Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix

Quando decidiu lançar o Etios no Brasil, em 2012, a Toyota resolveu manter o design desenvolvido originalmente para o mercado indiano. Não foi uma boa ideia. No mercado nacional, no qual a linha de compactos da Toyota era aguardada com grande expectativa, o padrão estético exótico do país asiático causou estranhamento. As versões hatch e sedã jamais foram sucesso de vendas por aqui e nem chegaram perto da liderança. A própria Toyota reconheceu essa rejeição e promoveu mudanças pontuais no estilo. Em junho do ano passado, com o lançamento da segunda linha de compactos da Toyota – o Yaris, também com versões hatch e sedã –, o Etios foi reposicionado e passou a brigar com modelos de entrada. Na nova função, as antigas versões de topo do carro fabricado em Sorocaba (SP) foram abolidas. Na variante com carroceria sedã, justamente a que sempre teve o design mais criticado, sobrou para a versão X Plus automática, novidade da linha 2019, a função de topo de linha, mesmo sem maiores modernidades.

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Em um automóvel, um design antiquado gera um curioso “efeito colateral”. Um Etios sedã zero-quilômetro, recém-saído da concessionária, corre o risco de ser confundido com um carro do final do século 20. O estilo é austero e desprovido de charme – pertence ao passado, mas sem chegar a ter o status” de ser “retrô”. Ser tão discreto a ponto de ser confundido com um modelo de décadas atrás pode até ser um atrativo para quem não quer chamar a atenção – todavia, infelizmente para o Etios, consumidores automotivos tão “low-profile” são minoria. Como diferenciais em relação ao resto da linha, a versão X Plus traz grade frontal com acabamento preto, maçanetas externas na cor do carro, máscara negra nos faróis e lanternas e para-choques dianteiro e traseiro na cor da carroceria. Se a estética não emociona, o principal trunfo da Toyota para emplacar as vendas do sedã compacto está no prestígio que a fabricante japonesa conquistou nas últimas três décadas. Uma percepção de confiabilidade que faz com que modelos da marca, como o sedã médio Corolla, sejam raridade nas lojas de carros usados – normalmente, os donos recebem propostas antes de chegarem às revendas.

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O motor do Etios sedã permanece o mesmo 1.5 flex da época do lançamento. Entrega 102 cavalos rodando com gasolina e 107 cavalos quando tem apenas etanol no tanque. O torque máximo é de 14,3 kgfm com gasolina e 14,7 kgfm com etanol. Em termos de consumo, nos testes do Inmetro, o sedã teve média na cidade de 8,4 km/l com etanol e 12,2 km/l com gasolina. Já na estrada, os números foram de 10,4 km/l com etanol e 14,9 km/l com gasolina. Esse desempenho conferiu duas notas “B”, tanto na comparação absoluta geral quanto na categoria de compactos.

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A transmissão automática é um atributo importante da versão, contudo aparece em uma configuração um tanto anacrônica, com apenas quatro marchas. Em termos de modernidades, a linha 2019 do Etios sedã investiu em segurança e adota controles de tração e estabilidade como itens de série. De resto, o modelo traz rodas de liga leve de 15 polegadas, sistema de áudio com CD-player, função MP3, entrada USB e Bluetooth, volante multifuncional, retrovisores externos elétricos com pisca integrado, ar-condicionado, chave com comando de abertura e fechamento das portas, vidros elétricos e travas elétricas. E só! Equipamentos contemporâneos corriqueiros no segmento, como central multimídia, câmera de ré e sensores de obstáculos traseiros, não aparecem no compacto da Toyota nem como opcionais.

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O preço do Etios sedã X Plus automático – R$ 63.990 – está longe de ser barato e se aproxima de concorrentes visualmente mais modernos e bem equipados. O que prova de que há consumidores que preferem abrir mão de alguns confortos pela tranquilidade ou pelo “status” de ter um Toyota. Em 2018, foram emplacados 21.208 Etios sedã – uma média de 1.767 unidades mensais, bem próxima dos concorrentes Chevrolet Cobalt e Renault Logan e bastante distante das 77.624 unidades anuais (6.468/mês) do Chevrolet Prisma, que lidera o segmento e é seguido de longe por modelos como o Volkswagen Virtus, o Ford Ka sedã, o Hyundai HB20S, o Fiat Cronos e o Nissan Versa. Este ano, já com a “concorrência interna” do Yaris sedã plenamente estabelecida, as vendas do Etios sedã não andam muito embaladas – foram 1.129 unidades em janeiro e 647 em fevereiro.

