O mercado da mobilidade rodoviária coletiva na América Latina se reuniu na Lat.Bus 2024, realizada de 6 a 8 de agosto no São Paulo Expo, na capital paulista. O maior evento de ônibus da região ocupou quase 30 mil metros de área e deve receber cerca de 15 mil visitantes, incluindo muitos empresários do setor de transporte coletivo, vindo não apenas de todos os Estados brasileiros, mas dos principais mercados externos das empresas do setor instaladas no Brasil. Pelo que as fabricantes de chassis e encarroçadoras exibiram, ficou evidente a aposta generalizada na eletrificação. A maioria dos estandes tinha veículos carregáveis nas tomadas.
Contudo, a eletrificação do transporte coletivo rodoviário de passageiros ainda tem alguns desafios a resolver: um ônibus elétrico custa o triplo de um similar a diesel, é necessário a criação de uma estrutura de carregamento e conseguir um fornecimento de energia confiável e com preços viáveis. Porém, nada disso parece inibir as empresas do setor, que na edição de 2024 da Lat.Bus estão particularmente animadas por conta do evento bianual ocorrer em um ano de eleições municipais. “Temas como aumento e renovação de frotas de ônibus, ampliação de linhas e de gratuidades nas passagens ajudam a ganhar e a perder votos. A mobilidade e o transporte terão um papel central nas eleições municipais de outubro”, analisou Marcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), na abertura do evento.
Os principais holofotes da festa estiveram sobre os modelos elétricos – todos eles do segmento urbano. Entretanto, a Lat.Bus 2024 também teve espaço para ônibus a diesel, todos com tecnologia Euro 6, nos segmentos rodoviário, de fretamento e de turismo. As inovações tecnológicas ligadas ao conforto, à economia de combustível e à segurança apresentadas no evento indicam um futuro mais promissor para o transporte coletivo rodoviário latino-americano.
Destaques da Lat.Bus 2024
Volvo
Os dois destaques da marca sueca, que tem fábrica em Curitiba (PR), disputarão em breve lugar nas tomadas brasileiras. O principal foi o lançamento do BZRT, o primeiro ônibus biarticulado 100% elétrico da Volvo. O BZRT é equipado com dois motores de 200 kW cada, totalizando 400 kW, equivalente a 540 cavalos. Tem também uma caixa de câmbio automatizada, com base na transmissão I-Shift. O trem de força tem a mesma base tecnológica presente nos caminhões e equipamentos de construção elétricos da Volvo. A depender da demanda de cada cidade, o BZRT pode ter seis ou oito baterias. “Isso resulta em até 720 kWh de capacidade e autonomia de até 250 quilômetros”, explica Gilcarlo Prosdócimo, gerente de Engenharia de Vendas da Volvo. A outra novidade foi a chegada ao Brasil da BZR, a nova plataforma elétrica global de chassis da Volvo. Versátil, ela permite aplicações urbanas, de fretamento e até rodoviárias de curta distância. Disponível com um ou dois motores de 200 kW e 433 kgfm de torque, é a mais nova solução eletrificada para carrocerias de até 13,5 metros e capacidade para até 90 passageiros.
Mercedes-Benz
A marca alemã fez a avant-première do eO500UA, o ônibus elétrico articulado da montadora. O modelo está sendo desenvolvido e será produzido no Brasil, na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, com previsão de chegada ao mercado em 2026. Será testado no campo de provas da empresa em Iracemápolis (SP). Está sendo também desenvolvido na Daimler Buses, na Alemanha. “O nosso primeiro elétrico articulado é o ‘irmão maior’ do ônibus elétrico eO500U, desenvolvido e produzido no Brasil, que já circula pelas ruas de São Paulo e deverá iniciar testes em Curitiba, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e Vitória”, comemora Achim Puchert, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO da América Latina. O eO500UA é um articulado de piso baixo para carrocerias de 18 metros. Sua tecnologia se diferencia do eO500U porque tem motor central, em vez de acoplado às rodas. Utiliza tecnologia de baterias NMC3, com autonomia de 250 quilômetros e capacidade para até 120 passageiros. Entre os modelos a diesel, um dos destaques da Mercedes-Benz foi o novo LO 1116, chassi para o segmento de micro-ônibus com capacidade técnica de 10,8 toneladas de PBT (1,4 tonelada a mais que o atual LO 916), podendo receber carrocerias de 9,2 metros de comprimento ou de 10,4 metros. A lotação chega até 50 passageiros.
Volkswagen
A Volkswagen Caminhões e Ônibus iniciou sua jornada na eletromobilidade para transporte de passageiros com a apresentação do chassi e-Volksbus 22L, que agrega uma série de soluções desenvolvidas sob medida para operação no mercado brasileiro. O protótipo do ônibus elétrico, que compartilha vários componentes do caminhão e-Delivery, foi apresentado em maio do ano passado na fábrica de Resende (RJ), onde o modelo será fabricado. Com capacidade para transportar até 82 pessoas, podendo receber carrocerias urbanas de até 13,2 metros de comprimento, o e-Volksbus 22L tem peso bruto total de 22 toneladas e está equipado com motor de 280 kW e torque máximo de 234,5 kgfm. O veículo poderá receber pacotes de oito a 12 baterias e terá autonomia de até 350 quilômetros. No mercado de ônibus a diesel, a Volkswagen passa a contar com dois novos modelos no portfólio: o Volksbus 18.320 SH, primeiro chassi da marca desse porte com motor traseiro para aplicação rodoviária e de fretamento, e Volksbus 22.260, que tem potencial para operar em rotas de grande volume de passageiros.
