Desde que o hatch compacto Nissan March deixou de ser produzido no Brasil, em 2020, coube ao sedã compacto Versa ocupar o cargo de “modelo de entrada” da marca japonesa no mercado brasileiro. Na prática, tal função é compartilhada com o utilitário esportivo Kicks, o “best seller” da marca no Brasil, produzido na fábrica de Resende (RJ), com faixa de preços pouco superior. Em 2024, o Versa obteve 9.753 emplacamentos nos dez primeiros meses do ano, que o deixam como sétimo colocado no ranking nacional de vendas do segmento de sedãs compactos, superado pelos concorrentes Chevrolet Onix Plus (49.013 emplacamentos de janeiro a outubro), Fiat Cronos (34.012), Hyundai HB20S (27.280), Volkswagen Virtus (26.506), Toyota Yaris sedã (19.192) e Honda City sedã (12.798). Ficou na frente apenas do Renault Logan, que deixou de ser produzido no Paraná no fim de outubro após 17 anos em linha, totalizando 4.519 vendas em 2024. A versão SR (que significa “Sport Rally”) do sedã produzido em Aguascalientes, no México – com detalhes esportivos, mas sem alterações no motor 1.6 aspirado – chegou em maio deste ano. Com preço de R$ 125.190, posiciona-se R$ 4.700 acima da intermediária Advance e R$ 13.800 abaixo da “top” Exclusive.
A SR preserva as caraterísticas básicas das demais configurações da linha Versa. Tem 4,50 metros de comprimento, 1,74 metro de largura, 1,47 metro de altura e 2,62 metros entre os eixos, com porta-malas de 482 litros. A plataforma V da linha Versa é de 2012, porém, foi atualizada na geração lançada em 2020 para aceitar recursos de assistência ao motorista (ADAS). O conceito de design do sedã é o V Motion 2.0, sem grandes ousadias, entretanto, contemporâneo e equilibrado. Os volumes bem marcados fazem com que o sedã compacto pareça ser um médio. Sob o capô, o Versa SR traz o mesmo motor 1.6 16V flex de toda a linha do sedã, que rende 113 cavalos a 5.600 rpm e 15,3 kgfm 4 mil giros com etanol, sempre gerenciado por um câmbio X-tronic CVT com 6 marchas simuladas. É o mesmo conjunto mecânico usado pelo Kicks.
Para ter redução de preço de R$ 13.800 em relação à “top” Exclusive, a SR abdica de revestimento em couro sintético nos bancos, assinatura e faróis em leds, ar-condicionado digital, apoio central traseiro, monitor de ponto cego e dos alertas de atenção do motorista e de tráfego cruzado traseiro. Foram mantidos os alertas de colisão com assistente inteligente de frenagem (pode atuar no freio autonomamente) e de objetos esquecidos no banco traseiro. As rodas passam de 17 para 16 polegadas e a central multimídia reduz de 8 para 7 polegadas. A SR traz de série faróis halógenos, seis airbags, chave presencial para travas e ignição por botão Push Start, central multimídia com espelhamento via cabo para Android Auto e Apple CarPlay, controle de cruzeiro, carregador de celular sem fio, câmera 360 graus, vidros com acionamento elétrico nas quatro portas e painel de instrumentos com tela colorida de 7 polegadas.
Ser apenas uma opção mais despojada e mais barata que a Exclusive não bastaria para criar uma nova opção atraente aos consumidores. Para isso, o Versa SR aposta em uma estética mais esportiva e jovial. Tal proposta é explicitada pelos emblemas “SR” na grade frontal e na tampa traseira, carenagens dos retrovisores externos e grade em preto brilhante, rodas de 16 polegadas diamantadas e um elegante spoiler da cor da carroceria na tampa do porta-malas. Internamente, a esportividade é evocada pelas costuras duplas em laranja nos bancos, no console frontal e nos painéis das portas. O acabamento em preto brilhante no painel e a imitação de fibra de carbono nos puxadores das portas reforçam o estilo, assim como o volante revestido em couro sintético e os detalhes em alumínio e cromados no console central, no painel e nas portas.
O custo inicial de R$ 125.190 do Versa SR vale somente para a carroceria na cor Preto Premium. As outras cores disponíveis – Cinza Grafite, Branco Diamond, Prata Lunar e Vermelho Scarlet (a do modelo testado) – acrescentam R$ 2 mil à fatura. Há vários opcionais disponíveis para a SR, incluindo sensor de estacionamento dianteiro (R$ 1.132), iluminação interna (R$ 519), calha de chuva (R$ 316), tapete para porta-malas (R$ 406), tapete de banco traseiro para pets (R$ 518) e interface sem fio para o multimídia (R$ 758).
Experiência a bordo
Bem dimensionado
Desde sua estreia em 2011, o Versa sempre foi um sedã compacto reconhecido pelo bom espaço interno, tanto nos bancos da frente quanto atrás, e pelo porta-malas generoso – na atual geração, são 482 litros. A percepção de amplitude é potencializada pelos fartos e eficientes nichos para objetos, como o compartimento sob o apoio de braços entre os bancos. Na frente, os eficientes bancos Zero Gravity apoiam as costas e reforçam o conforto – não cansa após longas horas ao volante. O isolamento acústico é eficiente, apesar do câmbio CVT ser um tanto rumoroso nos giros mais elevados.
