Chevrolet Tracker Premier

Quando a Chery desembarcou no Brasil, em 2009, o mercado automotivo nacional vivia um “boom”. A euforia continuava em 2011, ano em que a marca chinesa exportou para o Brasil um total de 21,6 mil carros. Foi quando governo resolveu cobrar um imposto maior dos veículos trazidos de fora do México e do Mercosul. A Chery retrucou anunciando a construção de uma fábrica em Jacareí (SP), com capacidade para produzir 150 mil carros por ano – um investimento de US$ 400 milhões. Mas, em 2015, a crise chegou e arrasou os planos dos chineses. No ano passado, a marca emplacou pouco mais de 3 mil unidades no país. O pífio desempenho a levou colocar à venda 50% de sua operação no Brasil. Não demorou para aparecer um interessado. Foi o Grupo Caoa, do empresário paraibano Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que tem mais de uma centena de concessionárias das marcas Ford, Subaru e Hyundai, além de uma fábrica própria na cidade goiana de Anápolis, onde são montados utilitários da Hyundai. Em novembro, a aquisição de 50% da Chery Brasil foi concretizada e surgiu a Caoa Chery. Agora, chega ao mercado o Tiggo 2, o primeiro produto da nova marca. “Somos uma marca brasileira! Vamos aumentar gradativamente a nacionalização de nossos veículos”, avisou o emocionado Carlos Alberto de Oliveira Andrade no lançamento do crossover compacto.

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Construído sobre a plataforma do hatch Celer e apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 2016, o novo modelo tem 4,20 metros de comprimento, 1,78 metro de largura e 1,57 metro de altura, com 2,55 metros de entreeixos. Em termos estéticos, em comparação com o Tiggo anterior, o design adotou um estilo mais europeu. O estepe foi retirado da tampa traseira e foi para dentro do porta-malas. Também herdado do Celer – mas devidamente reprogramado –, o motor Chery de 1.5 litro, com 4 válvulas por cilindros e comando de válvulas variável, é bicombustível com sistema de partida a frio elétrico. A potência é de 115 cavalos a 6 mil rpm e seu torque máximo é de 14,9 kgfm a 2.700  rpm – em ambos os casos, quando abastecido com 100% de etanol. A transmissão é manual de cinco velocidades, mas está prevista uma transmissão automática CVT até o final do primeiro semestre.

Em termos de acabamento, o Tiggo 2 reflete uma evolução expressiva em relação ao modelo lançado em 2009. A “parte Caoa” da nova marca agrega um conhecimento das idiossincrasias do consumidor brasileiro que um fabricante chinês leva tempos para absorver. Os revestimentos claros nos estofados, tão ao gosto dos consumidores orientais, foram providencialmente abolidos no modelo “made in Brazil”, que adota os padrões de cinza-chumbo hegemônicos por aqui.

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A preocupação com o atendimento no pós-venda é a principal restrição normalmente imposta aos modelos das marcas chinesas vendidos no Brasil. Por isso, o Grupo Caoa pretende mais do que dobrar a rede – eram 25 concessionárias Chery em 2017 e a previsão é inaugurar 30 novas concessionárias até dezembro. A Chery Caoa se baseia na larga “expertise” do Grupo Caoa para assegurar que as peças não faltarão e que seus serviços terão preços competitivos.

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Para enfrentar modelos já consagrados no país – os principais concorrentes apontados pela Caoa Chery são o Renault Duster e o Ford Ecosport –, a nova marca usa a mesma estratégia de Jac T40 e Lifan X60 para superar a velha desconfiança do consumidor brasileiro com os modelos chineses. Ou seja, preços competitivos e produtos bem recheados de equipamentos. O Tiggo 2 chega nas versões Look e ACT, ambas com o mesmo trem de força. A Look conta com direção hidráulica, ar-condicionado, pacote elétrico completo, rodas de liga-leve 16″, Isofix, sensor de estacionamento traseiro, luz diurna de rodagem e freios a disco nas quatro rodas, entre outros itens. Parte de R$ 59.990. Já a ACT acrescenta teto solar, central multimídia de 8″ – com espelhamento de celular Android e IOS –, controle de estabilidade e de tração, assistente de partida em rampa, volante multifuncional em couro, piloto automático e ar-condicionado automático, entre outras coisas, e custa R$ 66.490. O único opcional na versão é o teto pintado em preto para as cores prata, branco e azul, que sai por R$ 1.500. A meta para 2018 é vender mil unidades mensais do Tiggo 2. A Caoa Chery promete lançar outros três veículos ainda esse ano.

Primeiras impressões

Processo evolutivo

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Itupeva/SP – No teste de apresentação feito em um circuito rodoviário de 40 quilômetros na periferia de Itupeva, no interior paulista, o primeiro modelo da Caoa Chery deu conta do recado. Embora menor que o 2.0 de 138 cavalos que movia o Tiggo anterior, o motor 1.5 de 115 cavalos move o modelo com dignidade no asfalto, sem excessos de esportividade mas sem demonstrar falta de folego. Seu desempenho é otimizado quando o motorista faz uma utilização correta do câmbio manual de cinco marchas, que tem engates precisos. Se não houver preguiça de engatar a marcha certa, é possível manter o carro disposto para as eventuais ultrapassagens. Pelo padrão Inmetro, o consumo com gasolina divulgado é de 12,34 km/l na estrada e 10,94 km/l na cidade.

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Nas raras curvas do circuito proposto, o modelo mostrou estabilidade e inclinou pouco. Apenas nas mudanças mais bruscas de direção, o rolamento da carroceria é perceptível. A suspensão, com 18,6 centímetros de altura em relação ao solo, permite ultrapassar lombadas de forma despreocupada. A posição ao dirigir é agradável, a visibilidade é correta e os bancos são aconchegantes. O barulho do motor invade o habitáculo um tanto mais que o desejável, mas essa é uma característica comum ao segmento de crossovers compactos. Quando foi necessário transpor alguns buracos, o Tiggo 2 o fez com serenidade e sem afetações. Para quem viaja atrás, o banco bipartido conta com três encostos de cabeça e cintos de três pontos nos três assentos.

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Uma coisa que a Caoa precisa aperfeiçoar no Tiggo 2 é o chamado “cheiro de carro novo”. Algo que normalmente se traduz em um aroma agradável e reconfortante. Trata-se de um fator tão relevante na decisão de compra que muitas marcas investem na “engenharia de cheiros” para dar fragrâncias mais sedutoras aos seus modelos. Tal nível de requinte ainda não chegou ao mercado chinês, onde os veículos novos normalmente exalam um odor untuoso, que remete vagamente ao do famoso Óleo Singer. Embora de forma bem mais sutil que os primeiros modelos chineses que chegaram ao Brasil, o Tiggo 2 ainda recende um pouco ao tradicional lubrificante doméstico. Com a expansão da “parte Caoa” na Caoa Chery e o esperado aumento no índice de nacionalização do modelo – que atualmente está abaixo dos 20% –,o Tiggo 2 produzido em Jacareí deverá evoluir também no aspecto olfativo.

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