Marcelo Queiroz/Agência AutoMotrix

O Logan nunca foi tratado como um produto de primeira linha pela Renault do Brasil. Quando foi lançado por aqui, em 2007, seu estilo um tanto antiquado se tornou alvo de comentários pouco elogiosos. Por isso, a marca optou por tentar focar em outras qualidades, como robustez, espaço interno e amplo porta-malas, jamais dando qualquer destaque à estética. O sedã de origem da marca romena Dacia nunca teve grande apoio de publicidade e marketing, algo que não faltou ao Sandero, hatch derivado do próprio Logan, e também ao subcompacto Kwid – não por acaso, ambos se tornaram os maiores sucessos da marca no Brasil. A aguardada reestilização da segunda geração do sedã aconteceu em julho passado, trazendo mudanças visuais tímidas e introdução de novos itens de conforto e segurança na lista de equipamentos de série. O que salva o injustiçado compacto da Renault da mesmice é a introdução da nova versão de topo de linha Iconic, junto com o câmbio CVT X-Tronic.

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Esteticamente, é difícil notar a diferença estre o novo Logan e o anterior. Assim como no Sandero, a dianteira ganhou um novo para-choque, de aspecto mais encorpado, enquanto a grade ficou maior e composta por filetes horizontais mais elegantes. Os faróis mantêm praticamente os mesmos contornos dos antigos, com redesenho concentrado em seus elementos internos, incorporando luzes diurnas em forma de “C”, seguindo a nova identidade estilística da marca, inaugurada pelo novo Megane na Europa. A decepção ficou para a traseira, que permaneceu inalterada, com lanternas idênticas às do modelo antigo. O belo conjunto óptico traseiro do Sandero, com uma parte que avança para a tampa do porta-malas, inspirado nas lanternas dos novos Renault europeus, ficou como item exclusivo do hatch. As novas lanternas dariam ao Logan um aspecto mais sofisticado que o modelo tanto precisa para encarar os concorrentes mais modernos do segmento. Por um detalhe, perderam uma grande oportunidade de colocar o sedã no jogo liderado por Volkswagen Virtus e Fiat Cronos.

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Existe também um aspecto inusitado no visual do novo Logan, mais especificamente das versões equipadas com motor 1.6 e transmissão automática CVT, que é a suspensão elevada em 4,5 centímetros, necessária para incorporar a nova caixa de transmissão, acabando por dar um aspecto “aventureiro” ao modelo. O efeito visual é incomum em um sedã, ainda que o asfalto das vias pública brasileiras normalmente exija qualidades off-road de qualquer veículo que trafegue por elas. Juntamente com a elevação das suspensões vieram as molduras plásticas nas caixas de rodas e soleira das portas, além da adoção de rodas de 16 polegadas, itens agregados para disfarçar um pouco o aumento do vão das rodas e dar mais equilíbrio ao visual. Se o sedã ficou com um aspecto mais parrudo, algo muito apreciado em tempos de SUVs, o conjunto da obra é um tanto controverso.

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O mix de versões do Logan adota o novo padrão de nomenclatura da marca, já utilizadas pelo Captur e pelo Kwid, identificadas como Life, Zen, Intense e Iconic. E a topo de linha Iconic 1.6 CVT X-Tronic, por R$ 71.090, tem a tarefa de dar ao Logan um “status” de requinte e modernidade que a própria Renault jamais conseguiu conferir ao injustiçado sedã.

Experiência a bordo

Conforto racional

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Assim como o desenho externo do Logan foi timidamente atualizado, o interior também não recebeu mudanças profundas. O painel de instrumentos e as forrações das portas mantiveram o visual inaugurado em 2014. Os bancos receberam nova padronização de revestimentos e ficaram um pouco mais envolventes e confortáveis. De novo, mesmo, apenas o volante, semelhante ao utilizado pelo Clio europeu. Se o Logan não é um carro luxuoso, ao menos não passa vergonha. A cabine é acolhedora e a forração preta no teto deixou o habitáculo mais elegante. Os plásticos estão por todos os lados, mas têm textura agradável e de boa qualidade. A chave do tipo canivete, outro item de série na linha, reforça o esforço de parecer mais sofisticado.

