Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo – atrás da norte-americana Boeing e da europeia Airbus –, a brasileira Embraer confirmou que produzirá em Taubaté (SP) os chamados eVtols (sigla em inglês para “veículo elétrico de pouso e decolagem vertical”). O anúncio foi feito ao lado da Eve Air Mobility, fabricante de aeronaves controlada pela Embraer, por ocasião das homenagens pelos 150 anos de nascimento de Santos Dumont, brasileiro considerado como o “Pai da Aviação”. Também chamado de “carro voador”, o eVtol será produzido em uma fábrica da Embraer em Taubaté, que será ampliada para receber o projeto. Os primeiros exemplares devem começar a sair da linha de produção em 2026. A parceria promete dar início a uma nova era de viagens aéreas.
O acordo envolve a produção inicial de 50 eVtols, um pacote de soluções de serviço e operação e a implementação da solução de software de Gerenciamento de Tráfego Aéreo Urbano (Urban ATM) da Eve. “A nova parceria tem como base um Memorando de Entendimento anterior assinado entre a Eve e Wideroe Zero, em 2021, na Conferência do Clima da ONU (COP26), cujo objetivo era desenvolver operações de eVtols na Escandinávia. A Carta de Intenção reforça adicionalmente nosso compromisso com a introdução de viagens aéreas urbanas atraentes, seguras e emocionantes na região. Juntos, enfrentaremos essa transformação e prepararemos o caminho para um ecossistema de transporte mais acessível para as comunidades”, afirmou Andre Stein, CEO da Eve. Sabe-se que veículo voador projetado pela Eve é 100% elétrico, movido a bateria e transportará quatro passageiros e mais apenas um piloto, por uma distância de até cem quilômetros com uma carga completa da bateria. O eVtol brasileiro não emitirá emissões poluentes e terá níveis de ruído 90% inferiores aos de um helicóptero comum. Nem a Embraer nem a Even anteciparam mais detalhes técnicos e operacionais de seu eVtol.
Será a primeira fábrica física da Eve, que tem ações na Bolsa de Nova York, e ocupará uma extensão do parque industrial que a Embraer já tem em Taubaté. “O local conta com uma logística estratégica, pois tem fácil acesso por rodovias e proximidade com uma ferrovia”, informou a Embraer em comunicado. De acordo com a fabricante brasileira de aeronaves, a fábrica terá ainda a vantagem de estar próxima à sede da Embraer, na vizinha cidade de São José dos Campos, onde já trabalha a equipe de engenharia e de recursos humanos da Eve. “Quando começamos a procurar um local para fabricar nosso eVtol, pensamos em como a aeronave poderia ser produzida usando as mais recentes tecnologias e processos de fabricação, combinados com outros aspectos, como cadeia de suprimentos e logística”, explicou Stein. “A decisão reforça o compromisso da empresa com o potencial do mercado global de mobilidade aérea urbana e o compromisso de tornar a Eve uma das empresas líderes desse setor”, acrescentou Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer.
Além de continuar trabalhando no desenvolvimento de seu “carro voador”, a Eve está focada na tarefa de montar um amplo portfólio de soluções para o novo setor, incluindo um software exclusivo de Gerenciamento de Tráfego Aéreo Urbano. Embora a previsão da empresa seja lançar suas aeronaves em 2026, a expectativa é que a Eve faça os primeiros voos de testes do veículo ainda este ano. A empresa já está oferecendo seus eVtols comercialmente, apesar de ainda estarem em desenvolvimento, e afirma que tem contrato para entregar cerca de 2 mil carros voadores para cerca de vinte clientes em escala mundial confirmados. Já a Embraer diz ter encomendas de 2,8 mil eVtols movimentando uma receita de US$ 8 bilhões (mais de R$ 38 bilhões) para operadores de helicópteros, companhias aéreas, empresas de leasing e plataformas de voos compartilhados. Em junho deste ano, a Eve revelou parceria com a empresa norte-americana United Airlines para operar o transporte urbano com os “carros voadores” na cidade de São Francisco, na Califórnia.
Construir um automóvel capaz de voar é um sonho antigo. As primeiras experiências foram feitas no começo do Século 20, pelo norte-americano Glenn Hammond Curtiss, mas nada tinha a ver com os eVtols de agora, sendo mais próximo do que seriam os helicópteros. Em 1926, Henry Ford divulgou um protótipo com nome de Sky Flivver, porém, o projeto foi abandonado dois anos depois quando o veículo foi destruído em um acidente, matando o piloto de testes. O conceito dos eVtols surgiu em 2009, quando um vídeo do protótipo Nasa Puffin eVtol mostrou um voo tendo apenas o piloto a bordo. O modelo experimental utilizou uma nova tecnologia desenvolvida pela empresa espacial norte-americana chamada Distributed Electric Propulsion (DEP) – em tradução livre, propulsão elétrica distribuída. O conceito da Nasa foi imediatamente seguido pelo Augusta Westland Project Zero, da Itália, pelo Volocopter VC1, da Alemanha, e pelo Opener BlackFly, dos Estados Unidos. E foi oficialmente reconhecido pela Vertical Flight Society e pelo American Institute of Aeronautics and Astronautics em 2014, em um congresso realizado no Estado norte-americano de Virgínia.
Por Daniel Dias/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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