Estrela do estande da Lexus no último Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, em novembro de 2018, o UX desembarcou no Brasil este ano e conquistou lugar de destaque nas concessionárias da marca. Não havia como evitar: a imagem é mesmo um grande atrativo do novo utilitário esportivo da divisão de luxo da Toyota. As proteções em plástico da carroceria transmitem a noção de um SUV vocacionado para o off-road, mas contrastam com a altura ao solo de 16 centímetros, que não difere muito dos carros convencionais – mais parece um hatch esportivo que propriamente um SUV. No Brasil, o UX 250h encara concorrentes como o BMW X2, o Jaguar E-Pace e o Volvo XC40. O preço já indica que não será um carro muito fácil de se ver pelas ruas. A versão “top” F Sport custa R$ 214.490 – a de entrada, a Dynamic, sai por R$ 173.490, e a intermediária Luxury é oferecida por R$ 193.990.
O nome UX significa “crossover urbano” – e talvez crossover talvez seja, mesmo, a melhor classificação para o veículo. A sua aparência muito original e futurista, simultaneamente distinta e agressiva, dominada por linhas angulosas, garante que este é um automóvel que dificilmente passa despercebido. Menos ainda na versão F Sport, dotada de uma série de elementos externos que tornam as linhas do modelo ainda mais apelativas. Uma imagem de acordo com a tendência atual de polivalência – combina características de SUV e de cupê esportivo.
O interior do UX 250h F Sport é bem concebido e marcado pelo painel de instrumentos muito semelhante ao do cupê LC. O mostrador central digital, além de mudar de aparência em função do modo de direção selecionado, pode deslocar-se para a direita, em um soberbo movimento mecânico, para aumentar a área em que um indicador digital apresenta diversas informações. Os comandos circulares, no topo de ambos os lados da respectiva moldura, servem para mostrar a seleção dos modos TCS off/ESP do controle eletrônico de estabilidade (à esquerda) e dos modos condução Eco, Normal e Sport (à direita).
Primeiro Lexus a adotar a plataforma GA-C (Global Architecture Compact), versão bastante otimizada da TNGA utilizada pelos Toyota Prius, CH-R e Corolla, o UX obteve maior leveza graças às portas e ao capô construídos em alumínio. Capô sob o qual, no caso do UX 250h F Sport, está montada uma motorização híbrida composta pelo motor 2.0 a gasolina de quatro cilindros, com 145 cavalos e 19,2 kgfm de torque, e por um elétrico com 107 cavalos e 20,6 kgfm alimentado por uma bateria de hidretos metálicos de níquel, fornecendo uma potência combinada de 181 cavalos. A transmissão é do tipo CVT de variação contínua, com seis posições pré-definidas, acionáveis por meio do comando manual em sequência, disponível na alavanca ou nos “paddles shifts” no volante. No modo totalmente automático, oferece as opções de funcionamento Normal e Sport, esse último um pouco mais dinâmico, além de um modo 100% elétrico acionável em um botão específico, colocado entre os bancos. Um “powertrain” similar equipa o Corolla europeu topo de linha. No Brasil, onde a nova geração do sedã da Toyota será apresentada em setembro, a versão híbrida virá com motor 1.8 flex. (colaborou Luiz Humberto Monteiro Pereira/Agência AutoMotrix)
Experiência a bordo
Elegância equipada
Na versão F Sport, o UX 250h tem computador de bordo com tela TFT de 8 polegadas, head-up display – que projeta informações do painel no para-brisa –, iluminação interna em leds, ar-condicionado automático com fluxo ajustável para apenas frente ou o carro todo, TV digital, DVD-player, GPS e câmera de ré. A qualidade de construção, materiais e acabamentos é de nível superior. Merecem nota especial os bancos esportivos revestidos em couro e Alcântara da versão F Sport. Os dianteiros proporcionam um bom apoio, contribuindo de forma decisiva para dar uma posição correta ao motorista, baixa (muito mais do que o habitual nos SUV) e muito envolvente. Apesar do fácil acesso ao interior, a habitabilidade traseira é ideal apenas para dois passageiros adultos, menos pelo espaço para pernas do que pela largura. O porta-malas também é acanhado, com modestos 234 litros de capacidade.
