A trajetória recente da marca Jeep no Brasil é um dos maiores “cases” de sucesso da indústria automotiva. Primeiro, inaugurou sua fábrica brasileira na cidade pernambucana de Goiana, em abril de 2015, e naquele mesmo ano fez do utilitário esportivo compacto Renegade um sucesso de vendas. Emendou fazendo no Brasil, em setembro de 2016, o lançamento mundial do médio Compass, também fabricado em Pernambuco. Ao apostar na força de sua marca no segmento de mercado que mais cresce no Brasil e em todo o mundo – o dos utilitários esportivos –, a Jeep não para de crescer. Em agosto, foi a nona marca mais vendida do Brasil – ficou pouco atrás de Honda e à frente da Nissan, ambas já instaladas no país há mais tempo e com uma linha bem mais diversificada de modelos. Dentro dessa impressionante performance, o carro-chefe da marca norte-americana é o Compass. Com suas 5.800 unidades emplacadas em agosto, se manteve como o nono automóvel mais vendido do mercado brasileiro e líder entre os SUVs, à frente do Hyundai Creta (5.277 unidades), do Honda HR-V (5.021 unidades), do Nissan Kicks (4.792 unidades) e do Renegade (4.465 unidades). Além do apelo da marca Jeep para os fãs dos crossovers, o Compass tem a imagem reforçada pelas versões diesel e 4×4, que oferecem efetivos atributos para a prática do “off-road” – caso da Limited 2.0 diesel 4×4 avaliada, intermediária entre a Longitude e a Trailhawk.
No design do Compass, chama a atenção uma equilibrada mistura de elementos que ressaltam a esportividade dos SUVs com outros que evocam a sofisticação dos carros de passeio mais requintados. A indefectível grade de sete fendas faz a função de “cartão de visitas” dos modelos da Jeep e vem ladeada por elegantes faróis com leds que poderiam perfeitamente estar em um sedã grande. O capô exibe vincos que valorizam a agressividade “off-road”, mas o apelo esportivo é ressaltado pela linha de teto descendente na traseira, que remete aos cupês. A traseira tem alongadas lanternas horizontais com leds, que invadem a tampa do porta-malas no melhor estilo das station-wagons – um gênero praticamente desaparecido das ruas com a ascensão dos SUVs.
Em termos de comodidades, a versão Limited 4×4 diesel é bem equipada de série. Traz chave presencial, tela configurável de TFT no quadro de instrumentos, central multimídia com navegação GPS, Bluetooth e tela sensível ao toque com 8,4 polegadas, que transmite imagens da câmara de ré e traz funções acionadas por comando de voz. Para reforçar a segurança, há controle eletrônico de estabilidade, sistema anticapotamento, monitoramento de pressão de pneus, assistente de partida em rampa, controle de velocidade de cruzeiro, freios a disco nas quatro rodas, três pontos de fixação de cadeiras infantis Isofix e direção de torque dinâmico, que auxilia o motorista a virar o volante corretamente em uma situação de perda de aderência. Opcionalmente, dá para incorporar mais airbags além dos dois frontais obrigatórios por lei – incluindo os de cortina, laterais e de joelhos para o motorista – e também sensores crepuscular e de chuva, monitoramento de faixa de rolagem, estacionamento automático e controle de cruzeiro adaptativo com sistema de frenagem de emergência.
Sob o capô está o mesmo 2.0 turbodiesel de 170 cavalos e 35,7 kgfm que movimenta versões mais caras do Renegade e da Fiat Toro. Trabalha acoplado com a transmissão automática de 9 marchas – com aletas atrás do volante. A tração 4×4 Jeep Active Drive Low é definida pelo sistema Selec-Terrain, com um seletor giratório no console central com opções de neve, areia e lama.
