2016 foi um ano terrível em diversos setores da indústria automotiva brasileira – e o segmento de lubrificantes não foi exceção. As vendas de lubrificantes automotivos em todo o país ficaram em torno de 1,27 bilhão de litros – um total que retroagiu aos níveis de 2006, apesar da frota de automóveis circulante no país ter quase dobrado ao longo dessa década. Desde o ano passado, a comercialização de lubrificantes ensaia uma recuperação, que se intensificou em 2018. O suficiente para animar a indústria do setor, embora os dados de comercialização estejam bem distantes dos 1,5 bilhão de litros anuais vendidos em 2009 e 2010 – o pico histórico de vendas nacionais de lubrificantes automotivos.
De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo – ANP –, entre os fabricantes de lubrificantes automotivos disponíveis no Brasil, a BR Petrobras é responsável por 23% das vendas, seguida por Ipiranga e Cosan – que comercializa as marcas Moove e Mobil –, com 14% cada. Depois, vêm Chevron (Texaco), com 9% cada, seguidas de Shell, com 8%, Total, Castrol e YPF com 2% cada. As outras marcas oferecidas no mercado nacional totalizam os 17% restantes de “share”.
Além das oscilações nas vendas causadas pelas turbulências da economia nacional, as mudanças no perfil do consumidor de lubrificantes automotivos nos últimos anos também influenciam nas vendas. Algumas dessas transformações foram captadas por uma pesquisa realizada pelo Sindicom – Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes – com o objetivo de revelar os hábitos dos brasileiros sobre o uso de lubrificantes automotivos. Foram consultados homens e mulheres, maiores de idade, das classes A, B, C e DE, com carro no domicílio e responsáveis pela manutenção de seus veículos. Em termos geográficos, aproximando-se dos padrões nacionais de comercialização de lubrificantes automotivos, 57% dos entrevistados residem na região Sudeste, 20% no Sul, 12% no Nordeste e 10% no Norte/Centro-Oeste.
No que diz respeito à idade, os maiores responsáveis por manter os lubrificantes automotivos em dia estão na faixa dos 35 aos 44 anos. Os entrevistados menos preocupados com essa atividade estão na faixa dos 18 aos 24 anos. A pesquisa indica que a classe C é a líder entre os responsáveis pela troca de óleo – representa 50% das vendas. Nas classes A e DE, esse percentual fica em apenas 4%. Na classe B, 43% se disseram responsáveis pela atividade. Entre o público responsável pela troca de óleo dos carros, a pesquisa identificou que a maioria dos automóveis tem cerca de 10 anos de uso – 30% foram fabricados de 2006 a 2010. Em termos de utilização, 38% usam o veículo para lazer, 33% como ferramenta de trabalho e 29% como meio de transporte no dia a dia. Sobre o local escolhido para completar ou trocar o óleo da última vez, 32% optaram por oficinas, 29% preferiram os postos de gasolina e 11% recorreram às concessionárias – ainda existem 8% que fazem a troca em suas próprias casas.
Segundo a pesquisa, 45% dos entrevistados fazem a troca levando em consideração a quilometragem percorrida e 36% avaliam o tempo que se passou desde a última troca. 8% só se preocupam com o óleo quando o veículo passa por revisão e 4% só lembram do assunto quando há recomendação do mecânico. Entre os que usam a quilometragem como parâmetro, 20% esperam percorrer 5 mil quilômetros para trocar o óleo e 11% fazem o procedimento a cada 10 mil quilômetros. Para 4%, a hora certa de trocar o óleo é a cada 15 mil quilômetros. Já entre os que usam o tempo como referência para trocar o óleo, 16% o fazem a cada seis meses, 10% entre sete e 12 meses, 9% até cinco meses após a última troca e 2% somente após 15 meses depois da última manutenção.
Quando o assunto é o tipo de óleo utilizado, a pesquisa aponta que o sintético ocupa a liderança, com 31%, seguido de perto pelo semi-sintético, com 29%, enquanto 18% optam pelos óleos minerais. Já 21% admitem desconhecer que tipo de óleo usam. Na realidade, o percentual de desconhecimento é bem maior, pois os 31% de opção por óleos sintéticos apontados na pesquisa, segundo as empresas do setor, não correspondem nem de longe aos percentuais verdadeiros de vendas desses produtos no Brasil, que são consideravelmente menores. Ou seja, muitos até sabem que deveriam optar pelos óleos sintéticos, que são mais caros. Mas, na hora de pagar, acabam se abastecendo com óleos minerais, mais baratos.
Ainda de acordo com o levantamento feito pelo Sindicom, a confiança é o fator preponderante na escolha da marca de lubrificante. 29% dos consumidores levam em consideração a imagem da marca e 21% optam por seguir a recomendação do fabricante. Durabilidade e desempenho do produto são determinantes para 16%, enquanto outros escolhem apenas pelo preço (13%) ou seguem as dicas de profissionais de confiança (10%). Viscosidade, com 4%, e a proximidade com o local de troca, com 3%, também foram citados como relevantes na decisão de compra do lubrificante.
Marketing sustentável
Apesar da disputa para atrair os consumidores, as principais empresas do setor de lubrificantes se unem em torno de uma questão estratégica: a coleta e reciclagem de resíduos de óleos e embalagens usados, tradicionalmente considerados como “vilões” das legislações ambientais. Segundo a ANP, o setor de lubrificantes cumpre as metas determinadas de volumes de óleos usados coletados, que ficam entre 33% e 42%, dependendo da região do país. Por meio da chamada “logística reversa” – que consiste na captação e restituição de resíduos ao setor empresarial para reaproveitamento –, os lubrificantes usados coletados nacionalmente são re-refinados e utilizados como óleos básicos. A esses óleos básicos são acrescidos aditivos específicos – detergentes, dispersantes, antioxidantes, antidesgastantes e antiespumantes – para a produção de novos lubrificantes.
Ainda na “logística reversa”, para cuidar da captação e reciclagem das embalagens dos lubrificantes pós-consumo, as principais empresas do setor criaram e financiam o Instituto Jogue Limpo, que atua nos Estados das regiões Sul e Sudeste, no Nordeste – exceto Maranhão e Piauí – e Centro-Oeste – fora Mato Grosso e Goiás. A entidade emprega 192 pessoas e atualmente engloba cinco operadoras logísticas, 20 centrais de recebimento e 60 caminhões, que atendem a mais de 40 mil pontos geradores cadastrados ativos em mais de quatro mil municípios brasileiros. Segundo o Jogue Limpo, 613 milhões de embalagens de lubrificantes foram recolhidas no Brasil desde 2005, quando o Instituto começou sua atuação, inicialmente apenas no Rio Grande do Sul.