Em agosto do ano passado, a Volkswagen apresentou o visual definitivo do T-Roc. De lá para cá, o crossover começou a ser fabricado na cidade portuguesa de Palmela, na periferia de Lisboa, de onde abastece os mercados europeu e africano. A fabricação na China já está confirmada. Há chance de que passe a ser produzido também na fábrica paranaense de São José dos Pinhais, que já é responsável por outros dois modelos com a mesma plataforma MQB: o hatch Golf e sedã A3. Há ainda a possibilidade de que o T-Roc seja feito no México e, de lá, chegue ao mercado brasileiro. No Brasil, ficaria posicionado acima do futuro T-Cross – o novo utilitário esportivo compacto derivado do Polo, cuja produção no Paraná já está confirmada – e abaixo do Tiguan. Para o consumidor brasileiro, o T-Roc já foi mais que “anunciado” – versões conceituais foram exibidas no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo em 2014 e 2016, atraindo grande interesse. Esse ano, o definitivo T-Roc será um dos destaques no estande da Volkswagen na próxima edição do motorshow paulistano, que acontecerá de 8 a 18 de novembro.
Em termos de design, o T-Roc exibe uma estética apelativa, mas que está longe de surpreender. A frente é tipicamente Volkswagen, enquanto a traseira é mais personalizada e confere ao modelo, ao mesmo tempo, um ar jovial e uma pose algo distinta. A principal responsabilidade por um visual mais dinâmico também está na traseira, que não deixa de ser um atributo estético forte do T-Roc. O estilo do veículo pode variar em função das diversas possibilidades de personalização exteriores e interiores disponíveis, principalmente o teto de cor diferente e as sete cores interiores. E a traseira é justamente a parte mais personalizável do SUV compacto da Volkswagen.
Na Europa, o T-Roc é disponibilizado com três versões de acabamento (a básica, a Style e a Sport), três opções de motor a diesel e três a gasolina, todos turbinados. Os motores a gasolina são o 1.0 de três cilindros com 115 cavalos – o mesmo usado no Brasil, em versões flex com potência mais elevada, no Up, Golf, Polo e Virtus –, um 1.5 de 150 cavalos e um 2.0 de 190 cavalos. As opções turbodiesel são um 1.6 litro de 115 cavalos e um 2.0, que pode gerar 150 ou 190 cavalos, dependendo da configuração.
As versões do T-Roc que vêm com sistema de tração integral 4Motion tem a opção de alterar o perfil de condução e um comando rotativo no console permite escolher a configuração mais adequada para quatro tipos de piso. Dependendo da tração da versão, que pode ser frontal ou integral, a suspensão traseira é por eixo de torção ou multibraços. Amortecedores ajustáveis são oferecidos como opcionais, assim como controlador de velocidade adaptativo, leitor que repete as placas de trânsito na tela do navegador e assistente de farol alto – que abaixa os faróis automaticamente quando algum carro vem no sentido oposto.
Experiência a bordo
Habitabilidade generosa
Antes de passar ao interior do T-Roc, é importante perceber quais os objetivos da Volkswagen para o carro, assim como o seu posicionamento dentro da linha de modelos da marca. Apesar de ter por base a mesma plataforma modular MQB (aquela que, entre muitos outros modelos do grupo, também serve o Golf), tem dimensões mais contidas do que as do Tiguan de cinco lugares em todos os sentidos (incluindo a distância entre-eixos). Na Europa, pretende rivalizar com os modelos de referência do subsegmento dos utilitários esportivos mais popular na região, o chamado B SUV.
Assim se explica, pelo menos em parte, uma qualidade de revestimentos internos que pouco tem a ver com o padrão elevado já conhecido do Golf, o hatch da marca que, em termos tanto mecânicos quanto de dimensões, mais se aproxima do T-Roc. Na Europa, para ajudar a garantir um preço bem mais interessante do que o do Tiguan, os plásticos do T-Roc são, na sua maioria, bastante duros e ásperos, daqueles que facilmente se riscam com um objeto mais pontiagudo. Para o Brasil, no entanto, a Volkswagen poderá adotar acabamentos superiores no T-Roc, para tentar “roubar” a clientela de modelos como o Jeep Compass e o Honda HR-V. Contra os concorrentes menores e mais baratos, como o Jeep Renegade e o Honda WR-V, o encarregado de encarar a briga será o T-Cross, o SUV derivado do Polo.
