O nome Virtus já dava pistas das pretensões da Volkswagen ao lançar seu novo sedã. Em latim, o termo “virtus” designa virtude, talento e o poder de uma coisa para produzir determinados efeitos. E o efeito desejado pela Volkswagen, além de crescer no segmento de sedãs compactos bem equipados, era valorizar a imagem da marca em mercados como o brasileiro – o primeiro onde o carro foi vendido. Para isso, criaram um sedã realmente diferenciado do hatch original, o Polo, e com uma personalidade própria. Em sua versão intermediária 200 TSI Comfortline, o Virtus combina um trem de força moderno e econômico com um bom padrão de acabamento e equipamentos, mas sem as “firulas” e o preço adicional da “top” Highline. É a versão que expressa os melhores atributos do sedã.
Já na origem do Virtus, a marca alemã adotou uma estratégia original. Normalmente, nos sedãs derivados de hatches compactos, os designers se limitam a adaptar as portas traseiras, o teto e ampliar o porta-malas. De fato, a frente do Virtus pouco se diferencia da do Polo. Mas a engenharia aproveitou a modularidade da moderna plataforma MQB e aumentou o entre-eixos em 9 centímetros – são 2,65 m ante 2,56 m do Polo. Além da ampliação do espaço interno, esse alongamento da plataforma trouxe outro “efeito colateral” interessante. Com seus 4,48 m de comprimento, 1,75 m de largura e 1,47 m de altura, o Virtus ostenta um porte mais vistoso que concorrentes como o líder de vendas do segmento de sedãs compactos, o Chevrolet Prisma (4,28 m x 1,70 m x 1,47 m), o Hyundai HB20S (4,23 m x 1,68 m x 1, 47 cm) e o novato Fiat Cronos (4,36 m x 1,72 m x 1,51 m). Em termos de tamanho, briga com os sedãs compactos maiores, como o Honda City (4,45 m x 1,69 m x 1,48 m) e o Chevrolet Cobalt (4,48 m x 1,73 m x 1,52 m), que já tentam “beliscar” o público dos sedãs médios. No modelo produzido na fábrica de São Bernardo do Campo, o porte ainda é valorizado pelos traços alongados e fluídos, que reforçam o aspecto imponente.
Sob o capô do Virtus Comfortline está o motor 200 TSI, um flex de um litro com três cilindros, turbinado e com potência máxima de 128 cavalos. É o mesmo que equipa o Polo e também o Up e o Golf, em configurações diferentes – são 105 cv no subcompacto e 125 cv no hatch médio e 105 cv no subcompacto. O “200” da denominação do motor vem do seu torque máximo de 200 Newton-metros – equivalentes a 20,4 kgfm e presente de 2.000 a 3.500 giros. Já o “TSI” (Turbocharged Stratified Injection) indica a presença do turbocompressor com injeção direta de combustível. O “powertrain” é completado pela transmissão automática de 6 marchas com opção de trocas manuais sequenciais Tiptronic na alavanca de câmbio ou, opcionalmente, por aletas no volante. O modo esportivo altera os momentos das trocas de marchas para rotações mais elevadas para proporcionar um comportamento mais dinâmico.
Os R$ 73.490 cobrados pela versão Comfortline posicionam o modelo entre os R$ 59.990 na básica MSI, equipada com o motor aspirado 1.6 16V de 117/110 cavalos, e os R$ 79.990 da “top” Highline, que tem o mesmo trem de força da Comfortline mas vem de série com “paddle shifts” no volante, chave presencial para travas e ignição, controle de cruzeiro, rodas de liga aro 16, ar-condicionado automático e luzes diurnas em leds, entre outros itens. Na linha da Volkswagen, o Virtus se posiciona estrategicamente entre o Voyage e o Jetta. Em março, seu segundo mês de mercado, na briga dos sedãs compactos mais “parrudos”, o Virtus deixou para trás o estreante Fiat Cronos, o reestilizado Honda City e o Chevrolet Cobalt. Em abril, a disputa com o sedã da Fiat tornou-se mais acirrada – algo que deve se repetir nos próximos meses.
Experiência a bordo
Empatia interior
Quem entra no Virtus se impressiona com o espaço. É generoso para um compacto – o entre-eixos de 2,65 metros faz uma bela diferença, principalmente para quem viaja no banco traseiro. Lá, a percepção de espaço remete aos sedãs médios. Ainda que os bancos dianteiros estejam totalmente recuados, as pernas de quem vai atrás não são espremidas. A área para cabeça, ombros e cotovelos também é decente. Para atender aos modernos parâmetros de segurança, o Virtus traz de série itens como cintos de três pontos e apoios de cabeça para todos os assentos, airbags laterais além dos frontais e sistemas de ancoragem de assentos infantis. Isso ajudou a alcançar cinco estrelas no Latin NCap, que afere a segurança automotiva na América Latina.
