O dia 18 de março de 2011 entrou para a história da JAC Motors no Brasil. Naquela sexta-feira, o Grupo SHC do empresário paulistano Sergio Habib, que representa no país a fabricante chinesa de veículos Jianghuai Automobile Co. Ltd. – mais conhecida como JAC Motors –, realizou o chamado “J Day”. Para marcar o inicio das atividades da JAC, foram inauguradas simultaneamente 46 concessionárias, espalhadas por 28 cidades brasileiras. Com essa espetacular ação de marketing, acompanhada de uma intensa campanha publicitária, a marca “virou assunto” no país inteiro da noite para o dia. Chegou a ter 70 pontos de vendas e iniciou a construção de uma fábrica na Bahia. Mas as sucessivas crises econômicas a fizeram desistir do projeto da fábrica própria e levaram ao fechamento de diversas concessionárias. Hoje, segundo o site da JAC no Brasil, são 29 concessionárias em 23 cidades. O fechamento de tantas revendas abalou o prestígio nacional da JAC, que este ano voltou a abrir novas lojas. O atual carro-chefe de vendas é o utilitário esportivo T40, lançado no Brasil em setembro do ano passado. Em abril, o crossover compacto importado da China ganhou uma versão com câmbio CVT. A expectativa da marca é que essa nova versão seja responsável por 75% das vendas nacionais do T40.
A expectativa é justificável. Com o trânsito cada vez mais caótico das grandes cidades brasileiras, muitos motoristas preferem dar descanso ao pé esquerdo e optam por veículos com transmissão automática, automatizada ou CVT. No caso do T40, a opção da JAC foi introduzir no modelo uma transmissão continuamente variável, com seis marchas simuladas – nos câmbios CVT, como a transmissão é continuamente variável, não existe de fato passagem de marchas. As trocas manuais são feitas na manopla do câmbio. Para embalar a versão sem pedal da embreagem do crossover, a marca chinesa apresentou também nova motorização. Em lugar do 1.5 JetFlex de até 127 cavalos, que continua a mover a versão com câmbio manual, o T40 CVT traz debaixo do capô um motor a gasolina 1.6 16 válvulas DVVT, com comando duplo variável na abertura e fechamento, de 138 cavalos. O comando de válvulas duplamente variável tem a função de ajudar o conjunto mecânico a entregar mais torque em baixa.
Externamente, com exceção das letras cromadas “1.6 DVVT” e “T40 CVT” na tampa do porta-malas, o visual segue o mesmo, com o vistoso design italiano apresentado na versão manual. O T40 com câmbio CVT é oferecido por R$ 69.990 – R$ 10 mil a mais do que a versão manual. O único opcional da gama é o teto envelopado preto, que adiciona R$ 1.490 à fatura, totalizando R$ 71.480. Por esse valor, além do “powertrain” mais moderno, o crossover incorpora outras novidades em relação ao que o T40 com motor 1.5 já oferece: sistema start-stop – que desliga e religa o carro automaticamente em paradas breves para economizar combustível –, ar-condicionado automático, piloto automático, bancos e volante com um revestimento sintético que simula couro com costuras vermelhas, quadro de instrumentos redesenhado e com melhor visibilidade. Como na configuração com câmbio manual de cinco marchas, o T40 CVT vem com rodas de 16 polegadas e traz de série central multimídia de oito polegadas, controlador de velocidade, farol de rodagem diurna em leds, controles de estabilidade e de tração, assistente de partida em rampas, câmera de ré, direção elétrica, entrada USB na parte traseira, sensor crepuscular para acendimento automático dos farois e câmera que grava o trânsito à frente – uma mania dos motoristas russos para evitar “armadilhas” das ruas e que começa a ter adeptos também no Brasil.
Apesar dos atributos do T40 e dos esforços de recuperação da imagem da JAC Motors feitos pelo Grupo SHC, as vendas do modelo ainda estão longe das 600 unidades mensais estimadas em abril, no lançamento da versão CVT – projetava-se 450 da CVT e 150 da manual. Em junho, foram emplacados 288 exemplares do T40, somadas as duas versões. No início do ano, a marca anunciou que pretende fabricar alguns modelos no Brasil, inclusive o T40, na planta da HPE na cidade goiana de Itumbiara, na qual era produzido o Suzuki Jimny. O projeto é iniciar a produção local no começo de 2020. Até lá, importado da China, o crossover compacto da JAC tenta cumprir a função de resgatar a confiança do consumidor em uma marca que, em um período de cinco anos, de 2012 a 2017, fechou dois terços das concessionárias que tinha no país. A prometida abertura de novas lojas pode atenuar a má impressão e reconquistar a confiabilidade da JAC Motors.