Se os revestimentos internos não impressionam tanto no T-Roc produzido em Portugal, a montagem rigorosa ajuda a garantir que os ruídos não sem ampliem com a inexorável passagem do tempo e da quilometragem. A habitabilidade é generosa, ao nível da principal concorrência em termos de espaço para pernas atrás, e referencial em termos de largura e altura, o mesmo acontecendo com a capacidade do bagageiro, que leva generosos 445 litros. O apelo visual se beneficia muito da faixa horizontal que passa o tablier e se estende às portas, e da moldura que ornamenta a console central, ambas na mesma cor da carroceria. O impacto estético se torna ainda mais convincente caso o veículo esteja equipado como o vistoso opcional de painel de instrumentos totalmente digital Active Info Display, instalado na unidade testada.
Impressões ao dirigir
Agradável consistência
Lisboa/Portugal – No T-Roc “made in Portugal”, uma das versões mais vendidas é a 1.0 TSI Style, de 115 cavalos, com câmbio manual de seis velocidades e tração dianteira. Exatamente a versão avaliada, que é oferecida nas concessionárias portuguesas da Volkswagen por 31.168 euros – equivalente a R$ 133 mil. Dotada de um nível de equipamentos intermediário, inclui quase tudo o considerado essencial pelo comprador português típico deste gênero de veículo e da faixa de preços.
A posição de dirigir é mais alta do que em um sedã, como se espera e pretende em um SUV, mas não à custa de uma colocação demasiadamente elevada do banco face aos outros elementos do habitáculo, o que resulta em uma postura ao volante muito correta. Uma vez em marcha, é possível identificar uma maior proximidade com o Golf em termos do rodar típico de um Volkswagen, sólido, firme, que supera com competência as irregularidades. O T-Roc transmite aquela sensação de conforto tipicamente germânica, capaz de conjugar comodidade com uma sensação de permanente controle, que acaba por confirmar-se na prática.
Com o motor 1.0, o comportamento dinâmico não é especialmente envolvente. Mas fica marcado por uma inequívoca competência, graças à correta afinação das suspensões, aos freios devidamente dimensionados e a uma direção precisa e direta. Segurança, neutralidade e facilidade de condução são fatores determinantes no conforto de quem dirige, e o T-Roc executa-os muito bem, com notável honestidade e eficácia. Mesmo sem apelar propriamente à emoção.
No fora-de-estrada, como a versão não dispõe de tração integral e o ESP fica sempre ativo, o motorista não deve aspirar a mais do que enfrentar terrenos que também não seriam inacessíveis a qualquer sedã. Pelo menos a altura em relação ao solo um pouco mais elevada garante alguma tranquilidade na transposição de eventuais obstáculos.
Quanto ao motor, o desempenho da unidade 1.0 TSI de 115 cavalos e 20,4 kgfm acaba por ser surpreendentemente bom, tendo em conta o porte e o peso de praticamente 1.300 quilos. Ainda mais pelo longo escalonamento da caixa manual de seis velocidades, em especial da sua última relação, para garantir consumos comedidos – são bastante aceitáveis na cidade, e ainda melhores na estrada, desde que o motorista mantenha um ritmo e um estilo de condução “civilizados”. Se o relevo se torna mais acentuado, o consumo logo começa a aumentar. E quando o motorista dirige em ritmo mais dinâmico ou transporta maior quantidade de passageiros e/ou carga, o consumo também se eleva rapidamente.
A performance dinâmica, mesmo sem fazer do T-Roc 1.0 TSI um “velocista”, acaba por ser bastante razoável. Até é possível usufruir de outro divertimento ao volante fazendo bom uso da caixa manual de seis marchas para retirar todo o potencial do solícito motor de três cilindros turbo, de 999 cc. Somente nessas circunstâncias de regimes mais elevados que o ruído do motor se faz sentir de forma mais intensa no habitáculo. Na maioria das vezes, o bom isolamento acústico ajuda a assegurar que o trabalho do motor passe praticamente despercebido para os ocupantes.
Tudo somado, há de se reconhecer que, para grande parte dos seus usuários, o novo T-Roc 1.0 TSI Style é um utilitário esportivo bastante capaz de cumprir com as suas necessidades e expectativas. Segundo a Volkswagen, a velocidade máxima do T-Roc 1.0 turbinado é de 187 km/h e a arrancada de zero a 100 km/h pode ser feita em 10,1 segundos. E o consumo, também de acordo com a marca, fica em 22,2 km/l na estrada e 16,3 km/l na cidade. Números que, com o tanque de 50 litros, proporcionariam uma autonomia de quase mil quilômetros. (colaborou Luiz Humberto Monteiro Pereira/Agência AutoMotrix)