Para quem vai dirigir, o sedã permite encontrar a posição ideal de condução. O ajuste de altura do banco do motorista é de série em todas as versões e a Comfortline conta ainda com regulagem de altura e distância do volante – que é revestido em couro, incorpora comandos multifuncionais e tem boa pegada. O porta-celular permite pendurar o smartphone no alto do painel para que o motorista possa utilizar dispositivos como o Waze. A traquitana é de série, mas pode ser removida por quem achar que sua presença compromete a estética interna. O descanso de braço central é ajustável longitudinalmente em 100 mm. Sob ele, há um compartimento para guardar objetos. O porta-luvas tem 8 litros de capacidade e opcionalmente tem refrigeração. Nas portas dianteiras, há nichos que acomodam garrafas de 1,5 litro.
Na versão Comfortline, o sistema de informação e entretenimento Composition Touch traz uma tela colorida sensível ao toque de 6,5” e conta com entradas USB, para SD-card e conexão Bluetooth. Permite conectividade por meio do App-Connect (Android Auto, Apple CarPlay e Mirrorlink), comando por voz e acesso ao “Car Menu”, com ajustes do veículo por meio da tela. O sistema integra ainda a imagem da câmera traseira de auxílio ao estacionamento. Também são de série ar-condicionado analógico, direção elétrica, travas e vidros elétricos, alarme, controle de estabilidade e tração, controle de descida, bloqueio eletrônico do diferencial, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, sensor de estacionamento, espelhos elétricos e saídas de ar para a fileira de trás.
A versão avaliada trazia o pacote de opcionais Tech II, que acrescenta R$ 3.500 ao valor da Comfortline e incorpora volante multifuncional com “paddle shifts”, acesso ao veículo sem o uso da chave e botão para partida do motor, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, controle automático de velocidade, espelho retrovisor interno eletrocrômico, farol com ajuste automático de intensidade e função coming/leaving home, sensor de chuva e crepuscular, ar-condicionado digital, câmera traseira, detector de fadiga, indicador de pressão dos pneus, porta-luvas iluminado e refrigerado, porta-malas com sistema de ajuste variável de espaço e rede no porta-malas. O pacote Tech II agrega ainda as belas rodas de liga leve 16” Design Nick, que substituem as de aro 15” de série na Comfortline.
Primeiras impressões
Acerto dinâmico
Como um sedã derivado do Polo, o Virtus herda dele as características de dirigibilidade, segurança, bom acabamento e prazer ao dirigir. E, como é 42,5 centímetros mais comprido do que o hatch, ainda oferece mais espaço para passageiros e bagagens, com um acerto suspensivo que permite uma performance um pouco mais suave e silenciosa. Ao volante, a sensação de solidez estrutural característica do Polo se repete, de forma ainda mais intensa.
O 1.0 tricilíndrico turbo de 116/128 cavalos, chamado de 200 TSI, empurra o sedã com vontade em qualquer situação, já que o torque máximo de 20,4 kgfm está disponível já aos 2 mil giros. Equipado com esse motor, o Virtus acelera de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos e atinge velocidade máxima de 194 km/h. Dá para encarar uma estrada e fazer ultrapassagens de forma desembaraçada, sem que o motorista tenha nenhuma sensação de estar em um daqueles tímidos modelos 1.0 aspirados de quatro cilindros do fim do século passado.
Quando é necessário parar, o sedã conta com freios a disco nas quatro rodas com sistema de autolimpeza, que melhoram a eficiência da frenagem em pisos molhados. O controle de tração gerencia eletronicamente o torque do motor para reduzir o escorregamento das rodas durante a aceleração ou quando o veículo começa a destracionar em curvas. Já o controle de estabilidade reconhece que uma situação de rodagem crítica está para acontecer e compara os comandos do motorista com as reações do veículo. Se necessário, o sistema reduz o torque do motor e freia uma ou mais rodas até atingir a estabilidade.
A suspensão é um ponto alto do Virtus. É capaz de filtrar bem as irregularidades ao mesmo tempo em que impede oscilações excessivas da carroceria em curvas ou buracos. O acerto segue o clássico estilo da Volkswagen, que privilegia a estabilidade – característica reforçada pela plataforma MQB, que tem elevado nível de rigidez. No conjunto da obra, em termos dinâmicos, a versão 200 TSI Comfortline é um belo produto, e o Virtus é uma inegável “bola dentro” da Volkswagen.