Há seis meses, chegou uma moto ao mercado brasileiro capaz de tirar da mesmice um dos segmentos com maior potencial para atrair consumidores: o das trail médias. A BMW G 310 GS estreou no mercado brasileiro por quase R$ 25 mil – valor que assusta em uma primeira análise. Mas, apesar do preço, a moto da marca alemã pode atrair consumidores que buscam comprar um modelo versátil de média capacidade no motor, mas que não encontram nas sonolentas Honda XRE 300 e Yamaha XTZ 250 Ténéré o que desejam. Basta perceber que ambas estão praticamente iguais há anos, apenas com novas cores e novos grafismos. Há também que se considerar a outra japonesa, Kawasaki Versys-X 300, cujas características estão muito mais para uso estradeiro e mais distante do off-road, sobretudo se for algo mais cascudo.

Para enfrentar a concorrência japonesa, a G 310 GS traz um grande pacote de novidades tecnológicas para o segmento. Sua vocação urbana e aventureira tem muitas virtudes sob diferentes pontos de vista, com soluções normalmente só encontradas em motos de competição ou em modelos grandes com alta performance. É fácil enumerar alguns exemplos: motor invertido, com a admissão na frente e o escape atrás, encurtando o caminho da saída de gases, o que aumenta a eficiência energética e a potência; eixo do virabrequim com bronzinas e que gira no sentido anti-horário (para trás), ajudando o equilíbrio da moto e jogando peso e esforço mais para trás eliminando vibrações; suspensão dianteira com garfo telescópico invertido (up-side-down), reduzindo a massa a ser movimentada, deixando a frente da moto mais leve, a direção mais precisa e com melhor capacidade de absorção das imperfeições do piso; freios ABS, que podem ser desligados para a prática do off-road; chassi treliçado e com o motor fazendo parte da estrutura, que oferece maior rigidez e menos peso.

As novidades seguem pelo design inspirado na família GS da BMW, que traz o espírito aventureiro com as suspensões de curso longo (180 milímetros na dianteira e na traseira), “grande” tanque de combustível – falso, a maior parte daquilo é capa –, banco em dois níveis, com conforto para piloto e garupa. Além disso, o grande bagageiro em alumínio permite facilmente amarração de bagagem ou o uso das bolsas e acessórios vendidos para a família das aventureiras da marca. Na frente, o para-lama rente à roda e o bico sob o farol dizem claramente “sou irmã da GS 1200″. Se destacam o dourado dos tubos da suspensão dianteira e o grande radiador ocupando espaço à frente do motor. A sigla que identifica a família vem aplicada no grafismo da moto e não deixa dúvidas quanto ao desejo da BMW de classificar sua moto como uma aventureira autêntica. Para resumir o que a BMW G 310 GS entrega aos seus consumidores, é possível dizer que ela reúne em uma única moto a mistura fina das três japonesas do segmento: uma trail versátil, muito confortável, leve, ágil e pronta para enfrentar viagens de todos os tipos, inclusive por maus caminhos.

Impressões ao pilotar

De todas as maneiras

O test-ride da BMW G 310 GS foi feito em um dia garoento por cerca de 230 quilômetros entre a capital paulista e uma bela propriedade rural na região da cidade histórica de Itu, distante 100 quilômetros de São Paulo. As dimensões compactas da moto se mostraram adequadas para o travado trânsito da capital paulista e quando chegou o trecho de rodovia, no qual a velocidade regulamentar é de 120 km/h, a moto acelerou rápido em sexta marcha, o giro subiu até a faixa dos 7.000 rpm e ainda havia razoável folga do motor para empurrar mais quando fosse necessário, já que a faixa vermelha estava nas 10.000 rpm. O motor realmente é um grande destaque da nova moto, e suas características inovadoras trazem resultados muito bons no desempenho, como o avantajado torque de 2,9 kgfm a 7.500 rpm, os 34 cavalos de potência a 9.500 rpm, que já mostra sua forma e boa disposição a partir dos 3.000 rpm com o torque disponível mesmo em sexta marcha.

O motor de um cilindro e arrefecimento líquido com 313 cc de capacidade cúbica tem o eixo do virabrequim com bronzinas e gira no sentido anti-horário. Há dois eixos de comando de válvulas e o pistão tem curso menor que o diâmetro (62,1 milímetros x 80 milímetros), o que explica porque esse propulsor fala alto e sobe de giro muito rápido. Complementam essa eficiência o sistema de injeção de combustível muito bem ajustado, padrão da marca, a captação forçada para a caixa de ar frontal e o fluxo de alimentação direto, o que otimiza a mistura ar-combustível e melhora (muito) o desempenho.

No trecho off-road, uma estradinha de 8 quilômetros com muitas pedras e cascalho, a moto se mostrou bem estável e os pneus Metzeler Tourance ajudaram muito. A posição do guidão poderia ser um pouco mais alta para esse uso, sobretudo porque nessas condições se recomenda pilotar a moto em pé nas pedaleiras. O motor mais uma vez mostra ser o diferencial favorável, com torque e aceleração disponíveis para subidas longas sem necessidade de trocas de marchas. As suspensões fazem um trabalho exemplar. Com um destaque que normalmente só moto grande tem: o conveniente botão que desliga o ABS.

Completam as virtudes da nova BMW G 310 GS o excelente nível de acabamento, com bons encaixes das peças plásticas, o banco em gel, a lanterna traseira em leds, o protetor do cárter e o pequeno e eficiente para-brisa, que em velocidade de cruzeiro (120 km/h) protege bem e faz sua função de desviar o vento do peito do piloto. O painel da moto está em um bloco único com a tela LCD (Liquid Crystal Display) totalmente digital, que mostra além das funções básicas como velocidade, conta-giros (em barras) e luzes espia, hodômetro total e parcial (trip 1 e 2) e todas as informações do computador de bordo, como média de consumo, consumo instantâneo, autonomia, manutenção, relógio, data e indicador de marcha engatada. Dois detalhes adicionais: uma luz indicadora para troca de marcha (giro máximo) e o botão no punho esquerdo que desliga o ABS, algo que todas as trail deveriam ter para facilitar o uso da moto no off-road. Pela soma de suas virtudes, a BMW G 310 GS  mexeu com o mercado e passou a atrair novos consumidores para o segmento.