A Volkswagen acertou a mão com o Virtus. Lançado no fim de janeiro, o modelo emplacou 21.111 unidades até julho e se firmou como o terceiro sedã mais vendido do país. É superado apenas pelo compacto Prisma e pelo médio Corolla – em julho, com 4.173 emplacamentos, faltaram menos de 200 unidades para ultrapassar o sedã da Toyota. De quebra, deixou para trás o concorrente Cronos, lançado no mês seguinte ao Virtus, que vendeu 3.284 unidades em abril. O “tripé” formado por design moderno, amplo espaço interno e preço competitivo sustenta as vendas do sedã derivado do Polo. Toda a publicidade do Virtus é baseada na versão Highline 200 TSI, com seu motor 1.0 de 3 cilindros turbinado com câmbio automático, que atinge 116/128 cavalos e é oferecida por R$ 79.990. Mas é na versão 1.6 MSI manual, que parte de R$ 61.390 – ou seja, R$ 18.500 abaixo da versão de topo –, que o valor escrito na etiqueta de preço efetivamente faz toda a diferença. Alegando “questões estratégicas”, a Volkswagen não divulga o mix de vendas de seus produtos. Mas, segundo algumas concessionárias da marca alemã consultadas, é com essa versão que a maioria dos negócios do sedã é fechada.
O desenho da versão MSI segue o padrão da linha Virtus, com vincos laterais bem marcados, traços alongados e fluídos, a coluna de trás inclinada e caimento do teto similar ao de um cupê – com direito até a um pequeno spoiler. Um visual bem dinâmico e imponente, que confere personalidade ao modelo e nem deixa tão evidente que se trata de um sedã derivado de um hatch. Com seus 4,48 metros de comprimento, 1,75 metro de largura e 1,47 metro de altura, o Virtus ostenta um porte mais vistoso que concorrentes como o líder de vendas do segmento de sedãs compactos, o Chevrolet Prisma (4,28 metros x 1,70 metro x 1,47 metro). No Virtus MSI, as rodas de 15 polegadas (são 16 polegadas na versão Highline) originalmente são de aço e não há luzes de neblina, repetidores de seta nos retrovisores e as luzes diurnas de leds que acrescentam requinte às versões mais caras do sedã.
O motor da versão de entrada do Virtus é o mesmo 1.6 litro flex já bastante conhecido em diversos modelos da marca. Ele entrega 110/117 cavalos de potência e 15,5/16,5 kgfm de torque com gasolina/etanol no tanque. A transmissão pode ser manual, com cinco marchas, ou automática, de seis velocidades – essa última configuração foi apresentada em julho e é oferecida por R$ 66.525, com o mesmo nível de equipamentos da versão manual.
Na configuração mais básica, o Virtus MSI vem com ar-condicionado e direção, vidros e travas elétricas. Assistente para partida em subida, computador de bordo, controles eletrônicos de estabilidade e tração e bloqueio eletrônico do diferencial somam R$ 1.050 à conta. E acrescentar sensores de estacionamento traseiros, rodas de liga leve de 15 polegadas, central multimídia com Apple CarPlay, Android Auto e Mirrorlink e volante multifuncional sai R$ 1.900 a mais. Ou seja, um Virtus 1.6 MSI completo chega a R$ 64.340 – e uma eventual cor metálica ainda pode agregar R$ 1.469 a essa fatura.