Experiência a bordo
Simpático e acolhedor
Uma inusitada passagem do T40 pelo departamento de engenharia da Volkswagen explica o aprimoramento construtivo do crossover da JAC. A marca alemã fez uma parceria com a chinesa para utilizar a plataforma do T40 em uma linha de veículos elétricos. Como parte do acordo, aperfeiçoou a suspensão e o isolamento acústico do modelo chinês. Como não há bobos nessa atividade, a JAC rapidamente incorporou às outras versões da linha as evoluções propostas pela Volkswagen para um novo modelo elétrico. O isolamento acústico correto e o bom ajuste da suspensão são um evidente “efeito colateral” da parceria.
A altura do T40 facilita o acesso, e o interior é amplo para um compacto. Na versão CVT, a cabine mostra um bom padrão de acabamento, com revestimentos que aparentam qualidade. Não há grande requinte e nem se espera isso de um crossover compacto, mas o conjunto formado pelos painéis, que imitam fibra de carbono, alguns frisos cromados e forrações em tecido sintético preto que simula couro no volante e nos bancos é harmonioso e aconchegante. Há porta-objetos funcionais e em boa quantidade espalhados pelo interior, inclusive porta-copos no console central e porta-garrafas nas portas. O compartimento de carga recebe 450 litros.
Uma boa quantidade de equipamentos ajuda torna a vida a bordo mais segura e agradável. Entre os quais, o assistente de partida em rampa, o controle de cruzeiro, os freios a disco nas quatro rodas, o assistente de frenagem de emergência, o ar-condicionado automático, os bancos com revestimento imitando couro, o sistema start-stop, os sensores de estacionamento na dianteira e na traseira, o assistente de partida em rampas, o controlador de velocidade, as luzes de leds, os controles de estabilidade e de tração, a câmera frontal, o assistente de partida em rampas, a câmera de ré, a direção elétrica e a entrada USB na parte traseira. Um requinte do T40 CVT chama a atenção: o computador de bordo informa a pressão individual de cada pneu. Sem dúvida, um conjunto de equipamentos que nada deixa a desejar em relação aos concorrentes no segmento.
Impressões ao dirigir
Ritmo urbano
Ao contrário do que ocorria com os primeiros automóveis importados da China, o T40 CVT parece estar em velocidades menores que as efetivamente apontadas pelo velocímetro – um dos sintomas de uma boa qualidade construtiva. Os ganhos de potência e torque da versão colaboram para que o modelo não perca agilidade com o câmbio CVT, de relações continuamente variáveis. Nas acelerações e retomadas, a possibilidade de usar a manopla do câmbio para acionar as seis marchas simuladas ajuda a superar a performance “cartesiana” normalmente oferecida pelos CVTs, embora as respostas da caixa sejam mais lentas do que seria desejável em um crossover. Em compensação, o CVT do T40 é mais silencioso do que a maioria das transmissões do gênero, normalmente rumorosas. Apenas em altos giros o trem de força do T40 CVT se mostra mais “escandaloso”.
O novo 1.6 16 válvulas a gasolina com duplo comando variável, que gera 138 cavalos e 17,1 kgfm de torque, tomou do Ford Focus de 135 cavalos o posto de 1.6 aspirado mais potente do mercado. O comando de válvulas duplamente variável cumpre a função de entregar mais torque em baixa. Embora o ajuste do câmbio seja claramente mais voltado para proporcionar conforto e economia, o “powertrain” proporciona razoável vigor e arrancadas decentes. Na posição “Sport”, a rotação sobe e o nível de ruído é mais alto, mas deixa o conjunto ligeiramente mais “esperto”. A direção elétrica tem um bom ajuste no uso cotidiano, oferecendo conforto. Nas velocidades mais elevadas, um pouco mais de firmeza no volante seria desejável.
Em termos de economia, outra “bola dentro” da JAC Motors. O modelo obteve nota “A” nos testes de consumo e emissões do Inmetro. A unidade avaliada rodou, em média, 12 quilômetros com cada litro de gasolina, em um circuito que incluiu quase 70% de circuitos urbanos e o restante de rodovias. O sistema start-stop, que desativa o motor quando o carro está parado nos sinais, certamente dá sua contribuição nesse aspecto.
O T40 é um produto competitivo em seu segmento. Dinamicamente, é um crossover bem agradável. Uma frase, dita por um vendedor da concessionária carioca da JAC Motors que disponibilizou o modelo para a avaliação, expressa bem a principal questão em torno do crossover. “Se tivesse o logo da Volkswagen na frente, venderia dez vezes mais”, ponderou o funcionário. Ou seja, produto competitivo, a marca já tem. Agora, cabe à JAC mostrar aos brasileiros que é realmente uma marca confiável.
Ficha Técnica
JAC T40 CVT
Quero ver seminovo…