Dois anos depois de lançar o novo C3, a Citroën apresentou, em agosto deste ano, a versão You. Em sua nova topo de linha, o compacto substituiu o veterano motor 1.6 16V, de origem PSA, pelo novo GSE 1.0 turbo de três cilindros, denominado de T200, de origem Fiat, desenvolvido e fabricado pela Stellantis em Betim (MG). As antigas configurações “top” Feel Live Pack e a Feel Pack AT, movidas pelo 1.6 16V, saíram de linha – não atendiam às leis de emissões do Proconve L8, que entrará em vigor em 2025. Com o novo motor – já utilizado em variantes dos Fiat Strada, Pulse e Fastback, nos Peugeot 208 e 2008 argentinos e nos Citroën Aircross e Basalt, também feitos no Estado do Rio de Janeiro –, o Citroën C3 You tornou-se o automóvel turbinado automático mais barato do Brasil, com preço inicial de R$ 100.990. Tal valor se aplica somente à cor Branco Banquise. As outras opções – Cinza Artense (a da versão testada) e Cinza Grafito – aumentam a fatura em R$ 1.600.
Na linha C3, das sete versões da época do lançamento, agora restam a novata You, com o motor T200, e as três mais básicas, todas com um “powertrain” bastante conhecido no mercado brasileiro – o 1.0 Firefly de até 75 cavalos de potência e 10,7 kgfm de torque, sempre associado ao câmbio manual de 5 marchas. A inicial Live parte de R$ 77.590, a Live Pack, de R$ 85.390 e a Feel, de R$ 88.290. Com a troca do 1.6 16V aspirado pelo 1.0 turbo, a potência do C3 “top” cresceu de 113/120 cavalos para 125/130 cavalos, com o torque aumentando dos antigos 15,4/15,7 para 20,4 kgfm (os 200 Nm indicados no nome) – é o motor mais potente da categoria. Na You, a transmissão é sempre uma CVT Aisin com 7 relações pré-programadas.
A entrada do motor com mais torque e mais potência e 37 quilos mais leve reduziu a relação peso/potência de 9,60 kg/cv para 8,58 kg/cv, exigindo adequações no sistema de suspensão, que ganhou uma nova calibração de molas e amortecedores. Os freios também foram redimensionados e a direção assistida eletricamente recebeu uma nova calibração. O modelo mantém a identidade visual das outras configurações, com diferenciais estéticos para valorizar a versão You. Os mais evidentes são a pintura biton de série e os detalhes na vistosa cor Emerald Blue (um verde piscina), que aparece no logotipo da nova “top”, nos clusters do farol de neblina, nos adesivos na coluna traseira e nas faixas laterais. As rodas são escurecidas, e na tampa do porta-malas há uma plaqueta com a inscrição “Turbo 200”. As rodas de liga leve de 15 polegadas são na cor preta e as luzes diurnas são em leds.
Por dentro, a You traz de série revestimento em couro sintético, ar-condicionado analógico, câmera de ré, computador de bordo, vidros e travas elétricos e volante multifuncional com revestimento em couro. Soleiras e tapetes trazem a identificação da versão. O painel tem visor de TFT com 3,5 polegadas, que exibe o velocímetro digital e os dados do computador de bordo, e a central multimídia “touchscreen” tem tela de 10 polegadas, câmera de ré e conexão sem fio para Android Auto e Apple CarPlay.
Desde o lançamento da You, em agosto, a média de emplacamentos do C3 subiu de 1.800 mensais para algo mais perto das 2 mil vendas. Uma evolução insuficiente para tirar o modelo da marca francesa da oitava posição no ranking dos hatches compactos – é superado pelo líder do segmento, o Volkswagen Polo (média de 11,2 mil emplacamentos mensais), e por Chevrolet Onix (7,7 mil), Hyundai HB20 (7,5 mil), Fiat Argo (7,4 mil), Fiat Mobi (5,6 mil), Renault Kwid (4,3 mil) e Toyota Yaris (2,3 mil).
Experiência a bordo
Altos e baixos
A habitabilidade é um inegável destaque do C3, mantido na versão You. A boa altura do habitáculo faz o compacto da Citroën parecer maior do que é, além de facilitar os acessos. Há uma boa quantidade de porta-objetos. O porta-malas leva 315 litros, bom em relação ao padrão da categoria, e o encosto rebatível do banco traseiro ajuda a transportar volumes maiores. A central multimídia Uconnect, com tela de 10 polegadas e conexão sem cabo, é outro ponto alto do modelo. Seu monitor, em posição elevada, proporciona visualização adequada. Na cabine, há aspectos do design que tentam reforçar a aparência de jovialidade, como as texturas dos painéis e a guarnição azulada do console frontal. Há tomadas USB na frente e nos bancos traseiros.
