Quando chegou ao Brasil, em 2009, o City representava uma aposta ousada. Embalada pelo sucesso local do monovolume compacto Fit, a Honda resolveu produzir no mercado brasileiro a versão sedã. Só que a marca japonesa apresentou um modelo com dimensões e preços próximos aos do seu sedã médio, o Civic. E o estreante City acabou inaugurando um novo segmento por aqui – que alguns chamam de sedãs compactos-médios, outros de sedãs compactos premium. Mais espaçosos, equipados e caros que os compactos convencionais, são sedãs voltados para um consumidor que não pode ou não quer pagar o preço de um sedã médio, mas busca um “algo mais” em relação aos compactos – algo que possa ser percebido por ele e pelos outros. O City atendeu solitariamente a essa demanda até 2011, quando foi lançado o Chevrolet Cobalt. Os dois “dividiram o bolo” praticamente sozinhos até o início desse ano, quando dois adversários de peso chegaram ao mercado: o Volkswagen Virtus e o Fiat Cronos. Na esteira dos lançamentos da concorrência, a Honda apresentou ainda em fevereiro uma reestilização do City, já como modelo 2019, com retoques visuais em relação à geração lançada em 2014 e um novo sistema de infoentretenimento, herdado do Fit. Em sua versão “top” EXL, o City exibe suas melhores armas para encarar os novos concorrentes do agora concorrido segmento – que terá também a versão sedã do Toyota Yaris, esperada para os próximos meses.
A reestilização do sedã da Honda se concentrou na dianteira e incluiu a adoção de novos para-choques, grade frontal redesenhada, emblema da marca maior e faróis mais alongados, com luzes diurnas de leds incorporadas. O novo City expressa bem a linguagem visual global da Honda, que aposta na fluidez e ressalta o aspecto aerodinâmico. A frente ficou mais parecida com a do Civic. Já na traseira, as lanternas ganharam guias em leds. No perfil, a única novidade são as novas rodas. Por dentro, além da central multimídia “emprestada” do Fit, as mudanças também foram poucas. Continua com superfícies rígidas, sem revestimentos acolchoados, e apliques em “black piano” e em alumínio para reforçar o aspecto de sofisticação.
As poucas alterações estéticas e em termos de equipamentos certamente foram bem-vindas, mas a Honda certamente decepcionou muitos fãs do City ao deixar de incorporar ao sedã sistemas de segurança que passaram a ser de série no Fit no ano passado – controles de estabilidade e de tração e assistente de partida em rampa. Itens que estão nos concorrentes do segmento e até em alguns compactos menores. A justificativa para a não inclusão dessas tecnologias do novo City, onde não são oferecidas sequer como opcionais, provavelmente passa pela necessidade de manter o preço do sedã competitivo em relação à concorrência. Talvez para tentar “limpar a barra” no aspecto dos equipamentos de segurança, a versão ELX do City incorpora airbags de cortina de série, além dos frontais e laterais – é o único modelo de todo o segmento com seis airbags. Retrovisores externos eletricamente rebatíveis, computador de bordo digital, ar-condicionado digital e bancos com revestimento que imita couro também são de série na versão “top” do City.
Sob o capô do City 2019 está o mesmo propulsor motor 1.5 i-VTEC FlexOne do Fit. A potência continua nos 115/116 cv a 6 mil giros com gasolina e etanol, respectivamente. O torque também permanece em 15,2/15,3 kgfm, com gasolina/etanol. Também herança do Fit, o CVT com sete marchas simuladas e conversor de torque é de série na versões Personal (para deficientes físicos), LX, EX e EXL. A única opção com câmbio manual do City é a básica DX.
Em um segmento repleto de novidades e com outras por vir, é natural que as vendas do City sofram um baque nos próximos meses, até que o impacto emocional dos lançamentos seja absorvido e o consumidor tenha uma visão mais racional dos prós e contras dos modelos disponíveis. E é exatamente esse fator racional que a Honda acredita que vá voltar a embalar as vendas de seu sedã. Junto com o câmbio CVT, um “ícone” da racionalidade automotiva, outro inegável atributo racional do City é o baixo consumo de combustível – é o único do segmento que obteve nota “A” nas avaliações feitas pelo Inmetro. A imagem de confiabilidade mecânica conquistada pela Honda no Brasil também deve contar a favor do sedã da Honda, que em sua versão de topo de linha EXL é oferecido nas concessionárias da marca por R$ 83.400.