O aspecto interior do Versa remete bastante ao do utilitário esportivo Kicks. Na versão SR, traz detalhes que reforçam o estilo mais esportivo. O console frontal e o volante multifuncional – que conta com regulagem de altura e profundidade – são revestidos em couro sintético, enquanto guarnições nas portas simulam fibra de carbono. Costuras e detalhes alaranjados nos bancos revestidos em tecido preto, nas portas e no console reforçam a desejável jovialidade da variante. O acabamento preserva o bom padrão da linha Versa, com predomínio de plástico rígido mas com texturas agradáveis e encaixes corretos e sem rebarbas. Há tomadas USB para o banco traseiro, no entanto, não há saídas de ar-condicionado específicas para o pessoal de trás.
O painel de instrumentos é parcialmente digital. No multimídia, o destaque é a câmera 360 graus – uma composição das câmeras externas, simulando uma imagem aérea –, recurso usual nos modelos da Nissan que ajuda bastante na hora de estacionar. Contudo, a central multimídia Nissan Connect com display “touchscreen” colorido de 7 polegadas não oferece espelhamento de celular wireless, obrigando a se recorrer aos cabos USB (do tipo A), algo que gera uma sensação de anacronismo. Além da tela não ser das maiores, o multimídia parece defasado em relação aos sedãs compactos concorrentes.
Impressões ao dirigir
Tempero insinuado
Em um segmento progressivamente dominado por motores turbo de três cilindros, o 1.6 16V de quatro cilindros aspirado com 113 cavalos e 15,3 kgfm do Versa mostra que dá conta de um sedã compacto com 1.139 quilos, embora o câmbio CVT com 6 marchas simuladas, com uma calibração voltada para o rendimento energético, às vezes torne as reações às pressões no pedal do acelerador mais demoradas. Na versão SR, a relação peso/potência é de 10 kg/cv, o zero a 100 km/h fica em 10,7 segundos e a velocidade final em 180 km/h – números que passam longe da esportividade insinuada pela estética do modelo. De fato, as acelerações são progressivas e suaves, tornando o sedã agradável para o uso no trânsito urbano. Mas o CVT eventualmente apresenta aquela característica um tanto incômoda de elevar demais o giro do motor quando o motorista pisa fundo para retomar a velocidade. Com o torque máximo surgindo em 4 mil rpm, isso ocorre com certa frequência.
O fato do motor não ter turbocompressor e de contar com corrente e não com correia no comando de válvulas ajudou a dar fama de confiabilidade e de durabilidade ao conjunto do Versa – algo que, juntamente com os amplos espaços internos e do porta-malas, torna o sedã compacto da Nissan uma das opções preferenciais entre os taxistas e motoristas de aplicativos. Na última avaliação do Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro, o consumo urbano com etanol e gasolina do Versa foi de 8,1 e 11,8 km/h e o rodoviário ficou em 10,5 e 15,0 km/l, respectivamente com etanol e gasolina.
A direção elétrica do Versa SR é bem calibrada, oferecendo leveza em baixas velocidades e o peso adequado nas mais altas. Dentro da utilização normal, o conjunto suspensivo controla bem os movimentos da carroceria. Porém, em trechos sinuosos percorridos em velocidades mais elevadas, a suspensão traseira por eixo de torção não se mostra tão precisa. A arquitetura rígida da suspensão traseira funciona bem no asfalto liso, mas não contribui para que eventuais irregularidades do piso sejam filtradas de forma tão eficiente, comprometendo um pouco o conforto em caminhos mal pavimentados – neles, o sedã trepida um pouco mais do desejável.
Ficha técnica
Nissan Versa SR
Motor: gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando com variação contínua de abertura das válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial
Transmissão: continuamente variável
Tração: dianteira. Oferece controle eletrônico de tração de série
Potência: 110/113 cavalos a 5.600 rpm com gasolina/etanol
Torque: 15,2/15,3 kgfm a 4 mil rpm com gasolina/etanol
Suspensão: dianteira independente do tipo MacPherson com barra estabilizadora, traseira por eixo de torção
Pneus: 205/55 R16
Freios: discos ventilados na frente e tambor atrás. ABS com EBD. Oferece assistência de partida em rampa
Carroceria: sedã compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina de série
Dimensões: 4,50 metros de comprimento, 1,74 metro de largura, 1,47 metro de altura e 2,62 metros de distância entre-eixos
Peso: 1.139 quilos
Capacidade do porta-malas: 482 litros
Tanque de combustível: 41 litros
Preço da versão: R$ 125.190. A cor Vermelho Scarlet do modelo testado acrescenta R$ 2 mil, totalizando R$ 127.190
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Luiza Kreitlon/AutoMotrix
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