sistemas similares de outros modelos. Um simples toque em um botão no console enrijece a suspensão e aumenta os giros para as trocas de marchas, quando o motorista quer mais esportividade. Algo que, normalmente, nem é necessário, já que sobra potência e torque em qualquer faixa de giros.
Nas retas bem asfaltadas, o Cayenne ganha velocidade com uma facilidade impressionante. E tudo isso com um nível de conforto que deixa qualquer um com vontade de passar algumas horas ao volante. Nos trechos sinuosos, em serra, o modelo também supera as expectativas. A caixa de direção, bem direta, honra as boas tradições da Porsche nesse aspecto e mantém a comunicação entre carro e motorista sempre precisa. Em uma das telas do painel de instrumentos, dá para acompanhar a distribuição da tração entre os eixos. Fica concentrada na traseira nas velocidades de cruzeiro, mas nas curvas mais fechadas ou nas trilhas, pode chegar a 50% para cada eixo. Isso se reflete em um veículo sempre “na mão”, que não prega sustos ao motorista. Segundo a Porsche, o Cayenne vai de zero a 100 km/h em 6,2 segundos. O suficiente para garantir a diversão que aqueles que compram um Porsche esperam levar para casa.