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O bom espaço interno permite viagens com folga para quatro adultos, acomodando até mesmo cinco ocupantes com relativo conforto. Na versão Iconic, a lista de itens de série é bem recheada. O sistema multimídia Media Evolution incorpora tecnologia Android Auto e Apple CarPlay, que permite usar Spotify, Waze, Google Maps (Android Auto) e áudios de WhatsApp. A tela “touchscreen” de 7 polegadas agora é do tipo capacitiva, com melhor precisão do toque. O Media Evolution traz ainda as funções Bluetooth, câmera de ré (em algumas versões) e outras funções que ajudam o motorista a economizar combustível. Outros itens disponíveis são o comando satélite no volante, sensor de estacionamento, ajustes de altura do banco e do volante, computador de bordo, alarme e vidros elétricos com “one touch”. O controle eletrônico de estabilidade (ESC) e o assistente de partida em rampas (HSA) também estão disponíveis de série, assim como o ar-condicionado automático, a câmera de ré, os faróis de neblina, os vidros traseiros elétricos, os retrovisores elétricos e o piloto automático (controlador e limitador de velocidade).

Primeiras impressões

Limites da ousadia

Campinas/SP – O Renault Logan 2020 avançou na segurança e no conforto, mas permanece usando tecnologias anacrônicas tais como o tanquinho de gasolina para a partida a frio e o sistema eletro-hidráulico de assistência à direção. Embora isso não desmereça o produto, são características que fazem o Logan manter um pé no passado e outro no presente. Um moderno sistema de partida que dispense o reservatório adicional de combustível fóssil, assim como uma precisa e leve direção com assistência elétrica, equiparariam o Logan à concorrência. Parece que a fabricante, diante de uma verba restrita para custear a atualização do modelo, precisou sacrificar algumas coisas em favor de outras. A Renault parece pensar mais na volumosa demanda dos frotistas do que em atender aos consumidores comuns, simpatizantes de um carro para o uso diário.

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Em que pese tais “economias de ousadia”, o Logan 2020 mantém os atributos que fazem dele um carro honesto e bom de dirigir. Para os tradicionais clientes do modelo, que queiram comprar um novo equipado com transmissão automática, será necessário se adaptar a sua maior altura em relação ao solo. No início é um pouco estranho, dando a impressão de que o carro cresceu. Especialmente no trânsito urbano, a sensação de olhar os outros carros “de cima para baixo” é notável. A altura é quase a mesma de um Duster, o que transmite ao motorista certa sensação de força e segurança. Um ponto positivo é que a estabilidade e o comportamento dinâmico não se alteraram com a elevação da suspensão. O carro continua contornando bem as curvas, manobrando fácil e rodando macio. Para reforçar a segurança, as versões Zen, Intense e Iconic 1.6 CVT X-Tronic incorporam controle de estabilidade (ESP), dispositivo que ajuda a manter o carro na trajetória mesmo em manobras bruscas.

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Ao aposentar o antigo câmbio automatizado, com seus solavancos e mudanças lentas, a transmissão automática CVT chegou em boa hora. Esse tipo de transmissão, que não utiliza as clássicas engrenagens e sim um sistema de polias e correias, permite ao motor trabalhar em rotações mais baixas, proporcionando consumo menor e maior conforto acústico. Uma característica negativa do CVT é o comportamento meio letárgico em baixas rotações. Mesmo fazendo mudanças manualmente, passando pelas seis marchas virtuais, o ganho não é tão substancial. Não é nada decepcionante, especialmente considerando a proposta familiar do carro. Mas para extrair uma performance mais consistente do bom motor 1.6 16V, que entrega 118 cavalos de potência e torque de 16 kgfm (etanol), o câmbio manual presta melhor papel. Mesmo com pequenos deslizes, o Renault Logan 2020 é um carro honesto, bem equipado e seguro. Tem bom espaço, desempenho compatível e atende bem às pequenas famílias. Se a traseira tivesse evoluído, poderia até ter ficado um belo sedã.

Ficha técnica

Renault Logan Iconic 1.6 16v CVT X-Tronic

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Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.597 cm³, duplo comando com variador na admissão. Combustível: gasolina/etanol (flex).
Potência e torque: 115/118 cavalos a 5.500 rpm, com torque máximo de 16 kgfm a 4 mil rpm
Transmissão: automática continuamente variável (CVT) com 6 marchas simuladas no modo manual. Tração dianteira
Suspensões: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Rodas e pneus: liga leve de 16″ com pneus 205/55 R16
Freios: discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EDB
Peso: 1.160 kg em ordem de marcha
Dimensões: comprimento de 4,34 metros, largura de 1,73 metro, altura de 1,57 metro e entre-eixos de 2,63 metros
Capacidades: tanque 50 litros, porta-malas 510 litros

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