Experiência a bordo
Ambiente sóbrio
Para quem já conhece o sedã compacto-médio da Honda, as mudanças internas foram poucas. Suas linhas de design ainda são conservadoras e inconfundivelmente orientais. Os plásticos, embora duros, parecem de boa qualidade. O apliques em “black piano” e aluminizados da versão EXL reforçam o quesito elegância. A principal novidade é a moderna central multimídia, que tem tela de sete polegadas. Na versão EXL, o equipamento agrega GPS, conectividade com Apple CarPlay e Android Auto e comandos de voz, além de exibir as imagens da câmara de ré.
Em termos de espaço, o City segue a cartilha do seu segmento e leva cinco pessoas com espaço bem similiar ao de um sedã médio. É bastante amplo e confortável – notadamente para os ocupantes dos bancos traseiros. Os assentos são agradáveis de sentar, tanto na frente quanto atrás, e há fartura de porta-objetos, todos bastante funcionais. Já o “degrau” no piso da frente do habitáculo, gerado pela presença do tanque de combustível sob os bancos dianteiros, pode incomodar quem está nos bancos dianteiros e eventualmente esbarra com o calcanhar no ressalto.
O cluster é simples, sem mostradores espalhafatosos. Lá estão um conta-giros pequeno e um computador de bordo, acessível por meio de uma pouco prática haste que se projeta do cluster. Tecnologias “quase fúteis”, que servem para impressionar os outros mas que têm pouco impacto real na usabilidade do veículo – como acendimento automático dos faróis, sensor de chuva e chave presencial –, não estão presentes no City. Foram dispensadas pela engenharia da Honda, provavelmente em respeito à racionalidade nipônica. Pelo mesmo princípio lógico, equipamentos úteis como as luzes diurnas (DRL), que aumentam a segurança e ainda ajudam a evitar multas, são itens de série em toda a linha, assim como o ajuste de altura e profundidade do volante – recurso importante, mas inexistente em alguns concorrentes “novatos”.
Talvez para quebrar um pouco a austeridade reinante no ambiente, nas molduras do velocímetro, existe uma luz que funciona como econômetro e muda de cor conforme a pressão no pedal do acelerador: verde quando se dirige de maneira econômica, azul quando o motorista está pressionando demais o acelerador. Uma pitada lúdica, mas sem perder de vista o propósito racional japonês.
Impressões ao dirigir
Baixo estresse
Rio de Janeiro/RJ – Ao colocar o sedã da Honda em movimento, é fácil perceber que o motor 1.5 i-Vtec 16V dá conta das retomadas. A nova transmissão CVT, com conversor de torque, ajuda a fazer ultrapassagens sem “soluços” nem vacilações. Quando o motorista pisa mais forte no acelerador, o ganho de velocidade surpreende positivamente, apesar do barulho elevado que sai do motor – característico dos carros com CVT. Mas a performance, embora não seja decepcionante, também está longe de ser arrebatadora. Deixa claro que o City efetivamente não tem pretensões esportivas, apesar do “paddle-shifts” atrás do volante permitirem alterar as marchas simuladas para explorar melhor o potencial do motor na versão EXL. No modo automático, existe a posição Sport, que eleva as rotações do motor em cerca de mil giros. Além de aumentar o ruído do “powertrain” (e certamente o consumo), o resultado no desempenho é pouco perceptível.
Em termos de equilíbrio dinâmico, a suspensão é bem acertada e o novo City se revela um sedã bom de curva. Circula em trajetórias sinuosas e em alta velocidade sem adernar excessivamente. A calibragem de molas e amortecedores privilegia o conforto, como se espera de um sedã familiar. Em nome da prudência, a injustificável ausência de controle de estabilidade e tração no City também inibe um pouco a vontade de pisar mais forte no acelerador.
Até o momento, o City é o único modelo do segmento de sedãs compactos-médios com câmbio CVT – que normalmente não está em veículos que proporcionam performances dinâmicas muito emocionantes. Mas certamente a transmissão continuamente variável dá sua contribuição na economia de combustível. Com nota A do Inmetro, o City sai na frente dos concorrentes nesse aspecto. Para o uso predominantemente urbano, nas cada vez mais engarrafadas metrópoles brasileiras, o baixo consumo e as respostas mais comedidas às pressões no pedal do acelerador têm um efeito tranquilizador, que gera redução no estresse do motorista. Algo que, para muitos consumidores que não vivem com tanta pressa, principalmente os de faixas etárias mais elevadas, pode ser um atrativo do City.