Experiência a bordo

Lugar incomum

O Etios é um sedã compacto e nele quatro ocupantes viajam bem – um quinto compromete o conforto no banco traseiro. Não existem muitos porta-objetos, no entanto há espaço para guardar o que normalmente precisa estar à mão do motorista. No habitáculo, impera a racionalidade típica das marcas nipônicas. Materiais mais requintados, como couro ou superfícies acolchoadas, dão lugar a tecidos simples e plástico em preto brilhante. O painel de instrumentos centralizado causa certa estranheza mas, depois que o motorista se acostuma ao posicionamento singular, revela ser de fácil leitura.

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A suspensão é firme, porém eficiente. O isolamento acústico deixa um tanto a desejar, principalmente em relação aos barulhos do motor. A direção elétrica é suave nas manobras de estacionamento e progressivamente rígida conforme as velocidades aumentam. Embora tenha apenas 4 marchas, a transmissão automática é um inegável conforto para quem dirige em centros urbanos engarrafados. O porta-malas, de 562 litros, é um ponto alto do carro e um dos melhores do segmento.

Impressões ao dirigir

Não faz feio

Em movimento, a estética controversa do Etios não atrapalha. O modelo cumpre a função mercadológica de ser um sedã automático com os itens considerados obrigatórios – ar-condicionado, direção, vidros, travas e rádio – e ainda se movimenta surpreendentemente bem, tanto em tráfego urbano quanto no rodoviário. No motor 1.5 que atinge até 107 cavalos e 14,7 kgfm com etanol no tanque, o torque máximo só surge em 4 mil giros, o que torna o compacto um tanto barulhento nos momentos em que se exige mais aceleração. Porém o “powertrain” entrega um bom desempenho, que só não é ainda melhor porque o câmbio automático de apenas quatro marchas, herdado do Corolla de geração anterior, limita um pouco a performance. Nada que chegue realmente a comprometer.

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Dinamicamente, o Etios entrega uma percepção de consistência acima da média do segmento de sedãs compactos. Se mostra bem equilibrado nas curvas de alta velocidade, e as rolagens de carroceria praticamente não são sentidas. A suspensão tem um ajuste firme e mantém o sedã sob controle. Os controles de estabilidade e tração, que se tornaram itens de série na linha 2019, foram um reforço bem-vindo em termos de segurança. A direção elétrica é precisa e reforça a sensação de confiabilidade do conjunto. Para um veículo que custa mais de R$ 60 mil, a falta de sensores traseiros é uma ausência sempre lembrada, principalmente na hora de estacionar. Um evidente exagero da Toyota no processo de reposicionamento do Etios como carro de entrada da marca, que lamentavelmente não foi acompanhado de uma redução de preço mais expressiva. Algo que, sem dúvida alguma, tornaria o modelo bem mais atraente.

Ficha técnica

Toyota Etios sedã X Plus automático

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Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.496 cm³, quatro cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro e duplo comando de válvulas variável na admissão e no escape. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de 4 marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 102 cavalos com gasolina e 107 cavalos com etanol a 5.600 giros.
Torque máximo: 14,3 kgfm com gasolina e 14,7 kgfm com etanol a 4 mil giros.
Diâmetro e curso: 75 mm x 84,7 mm. Taxa de compressão: 13:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira com eixo de torção e molas helicoidais, amortecedores telescópicos hidráulicos e barra estabilizadora. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 185/60 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e tambores atrás.
Carroceria: monobloco com quatro portas e cinco lugares com 4,26 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,51 m de altura e 2,55 m de entre-eixos.
Capacidade do porta-malas: 562 litros.
Tanque de combustível: 45 litros.
Produção: Sorocaba, São Paulo.
Lançamento mundial: 2010.
Lançamento no Brasil: 2012.
Preço: R$ 63.990.

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