Mas tais “efeitos colaterais” decorrentes das dimensões externas compactas são mais características do que, propriamente, defeitos. Algo que merecia ser revisto no UX 250h é o sistema de infoentretenimento. Não compatível com aplicativos como Apple CarPlay, é completo em termos de funções, porém, com um grafismo simplista e algo antiquado – basicamente o mesmo de outros modelos da Toyota. O touchpad de comando, pela sua sensibilidade, exige prática para se acertar de primeira o que se pretende. Um problema parcialmente reduzido pela “central de comando” das funções multimídia, montada entre os bancos e que assenta perfeitamente sob a palma da mão, com vários botões destinados a comandar as principais funções de áudio.
Impressões ao dirigir
Tecnologia em movimento
Lisboa/Portugal – Embora seja possível percorrer uns poucos quilômetros no modo exclusivamente elétrico (disponível até os 115 km/h) do UX 250h F Sport, a principal função da vertente híbrida é mesmo otimizar ao máximo a eficiência do conjunto, permitindo que o motor a combustão seja desligado sempre que possível. O motor elétrico é responsável por dar a partida, todavia, o propulsor a gasolina entra em cena quando o motorista pisa mais fundo no acelerador. O funcionamento dos motores pode ser acompanhado na tela da central multimídia, inclusive quando a bateria está sendo regenerada, durante as freadas. Em termos de consumo, sobram elogios para o UX 250h – a Lexus fala em 16,7 km/l (cidade) e 14,7 km/l (estrada), e não é difícil de se atingir tais índices dirigindo com moderação no uso do acelerador. Caso se opte por andar sempre com “pé embaixo”, as médias podem aproximar-se dos 10 km/l. A performance convence em termos de acelerações e recuperações. Em qualquer dos modos de condução disponíveis, a resposta do motor, mesmo nas solicitações mais intensas, é sempre pronta, mais constante do que vigorosa, como é típico de transmissões CVT. A velocidade máxima de 177 km/h parece um tanto modesta para a categoria.
Algumas características do UX 250h comprovam que o seu principal mérito é mesmo a eficiência. Nas acelerações mais intensas, a transmissão leva o motor de imediato para o seu regime máximo de funcionamento, o que acaba por ser acompanhado da habitual sonoridade esforçada da unidade motriz, não mais presente no habitáculo devido ao preciso isolamento acústico e térmico. Outro ponto a rever seria o fato de o modo Sport, um pouco mais responsivo, ser acompanhado do emulador de som que tenta, de uma forma um tanto artificial, replicar a sonoridade de um motor mais poderoso.
O UX 250h F Sport é bastante fácil e seguro de se dirigir. Se não chega a ser propriamente esportivo, também não deixa de ser envolvente. Desligar por completo do ESP confere um pouco mais de agilidade à performance, no entanto, a realidade é que o grande equilíbrio do chassi, os pneus largos e o caráter do próprio motor voltam a apontar para uma utilização racional, familiar e civilizada. É desse modo que o modelo mais consegue brilhar, até porque o nível de conforto que a sofisticada suspensão, com amortecimento pilotado, oferece é simplesmente impressionante, mesmo nos pisos mais degradados. Esse parece ser, de fato, o SUV em que a Lexus mais apostou na qualidade da dinâmica, gerindo de forma exemplar as transferências de massa, por suas evoluídas e bem afinadas suspensões.
A versão mais equipada do crossover da Lexus se revela um automóvel extremamente racional e competente, mas com um design externo e interno capaz de despertar paixões e um comportamento bastante mais convincente do que o da maioria dos modelos da sua categoria. Destaques para a imagem ousada e diferenciada, qualidade geral e o requinte, a dinâmica equilibrada, os baixos consumos e a extrema facilidade de utilização. Entre os aspectos que mereceriam ser aperfeiçoados estão a capacidade restrita do porta-malas, o ruído elevado do motor em altos giros, o sistema de infoentretenimento e a largura limitada no banco traseiro.