Nas mudanças que a Harley-Davidson promoveu nas suas motos no ano passado, certamente a que mais chamou atenção foi a Fat Bob. A extinção da família Dyna e sua incorporação às Softail pode ser bem representada pela Fat Bob, que era um dos modelos Dyna mais procurados pelos fãs, sobretudo os que gostam de personalizar suas motos. Contudo, sua adoção pela outra família não tirou da Fat Bob essa virtude. Ao contrário, valorizou-a ainda mais.
Ao olhar para a Fat Bob, a imagem é de uma “muscle bike”, sobretudo pelos enormes pneus e o pequeno farol retangular, o que agora se parece mais normal, ao contrário daquele primeiro impacto visual em outubro do ano passado. Mas ficou muito melhor que aqueles dois faróis redondos do modelo anterior, além de ter dado um maior poder de iluminação. Na traseira também, aquele para-lama recortado com o suporte da placa “pendurado” e as duas saídas do escapamento em aço escovado destacam a moto como algo que atrai os olhos de quem curte motos diferentes. A unidade avaliada estava equipada com alguns acessórios Screamin’ Eagle. Mas a versão pura da Fat Bob equipada com o motor Milwaukee Eight 114 custa na tabela Fipe R$70.997 (novembro de 2018).
Impressões ao pilotar
Na medida certa
A expectativa ao sair com a moto para um rolé urbano era de que esta seria uma tarefa dificultada pelo grande entre-eixos, pela posição muito atrás do banco e pelo enorme pneu dianteiro. Mas uma surpresa agradável logo removeu os temores, e bastaram poucos quilômetros pelas ruas e avenidas congestionadas para concluir que a Harley-Davidson Fat Bob é muito fácil de se manejar e sua aparência musculosa é apenas para assustar (ou atrair a admiração) quem a vê. A moto avança entre os carros com tranquilidade e o motorzão Milwaukee Eight 114 de 1.868 cm³ da Fat Bob (a Fat Bob está disponível também na versão com motor Milwaukee Eight 107 de 1.745 cm³) não deixa dúvidas quanto a sua capacidade de empurrar a moto mesmo em marcha lenta, fruto dos 17 kgfm de torque.
Tem papel fundamental na agilidade da moto e no seu surpreendente desempenho no trânsito o novo chassi, mais simples, leve e rígido, que agora equipa todas as softail. Mas de todas as motos da família, a Fat Bob pode ser considerada uma referência do segmento. O emagrecimento que essa moto teve supera os 15 quilos em relação à versão anterior e uma parte importante dos componentes que antes era de aço agora são de alumínio, como os suportes dos para-lamas, o guidão e o descanso lateral. Seus 306 quilos, uma vez em movimento, deixam de ser uma preocupação, aliás, como todas as outras novas softail da família.
Tudo isso não seria eficiente se não houvesse um conjunto de suspensões adequados, outro item que a engenharia da Harley-Davidson atuou fortemente na nova Fat Bob. Aliás, esse é um tema que tem merecido especial atenção da marca, já que mesmo os fãs mais afeitos ao puro estilo H-D comentam que já é hora de a marca norte-americana adotar mais tecnologia nas suspensões de suas motos, sobretudo para oferecer mais confiança aos motociclistas que viajam e desenvolvem velocidades mais altas. E isso foi feito nas novas softail, especialmente na Fat Bob, que traz garfo telescópico invertido Showa na dianteira com tubos de 43 milímetros de diâmetro do tipo Dual Bending Valve (SDBV). A suspensão ajuda muito para que o enorme pneu (150/80-16) copie e contorne as irregularidades do piso sem sustos e com total segurança.
Na traseira, a moto segue o novo padrão softail com o amortecedor único escondido sob o banco, dando a impressão que ela ainda é daquelas antigas “rabo-duro”. Esse sistema inverso em relação à antiga suspensão da Fat Bob, na qual o amortecedor é comprimido pela carga ao invés de ser distendido, dá mais eficiência no amortecimento, com maior curso e possibilita ajuste de pré-carga por um prático comando do lado direito da moto. O mesmo esmero dos engenheiros da H-D se pode falar dos freios, que na Fat Bob são assinados pela Brembo e conta com duplo disco com pinças flutuantes de duplo pistão na roda dianteira e disco simples do mesmo padrão na traseira, ambos com ABS, determinando um sistema muito eficiente e seguro em qualquer condição. O manete do freio poderia ser de acionamento um pouco mais macio, mas isso não condena ou coloca em risco o funcionamento muito bom do conjunto de freios.
Outro fator que melhorou muito na nova moto é o ângulo de inclinação lateral maior para os dois lados, resultado do novo desenho do motor que tem seu bloco mais estreito e da posição das pedaleiras mais altas. Com pneus daquela largura, inclinar a Fat Bob em curvas exige cuidado e um pouco de jeito. No entanto, rapidamente se pega o jeitinho e fazer curvas se torna fácil e até alguma ousadia é permitida, mesmo a pilotos menos experimentados. Não há muito a acrescentar sobre o enorme motor Milwaukee Eight 114, cuja melhora é inquestionável. Apesar de estar ancorado no duplo berço do chassi, quase não se sente vibrações.
De funcionamento suave, silencioso e ritmado, as respostas do acelerador são precisas. A baixas velocidades e com rotação mínima, o torque generoso empurra a moto com vigor, e o despejo de potência é imediato. Contudo, ainda falta na Fat Bob o controle de tração, ainda mais por ser ela uma moto equipada com um motor cujo torque se destaca. Não foram poucas as vezes que uma acelerada com mais força por variados motivos fez a roda traseira escorregar um pouco, deixando claro que o despejo de força é bruto e requer muito cuidado.
No mais, a moto oferece grande conforto e autonomia acima dos 200 quilômetros com seu tanque de 13,6 litros. Quanto ao consumo, apesar de não ser essa uma preocupação muito grande de quem compra essa moto, mas vale o registro de que foram rodados 478 quilômetros com a Harley-Davidson Fat Bob em trecho urbano e de rodovia e foram gastos 23,8 litros de gasolina para isso, o que resultou no consumo de 20,08 km/l, um boa marca para uma moto desse porte.