Scania
A principal novidade da marca sueca para a Lat.Bus 2024 é o K 230E B4x2LB, o ônibus elétrico que será produzido na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. As vendas tiveram início no evento, e as primeiras unidades devem sair da linha de montagem no segundo trimestre de 2025. O K 230E B4x2LB tem autonomia de 250 a 300 quilômetros e opções de quatro ou cinco pacotes de baterias. O propulsor EMC 1-2 tem potência contínua de 230 kW (310 cavalos) a 1.750 rpm, torque de 224,3 kgfm disponível a qualquer rotação (curva plana em regime contínuo) e potência de pico de 300 kW (407,8 cavalos) a 1.400 rpm. Tem tração 4×2 e comporta carrocerias de 12 a 14 metros – capacidade média para 80 passageiros –, na configuração de piso baixo ou normal. As baterias do ônibus elétrico da Scania serão de NMC (lítio-níquel-manganês-cobalto).
Iveco
O 17-E BEV é o chassi elétrico da Iveco Bus desenvolvido para a realidade do Brasil e da América Latina. O conceito inaugura, junto com a eDaily Minibus, a jornada de eletrificação da marca italiana na região. Comportando carrocerias de 9,6 a 12 metros na configuração de piso normal, com quatro ou oito packs de baterias instaladas no piso, o chassi-conceito 17-E BEV tem como principal vocação a aplicação urbana, com tração 4×2 e comportando carrocerias de 9,6 a 12 metros de comprimento, inicialmente na configuração de piso normal. Seu conjunto de baterias modulares pode ser instalado em quatro ou oito packs entre as longarinas no chassi, eliminando a necessidade de baterias no teto do veículo – não é preciso reforçar toda a estrutura da carroceria. O motor de 145 kW de potência e 107,6 kgfm de torque contínuo fica instalado no entre-eixos do chassi. A autonomia do 17-E BEV varia de 120 quilômetro com quatro packs de bateria até 250 quilômetros com oito packs, já considerando condições regulares de operação. Outra novidade elétrica da Iveco é o furgão eDaily Minibus, apresentado como conceito, na configuração 8 + 1 VIP. A tração traseira e as baterias do modelo permitem um alcance de até 300 quilômetros, com potência de 140 kW e torque de 40,7 kgfm.
Eletra
A Eletra é uma empresa brasileira, fundada em 1989 em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Trabalha no desenvolvimento de tecnologia de tração elétrica para ônibus e caminhões. Em seu estande na Lat. Bus, entre alguns dos mais de dez tipos de ônibus elétricos que a empresa produz, a novidade foi o modelo Escolar Elétrico Piso Alto, desenvolvido sobre um chassi Volkswagen 17.230 com um motor elétrico da Weg e carroceria Caio Millenium. Com 9,71 metro de comprimento, o modelo tem capacidade para 40 passageiros, com autonomia de até 130 quilômetros.
Marcopolo
Uma das grandes novidades da encarroçadora gaúcha na Lat.Bus 2024 foi a apresentação do primeiro micro-ônibus híbrido produzido no Brasil com tecnologia nacional, o Volare Attack 9 Híbrido. Com comercialização prevista a partir de 2026, o modelo tem um “powertrain” elétrico de tecnologia Range Extender. Isso permite recarregar as baterias por meio de um grupo-gerador com um motor turbo 1.0 de três cilindros flexfuel, movido a etanol. O projeto é resultado da parceria da Volare com a Horse, empresa da divisão da Horse Powertrain Limited, uma joint-venture da Renault e da Geely, que desenvolve soluções híbridas e motores a combustão de baixas emissões, e com a WEG, multinacional brasileira fabricante de equipamentos eletroeletrônicos. A energia que alimenta o motor elétrico é gerada por um motor a etanol, colaborando para o ecossistema, por ser neutro no ciclo do CO2, permitindo a obtenção de créditos de carbono. O modelo se destaca ainda pela autonomia, que pode chegar a 450 quilômetros, e o reduzido volume ocupado por apenas três packs de baterias, que armazenam 122 kWh, proporcionando maior capacidade de transporte de pessoas.
Irizar
A encarroçadora espanhola apresentou na Lat.Bus 2024 o ônibus mais eficiente de sua história, uma nova geração do modelo rodoviário i6S Efficient. Com motor a diesel Euro 6 da Scania, o modelo lançado no mercado latino-americano foi desenvolvido especialmente para as condições de operação da região. Com o novo modelo, o consumo e as emissões foram reduzidos em até 13%. Parte da frente do veículo e o teto foram modificados, com trabalho feito ainda na curvatura do para-brisa e no restante dos vidros dianteiros para reduzir a resistência do ar. O i6S Efficient vem com câmeras de visão digital, dispensando o uso dos retrovisores, com o objetivo de proporcionar uma visão grande angular em qualquer condição climática.
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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