Em março do ano passado, a Titano finalmente colocou a Fiat em um dos segmentos mais importantes da atualidade, o de picapes médias. Montada na fábrica da Nordex, no Uruguai – mas já com mudança confirmada para Córdoba, na Argentina, onde também é feito o sedã Cronos –, a Titano tem a maior parte de seus componentes trazida da China, tendo como base a plataforma KP1, desenvolvida pela Changan em conjunto com a PSA Peugeot Citroën, agora, integrante da Stelantis, grupo que reúne ainda a própria Fiat, a Jeep e a Ram. A partir da KP1, vieram as picapes Changan Kaicene F70, em 2019, e Peugeot Landtrek, em 2020, da qual a Titano se originou. A explicação de a Landtrek – vendida em mercados da África, do Oriente Médio e da América do Sul – ter sido preterida para representar a Stellantis na categoria de picapes médias no Brasil é simples: a escolha da Fiat para estrear no segmento é devido à liderança da marca italiana no mercado brasileiro e a sua enorme rede de concessionárias e de serviços no país.
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O lançamento da Titano em um segmento tão prestigiado foi tardio, em especial à categoria já ter solidificado as presenças de nomes consagrados há um bom tempo, com a Toyota Hilux, apresentada no Brasil em 1992, a Ford Ranger, em 1994, e a Chevrolet S10, em 1995. E a Titano ainda custou para engatar uma “marcha de cruzeiro” no quesito vendas no Brasil. O ano de 2024 encerrou com a Hilux com 50.010 unidades vendidas e a manutenção da liderança conquistada em 2016, a Ranger com 31.860, a S10 com 27.402, a Mitsubishi Triton com 10.982, a Nissan Frontier com 9.258, a Volkswagen Amarok com 7.328 e a Titano com 6.223. A picape da Fiat teve seu melhor mês de emplacamentos em dezembro, com 1.475 unidades – deixou para trás a Frontier (503), a Amarok (703) e a Triton (939). Em janeiro deste ano, a Titano emplacou 882 unidades e foi superada pela Triton (974), mas continuou à frente da Frontier (748) e da Amarok (684).
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Com 5,33 metros de comprimento, 2,22 metros de largura (com espelhos), 1,89 metro de altura e 3,18 metros de distância de entre-eixos, a Titano tem o motor 2.2 turbodiesel de 180 cavalos de potência a 3.750 rotações por minuto e 40,8 kgfm de torque a 2 mil giros nas três versões – Endurance, Volcano e Ranch – e câmbio manual de 6 marchas na primeira e automático também de 6 velocidades nas outras duas. A “top” Ranch (o modelo testado) conta com caixa de transferência, bloqueio manual do diferencial e três modos de tração, “2H”, “4H” e “4L”, e rodas de liga leve de 18 polegadas. Na frente, a grade tem estilo robusto e geométrico, emoldurada pelas luzes de circulação diurna (DRL) em leds e pelo “skid plate” (protetor do motor). A Titano tem como forte apelo de vendas um dos maiores volumes de caçamba de seu segmento, com 1.314 litros.
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Dentro, os bancos na Titano Ranch são em polímero que simula couro, com costuras aparentes para buscar alguma sofisticação, ajuste elétrico nos da frente e a possibilidade de rebatimento dos de trás para abrir espaço para transporte de cem quilos na cabine. O volante multifuncional replica o couro sintético mas não tem ajuste de profundidade. O interior da Titano é um de seus pontos fortes, com bom espaço para cabeça, pernas e ombros tanto na frente quanto para o pessoal sentado na traseira, que conta com bom ângulo de reclinação do encosto. Para conforto e comodidade, existe na frente um console central com porta-copos, nichos para objetos e um amplo apoio de braços central, com mais um compartimento para guardar objetos não muito grandes.
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O motorista tem à disposição uma destacada central multimídia com tela de 10 polegadas, que pode ser personalizada, navegação via o “velho” TomTom, espelhamento para Apple CarPlay e Android Auto pelo smartphone, cluster com tela digital de 4,2 polegadas colorida, ar-condicionado digital de dual zonas e “keyless entry’n go” (chave presencial) com partida por botão. Com posição de dirigir naturalmente alta – configuração típica do segmento –, a Titano Ranch tem outro ponto importante na câmera de 360 graus para off-road, ajudando na hora de estacionar e avisando quando obstáculos são detectados durante a manobra. Esse diferencial vem por quatro câmeras distribuídas pela parte de fora da picape.
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A picape média da Fiat está disponível nas cores metálicas Vermelho Tramonto (do modelo testado), Preto Carbon e Prata Billet e a sólida Branco Ambiente. A Ranch se destaca das outras duas pelos detalhes cromados, como nos frisos e nas maçanetas. A “top” tem seis airbags, alerta de saída de faixa, assistente para descidas acentuadas, detector de pressão dos pneus, controle de estabilidade e de tração, assistente de partida em rampa e Trailer Swing Control, que ajuda na estabilização quando ela está puxando um reboque. Os preços atuais da Titano, sem as muitas promoções oferecidas pela Fiat, são de R$ 219.990 na Endurance (a única versão com câmbio manual), R$ 239.990 na Volcano e R$ 259.990 na topo de linha Ranch, as duas últimas com transmissão automática de 6 marchas. A picape média é o primeiro modelo da Fiat no Brasil a oferecer cinco anos de garantia.
Impressões ao dirigir
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Aspectos a evoluir
Porto Alegre/RS – A beleza das linhas e de todo o design externo são certamente o maior trunfo da Titano. Por outro lado, apesar de demorar para entrar no segmento, a decisão da marca italiana em apenas escolher a plataforma da Changan Kaicene F70, também adotada na Peugeot Landtrek, resultou no maior problema do modelo da Fiat: ela pula demais! Mais com a caçamba vazia, porém, também com o compartimento de carga parcialmente carregado. Com isso, a Titano acaba sendo mais ruidosa e desconfortável que suas concorrentes. Com a transferência da produção para a Argentina, que ocorrerá ainda esse ano, a picape média da Fiat deve receber o novo motor Multijet 2.2 turbodiesel, usado nas picapes intermediárias Ram Rampage e Fiat Toro, nas quais trabalha acoplado a um câmbio automático de 9 marchas e entrega 200 cavalos e 45.8 kgfm. Na linha de montagem argentina, também devem acontecer ajustes no conjunto suspensivo e no design da Titano.
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O atual motor 2.2 turbodiesel tem força de sobra para empurrar as pouco mais de duas toneladas da picape (mais precisamente, 2.150 quilos), com 180 cavalos de potência e 40,8 kgfm de torque e a boa sintonia com o câmbio automático de 6 velocidades – se tivesse mais algumas marchas, não faria mal algum. É um bom “powertrain”. Entretanto, nem os controles de estabilidade e de tração, nem o eficiente sistema de freio, com discos ventilados na frente, ABS e distribuição de frenagem, conseguem eliminar a sensação de desconforto dinâmico, especialmente quando é necessário frear bruscamente a picape – a frenagem funciona bem, mas é mais rumorosa e trepidante que o desejável. Conforme a Fiat, a Titano Ranch acelera de zero a 100 km/h em 12,4 segundos e pode atingir 175 km/h. Na avaliação do Inmetro, a picape faz média de 8,5 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada.
Por Daniel Dias/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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