Desde que a BMW decidiu iniciar a produção local, primeiro em 2009 na fábrica da Dafra em Manaus (AM) e a partir do final de 2016 em sua própria unidade fabril no Polo Industrial de Manaus, a marca cresceu bastante no país. Esse desempenho é fruto de uma estratégia correta, que soube aproveitar a onda de crescimento dos segmentos premium (motos acima de 500 cc) para ampliar sua presença e ganhar espaço (e dinheiro). A marca bávara inaugurou sua produção em dezembro de 2016 com a F 700 GS, moto que compartilha quase tudo com a F 800 GS, uma das motocicletas “best-sellers” da BMW no mundo.
Na realidade, a F 700 GS não é exatamente uma bigtrail, como são suas “irmãs” F 800 GS e R 1200 GS. A indústria percebeu que 90% dos consumidores que compravam as bigtrail utilizam suas motos apenas para viagens longas ou passeios, quase sempre por bons e asfaltados caminhos. A preferência pelo estilo se dá em função do conforto oferecido, tanto para piloto quanto para garupa, e também pela versatilidade que essas motos permitem. Daí, começaram a surgir motos com chassi e suspensões de bigtrail, mas com rodas e pneus adequados para asfalto. Aí estão as Kawasaki Versys 1000 e 650 cc, as Honda NC 750X e CB 500X, a Triumph Tiger Sport e também a BMW F 700 GS, em um sub-segmento denominado Crossover.
A BMW F 700 GS oferece características que lhe dão excepcional versatilidade e que, por isso mesmo, agradam a uma gama enorme de motociclistas. Isso ocorre porque ela foi pensada pela engenharia da BMW Motorrad para suprir as “deficiências” que a F 800 GS e a G 650 GS apontaram. E por isso, além das suas próprias virtudes, ela traz a “correção” daquilo que nas outras duas é objeto de crítica pelos consumidores. Excesso de vibração e falta de potência em uma e altura do banco na outra sempre foram as principais reclamações dos clientes que têm a G 650 GS e a F 800 GS, respectivamente. Ficou fácil definir uma moto que se adequasse perfeitamente a quem não queria comprar uma e tinha medo de comprar a outra.
O motor é o mesmo da F 800 GS, com dois cilindros e oito válvulas, DOHC, 798 cc, a gasolina, arrefecido a líquido, já muito testado e aprovado. Apesar dos 10 cavalos e 1 kgfm a menos, o motor oferece 75 cavalos a 7.300 rpm, com torque máximo de 7,85 kgfm a 5.300 rpm. Números suficientes para proporcionar excelente desempenho para todas as exigências normais, com respostas prontas e rápidas a qualquer pedida.
Em termos de suspensão, a BMW F 700 GS segue o padrão de excelência da Motorrad. Mostra uma correta capacidade de absorção das irregularidades, apesar da suspensão com curso menor na dianteira – 180 milímetros – com roda de 19 polegadas. Mas a traseira é ajustável e sempre há uma posição adequada para qualquer perfil de piloto, carga aplicada e estilo de pilotagem. Outro item que faz enorme diferença é a menor altura do banco, 7,5 centímetros mais baixa em relação à BMW F 800 GS, com 820 milímetros.
A F 700 GS tem uma longa lista de equipamentos que já saem de fábrica. Destacam-se os protetores de manetes, aquecimento de manoplas, controle de tração, ABS, cavalete central, sistema de monitoramento da pressão dos pneus, ajustes de compressão da mola traseira e de retorno do amortecedor traseiro e tomada 12 V no painel. Esse, aliás, é bem completo e traz dois instrumentos arredondados e analógicos com o velocímetro e o conta giros, além de um mostrador multifuncional digital (LDC) com o marcador de nível de combustível no tanque e vários outros indicadores, como relógio, marcha engatada, temperatura ambiente e do líquido de arrefecimento do motor. Com o comando no punho esquerdo, é possível mudar e percorrer para verificar outras informações disponíveis. Há também as tradicionais luzes espia que indicam quase tudo, inclusive o mau funcionamento do sistema de escapamento, que na Europa é uma obrigação para atender à norma Euro4.
Apesar de ser um modelo “de entrada”, a BMW F 700 GS tem preço “premium”, o que ela realmente é e entrega. Disponível nas cores cinza metálico e laranja, tem preço de R$ 43.233 na Tabela Fipe, enquanto que a “irmã maior” F 800 GS sai por R$ 45.266. Se o consumidor considerar que ambas são basicamente a mesma moto, uma mais configurada para uso urbano e estradeiro e outra também capacitada para encarar grandes desafios off-road, tudo fica mais claro.
Impressões ao pilotar
Versatilidade à prova
A F 700 GS reúne em si algumas das características das bigtrail , mas seu caráter é urbano e estradeiro. Apesar disso, enfrenta terrenos ruins com tranquilidade e, até por ser mais leve, permite mais controle em alguns momentos do que a F 800 GS. Em trechos off-road, a moto se sai muito bem. A opção de desligar o controle de tração e o ABS, junto com a redução na pressão dos pneus, torna a moto esperta para enfrentar trechos fora-da-estrada, apesar da roda de 19 polegadas na dianteira e dos pneus para estrada. Na prática, essa BMW superou sem maiores dificuldades todos os obstáculos mais comuns, como areia, pedras soltas e cascalho.
No uso urbano, a moto se revela muito boa, com banco mais baixo e o torque do motor sempre presente com pouca rotação nas marchas mais baixas, uma ótima característica para enfrentar engarrafamentos e circular entre os carros parados. Em comparação com a F 800 GS, quase não se nota diferença, e a roda menor na frente com o para-lama mais discreto dão mais estabilidade. Ficou faltando apenas um para-brisa um pouco maior