Contudo, na linha C3 – incluindo a You –, a Citroën leva o conceito de despojamento a um nível elevado. Não há regulagem de distância do volante, só de altura, e seus cintos de segurança são fixos, sem ajustes. Existe uma onipresença de plásticos rígidos e não há qualquer parte emborrachada ou acolchoada. Os revestimentos em courvin cinza-claro e cinza-escuro dos bancos até contam com costuras azuis, mas não transmitem percepção de qualidade. O painel digital tem um visor reduzido e seu acionamento expressa algum anacronismo – é preciso apertar um pino um tanto “vintage” no cluster para acessar os dados do computador de bordo. A luminária interna segue o estilo e parece inspirada em utilitários do século passado, como a velha Kombi. As teclas para abrir os vidros traseiros ficam no console, entre os encostos dianteiros. A ausência de isolamento acústico também chama atenção, mesmo no segmento de compactos – no qual tal aspecto normalmente não é dos mais privilegiados.
Impressões ao dirigir
A força da leveza
O motor turbo T200 transformou radicalmente o hatch da Citroën. Também adotado em outros dois modelos produzidos na fábrica de Porto Real– o C3 Aircross e o Basalt –, no caso da versão topo de linha do C3, é beneficiado pelo peso mais baixo do hatch – 1.115 quilos – em relação ao SUV (1.216 quilos) e ao SUV-cupê (1.191 quilos). A melhor relação peso/potência confere ao C3 You performances mais empolgantes em comparação às oferecidas pelos “colegas” de linha de montagem – nada que transforme o hatch em um esportivo, mas acima do padrão do segmento. E a “sobra” de potência e de torque do motor ajuda a reduzir o turbolag. No C3 You, o câmbio com 7 marchas simuladas até conta com um modo “Sport” (acionável em uma tecla em uma posição um tanto desconfortável, ao lado esquerdo da coluna de direção), porém, nem é necessário usá-lo para se conseguir retomadas bastante progressivas e convincentes. Segundo a Citroën, a aceleração de zero a 100 km/h é feita em 8,4 e 8,5 segundos, com etanol e gasolina, respectivamente, e a velocidade máxima é de 194/192 km/h, com etanol/gasolina. Nos testes do Inmetro, o C3 You obteve 7,8/8,8 km/l na cidade e na estrada com etanol e 11,0 e 12,8 km/l com gasolina. As notas do consumo não são tão empolgantes: “C” tanto na categoria quanto no geral.
Com o 1.0 turbo de três cilindros, o C3 “top” ficou tão mais “esperto” em relação ao antigo 1.6 16V que foi necessário fazer mudanças na suspensão, nos freios e na direção – todos bastante bem-sucedidos em termos dinâmicos. O modelo é bom em curvas e corresponde adequadamente às expectativas dos que adotam um estilo de direção mais agressivo – se o motorista não se incomodar com os ruídos de rodagem, que dominam a cabine sem encontrar resistência. Entretanto, o conjunto suspensivo na versão You é um pouco mais inclemente com os passageiros – em pisos irregulares percorridos em velocidades elevadas, o conforto fica comprometido. Em compensação, a altura mínima em relação ao solo de 18 centímetros facilita a tarefa de transpor eventuais lombadas e valetas. A direção eletricamente assistida do C3 ganhou consistência nas velocidades elevadas, também para se adequar ao perfil mais “serelepe” da opção “top”. Recursos de segurança mais tecnológicos, como algum assistente de condução além dos obrigatórios controle de tração e estabilidade, seriam bem-vindos – mas estão ausentes, em nome do posicionamento de preços do C3 You. Os únicos airbags presentes são os dois frontais obrigatórios.
Ficha técnica
Citroën C3 You
Motor: gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com wastegate elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão e por eixo comando simples no escape. Injeção direta de combustível sequencial e acelerador eletrônico.
Potência: 125/130 cavalos a 5.750 rpm com gasolina/etanol
Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol
Transmissão: CVT com acoplamento por conversor de torque com 7 velocidades pré-programadas
Tração: dianteira
Suspensão: dianteira do tipo MacPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás, traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás
Pneus: 195/60 R15
Freios: disco ventilado na frente e tambor na traseira com ABS e EBD
Carroceria: hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares
Dimensões: 3,98 metros de comprimento, 1,73 metro de largura, 1,60 metro de altura e 2,54 metros de distância de entre-eixos
Peso: 1.115 kg
Capacidade do porta-malas: 315 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Preço: R$ 100.990. O opcional de pintura metálica acrescenta R$ 1.600, totalizando R$ 102.590.
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix
Fotos: Luiza Kreitlon/AutoMotrix
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