Se a faixa de preços é semelhante à dos sedãs compactos com nível similar de equipamentos, o Virtus leva vantagem quando o assunto é espaço a bordo. Apesar de ser produzido na mesma plataforma modular MQB do Polo, a Volkswagen fez seu sedã com 9 centímetros a mais de entre-eixos. Totaliza 2,65 metros, medida próxima à dos atuais sedãs médios, que têm preços na faixa dos R$ 90 mil. Esse porte adicional coloca o Virtus em uma disputa particular no sub-segmento dos sedãs compactos mais espaçosos, também conhecidos como “compactos médios”, como o Fiat Cronos, o Honda City e o Chevrolet Cobalt – briga essa que o modelo da Volkswagen lidera com folgas. Além do bom espaço interno, as cinco estrelas na proteção de adultos e crianças obtidas no programa de avaliação de segurança veicular da América Latina, o Latin Ncap, também contam pontos para a linha Virtus. Cintos de três pontos e apoios de cabeça para todos os assentos, airbags laterais além dos frontais obrigatórios e sistemas de ancoragem de assento infantil, que são de série desde a versão básica MSI manual, certamente contribuíram nessa boa performance do sedã nos testes de segurança.
Experiência a bordo
Estilo básico
No Virtus, o espaço interno é favorecido pelo fato de se tratar de um compacto com comprimento e entre-eixos avantajados. Há uma generosa área para pernas e joelhos dos passageiros de trás, porém o estiloso caimento do teto na parte de trás pode incomodar as pessoas mais altas que sentarem no assento traseiro. A MSI não traz grande sofisticação e o motorista não conta com qualquer ajuste na coluna de direção – nem de altura, nem de profundidade. A solução é resolver a questão ajeitando apenas o banco. Em termos de acabamento, o plástico rígido domina o ambiente, mas os encaixes e arremates são corretos e os tecidos têm boa aparência.
O habitáculo segue o padrão estético um tanto minimalista da marca, com comandos bem posicionados. A central multimídia opcional Composition Touch tem tela de 6,5 polegadas e permite espelhamento de aparelhos móveis com os sistemas Android Auto, Apple CarPlay e Mirrorlink. O computador de bordo é opcional, assim como os sensores de estacionamento traseiro – mas a câmara de ré infelizmente não faz parte do pacote. Não há sensor crepuscular ou de chuva nesta configuração. E só dá para ajustar os retrovisores externos manualmente. Em contrapartida, a versão de acesso traz luzes de leitura traseira, espelhos iluminados e porta-óculos. A cabine oferece porta-objetos bastante funcionais e o porta-malas leva 521 litros – tamanho decente para um compacto.
Impressões ao dirigir
Conjunto convincente
O acerto dinâmico preciso do Polo foi mantido no Virtus, e o motor 1.6 MSI move com agilidade a versão de entrada do sedã da Volkswagen. Os 110/117 cavalos de potência e 15,5/16,5 kgfm de torque com gasolina/etanol bastam para fazer com que o modelo acelere de zero a 100 km/h em 9,8 segundos e atinja a velocidade máxima de 195 km/h. Não tem a força de arrancada do TSI porque o torque máximo surge apenas em 4 mil rpm, mas antes disso o modelo já mostra disposição. O ronco do motor 1.6 MSI da família EA211 se faz notar com mais frequência do que na versão três cilindros 1.0 turbo, mas os giros sobem rápido e o câmbio manual honra as boas tradições da Volkswagen nesse aspecto. Oferece engates bastante precisos e ajuda a proporcionar arrancadas convincentes. A relação de marchas tem bom escalonamento. Contudo, uma sexta permitiria que o giro caísse um pouco mais em velocidades de cruzeiro acima dos 100 km/h.
O sedã oferece boa ergonomia, com um posição de dirigir simétrica em relação ao volante e aos pedais. A alavanca do câmbio manual de cinco marchas também é bem posicionada no console. A suspensão é outro ponto alto do Virtus. É firme o suficiente para priorizar a estabilidade, todavia não compromete o conforto. Nas curvas, mesmo as feitas em velocidade elevada, a carroceria aderna pouco. O alto nível de rigidez proporcionado pela plataforma MQB ajuda nesse aspecto. O conjunto suspensivo atua com eficiência na hora de filtrar as irregularidades das ruas. A direção elétrica do Virtus MSI é precisa e progressiva e os freios são corretamente dimensionados.