O biodiesel não chega a ser uma novidade nos noticiários sobre o agronegócio e o transporte no Brasil e no mundo. Trata-se de uma alternativa renovável e viável à matriz de combustíveis fósseis, que são mais poluentes. O uso do biodiesel traz ganhos diretos ao ambiente por diminuir a pegada de carbono, pois a troca do diesel para o biodiesel pode trazer uma redução de 99% nas emissões de CO2. A busca por alternativas ao diesel tem revelado várias iniciativas criativas e de alta tecnologia. Uma delas é uma fábrica de biodiesel à base de soja instalada na cidade matogrossense de Lucas do Rio Verde, criada pela Amaggi, multinacional brasileira do agronegócio com sede em Mato Grosso. De olho em sua alta produtividade da commodity e nas oportunidades de demanda pelo combustível de biomassa renovável, a empresa iniciou um projeto para a produção do biodiesel puro (B100), o diesel vegetal gerado a partir de óleo de soja. A fábrica foi instalada há cerca de dois anos e demandou um investimento de R$ 100 milhões em equipamentos industriais, processos, treinamento e aquisição de tecnologia. A cadeia produtiva foi complementada quando, há um mês, a Amaggi recebeu os primeiros caminhões movidos a B100 da fábrica da Scania em São Bernardo do Campo (SP). Ao todo, são 101 veículos Euro 6 movidos a B100, sendo cem do modelo 500 R 6×4 Super, para o transporte de grãos, e um do 500 R 6×2 Super – este para o transporte do biocombustível para os pontos de abastecimento. A empresa matogrossense passou a ter a maior frota rodoviária do agro nacional abastecida exclusivamente com o combustível sustentável.
Os caminhões Scania Super adquiridos pela Amaggi têm motores que atendem à nova lei de redução de emissões de poluentes, em vigor desde janeiro de 2023. O Super é uma plataforma adequada para o projeto, pois conta com características de motor compatíveis com o uso do B100, como alta pressão na injeção do diesel. “Os nossos caminhões Super na potência de 500 cavalos estão aptos para este trabalho, rodando tanto em composições de nove eixos, com configuração 6×4, quanto em sete eixos, no 6×2, e a nossa equipe de engenheiros rapidamente configurou os veículos para este fim”, explica André Gentil, gerente de Vendas de Soluções a Frotistas da Scania Operações Comerciais Brasil.
Os caminhões B100 da Scania são usados pela Amaggi para o transporte de grãos desde fazendas e complexos de armazenagem até o corredor norte de exportação de soja, em Miritituba, no Pará, com trajetos de até 1.500 quilômetros. “O caminhão Scania Super tem uma performance normal em comparação aos modelos que rodam com o diesel convencional S10 B14 que temos no mercado atualmente. É claro que o combustível tem algumas características que inspiram cuidado. O biodiesel é vivo. Ele contém matéria orgânica e pode conter bactérias, além de ser higroscópico, ou seja, atrai a umidade do ar. A soma desses fatores pode trazer resíduos indesejados que poderão comprometer alguns componentes do caminhão, mas o uso e a armazenagem corretos e o cuidado com os veículos tira todo o estigma do B100 para a operação. A Scania fez algumas modificações no caminhão, como em mangueiras, conectores, software de controle da mistura do combustível e sistema de escape, que mitigaram esses problemas e viabilizaram a grande quantidade de caminhões movidos a B100”, detalha Marcelo Gallao, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Scania Operações Comerciais Brasil.
Além dos caminhões, a Amaggi usa o B100 que produz para abastecer as máquinas agrícolas que utiliza no campo. A unidade industrial é capaz de produzir 337 milhões de litros de biodiesel por ano, com 30% dessa produção destinada ao consumo da própria Amaggi, que utiliza 120 milhões de litros de diesel por ano em seus caminhões, máquinas agrícolas, processos produtivos, manejo e manutenção das fazendas. “Temos uma meta muito séria de chegar a uma operação líquida de carbono zero até 2050. Sabemos que no agro a redução de emissões é complicada e que, principalmente na nossa área logística, o desafio é grande. Aos poucos, expandiremos o uso do combustível renovável para outras unidades de produção e logística da Amaggi”, revela Juliana Lopes, diretora de ESG, Comunicação e Compliance da Amaggi. (colaborou Edmundo Dantas/AutoMotrix)
Por: Leo Doca, do “Transporta Brasil”, especial para a AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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