A versão Limited 4×4 do Compass começa em R$ 168.990, mas com os opcionais disponíveis na unidade avaliada – cinco airbags extras, bancos em couro, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, retrovisor interno eletrocrômico, sistema de som premium Beats de 506 W, monitoramento de faixa de rolagem, estacionamento semi-autônomo, banco do motorista elétrico, abertura da tampa traseira elétrica, farol alto automático e controle de cruzeiro adaptativo com sistema de frenagem de emergência –, o preço final salta para R$ 185.880. É um carro caro. Mas, para os que procuram um utilitário esportivo a diesel com tração integral, trata-se de um valor competitivo em relação aos concorrentes, todos com preços tão ou mais “salgados”. O que resulta na relação custo/benefício favorável que as boas vendas do modelo comprovam.
Experiência a bordo
Alto nível
Como é usual em qualquer utilitário esportivo, a boa altura do Compass facilita o acesso e proporciona aos ocupantes uma agradável sensação de espaço. Sobra área livre para as pernas dos passageiros do banco de trás. O túnel central não é dos mais elevados, apesar do cardã do sistema 4×4. Cinco adultos viajam bem mas, nos passeios mais longos, ter apenas duas pessoas no banco traseiro é mais confortável. Há saída de ar-condicionado e tomada para a segunda fileira. Os porta-trecos são bem desenhados e otimizam os espaços a bordo. O porta-luvas é grande e iluminado. O espaço no porta-malas, de 410 litros, é coerente para o segmento.
No habitáculo, boa parte dos revestimentos são plásticos, mas boa parte são emborrachados e todos aparentam qualidade, são agradáveis ao toque e a montagem é precisa. Detalhes em preto brilhante ao redor da tela multimídia, da manopla e das saídas de ar conferem um aspecto mais requintado. Os bancos são revestidos de couro e bastante agradáveis de se sentar. Não chega a ser um ambiente luxuoso, porém transparece uma combinação de rusticidade e robustez, atributos arquetípicos nos segmentos dos SUVs, no qual não se espera nada muito delicado. Em movimento, o Compass é um utilitário esportivo bem confortável. A suspensão reage com eficiência aos desníveis do solo e o isolamento acústico impressiona. A vibração é baixíssima e nem parece se tratar de um motor a diesel, que normalmente são mais trepidantes.
Impressões ao dirigir
Consistente valentia
O motor 2.0 Multijet turbodiesel que equipa o Jeep Compass Limited 4×4 entrega substanciais 170 cavalos de potência e expressivos 35,7 kgfm de torque máximo. E o mais interessante é que 80% desse torque estão disponíveis já a partir dos 1.500 giros. Ou seja, não falta força para arrancadas, retomadas e ultrapassagens: basta pisar um pouco mais forte no acelerador. O bom torque é aproveitado com eficiência pelo câmbio automático de 9 velocidades, que proporciona trocas precisas. O fato de ter nove marchas ajuda na economia de combustível. No Programa de Etiquetagem do Inmetro, os registros marcam 9,8 km/l na cidade e 11,4 km/l na rodovia. Ao longo da avaliação, o Compass obteve médias de 10,1 km/l no tráfego urbano e 12,9 km/l nas rodovias. Com tanque cheio, é possível percorrer mais de 600 quilômetros – uma autonomia respeitável.
No asfalto, o carro tem um comportamento dinâmico bastante cordial. Apesar da altura, não aderna excessivamente nas curvas. A direção elétrica é precisa e bastante direta e os recursos eletrônicos reforçam a segurança. No “off-road”, a suspensão, que é independente nas quatro rodas e de curso longo, equilibra os movimentos da carroceria sem transmitir excessivos solavancos aos ocupantes. A segurança é ampliada por sistemas como controle eletrônico de estabilidade, monitoramento de pressão de pneus, freios a disco nas quatro rodas e direção de torque dinâmico – que ajuda o motorista a virar o volante corretamente quando o carro começa a perder aderência nas curvas.
Em síntese, o Compass Limited diesel 4×4 pode ser definido como um veículo singular, de amplo espectro, que consegue entregar um comportamento dócil de carro de passeio sem abandonar o espírito indômito típico de um Jeep. Atende quem procura um modelo familiar que permita também algumas estripulias nas trilhas graças à tração integral. E o motor turbodiesel ainda permite que as visitas aos postos de combustíveis se tornem agradavelmente mais esparças.