A principal diferença entre as duas categorias mais populares do automobilismo brasileiro está na origem do equipamento. Enquanto na Stock Car a tecnologia é de dentro para fora – pois os carros são construídos especialmente para o campeonato, utilizando somente a “bolha” imitando a carenagem do modelo de rua –, na Copa Truck, a tecnologia é de fora para dentro – com os caminhões de pista usando todos os itens dos modelos de produção, incluindo os pneus, apenas “lixados” para a competição. E é justamente essa diferença que atrai as fabricantes de caminhões para dentro da categoria, permitindo fazer da competição ser um legítimo laboratório para seus veículos de fábrica.
Mais que uma competição propriamente dita, as corridas de caminhões sempre foram um grande espetáculo. As primeiras grandes competições nacionais surgiram em 1987 com a Copa Brasil de Caminhões, utilizando os cavalos-mecânicos praticamente sem alteração alguma. No entanto, a Fórmula-Truck, com os caminhões com alguma preparação, viria para ficar em 1995, atraindo, de imediato, as atenções das fabricantes, pois os autódromos estavam sempre lotados. Depois de uma fase de declínio, onde definhou aos poucos até quase ser extinta, a salvação da competição de caminhões veio com a intervenção da Vicar, organizadora da Stock Car, que comprou os direitos da competição dos caminhões para criar a Copa Truck, em 2018. Com quase o mesmo pessoal de apoio e o mesmo formato de espetáculo da Fórmula-Truck, a nova categoria começou com um grid pouco frequentado e com as fabricantes ainda distantes. Entretanto, foi o público – mais uma vez – que fez a coisa renascer. Quando tudo tomou rumo, já com a presença de quase todas as grandes montadoras com produção nacional, muitos caminhoneiros da antiga categoria e com a chegada cada vez mais crescente de pilotos de fato, a Copa Truck voltou aos eixos.
Atualmente, participam da Copa Truck caminhões da Mercedes-Benz, da Volkswagen-MAN, da Iveco e da Volvo, que compõem um generoso grid de 25 competidores – às vezes, até mais. A receita segue quase idêntica: os caminhões devem ser os mesmos da estrada, preparados para a segurança do piloto com estrutura de gaiola de santantônio, banco tipo concha e cinto de segurança iguais a qualquer carro de competição, seja de turismo ou de fórmula. Além da transmissão nacional pela emissora de televisão aberta Band e pelos canais por assinatura SportTV, quem garante o sucesso da Copa Truck são as fabricantes e o público, praticamente formado por “gente da boleia” e suas famílias.
Desde sempre, a marca mais presente na categoria é a Mercedes-Benz, com 13 caminhões no grid, elegendo como o principal modelo o Actros. A equipe oficial de fábrica da marca alemã, do paranaense Wellington Cirino – tetracampeão da Fórmula-Truck e primeiro campeão da Copa Truck, em 2018 –, imita a pintura dos carros da equipe da Fórmula-1, com o prata dominando ao lado do verde-água e do preto. A elevada potência de 1.250 cavalos a 3.500 rpm do motor do Actros nas pistas da Truck é quase três vezes maior em relação ao caminhão de série utilizado no transporte de carga. O torque máximo chega a 550 kgfm a 2 mil giros, mais que o dobro ante o modelo de estrada. Com uma transmissão manual de 10 marchas – na qual a sexta equivale à primeira na pista –, o Actros de competição ultrapassa os 200 km/h em muitos circuitos brasileiros. A parceria da Mercedes-Benz com a equipe ASG envolve o fornecimento de peças ao longo do ano e apoio da engenharia da empresa na parametrização dos motores de acordo com cada etapa e pista. Pelo terceiro ano seguido, o Actros é também o safety truck do campeonato.
A Volkswagen-MAN é a segunda maior frequentadora do grid da Copa Truck, com cinco caminhões, utilizando a categoria para laboratório para seus modelos de produção. A marca alemã escolheu para a Truck deste ano o Meteor, seu novo extrapesado. Um dos motivos para o bom desempenho dos competidores nas corridas é a tecnologia aplicada nos veículos pela área de Engenharia da Volkswagen Caminhões e Ônibus. A equipe desenvolve, a partir de caminhões do portfólio da marca, modelos sob medida para a competição. “Usamos a estrutura original dos caminhões de rua e a adaptamos desde o chassi até a cabine para obtenção da máxima eficiência nas pistas. Para isso, conversamos com os pilotos para obter as informações que nos ajudarão a otimizar veículo. Também fazemos testes extras em pistas, laboratórios de motor e simulações virtuais para desenvolvermos um veículo de alta performance, segurança e durabilidade”, explica Rodrigo Chaves, vice-presidente de Engenharia da VWCO. “A experiência nas pistas serve como um laboratório, colaborando para o desenvolvimento e validação de novos conceitos de sistemas. A partir das análises e testes que fazemos para modificações nos caminhões da competição, podemos identificar melhorias que podem ser aplicadas nos caminhões do portfólio da VWCO”, completa Chaves.
Com quatro competidores, a Iveco participa da Copa Truck em 2022 como o modelo Hi-Way, empurrado pelo motor FPT Cursor 13, de seis cilindros consagrado no transporte de cargas, que recebeu preparação especial para as pistas, podendo chegar a 1.200 cavalos de potência. “O motor FPT Cursor 13 de competição é muito robusto, sendo aplicado nas condições mais severas ao longo da temporada. Com o que há de mais avançado em tecnologia, nossa motorização não apresenta indícios de desgaste prematuro, com as equipes seguindo o plano normal de manutenção. A Copa Truck é um importante campo de testes para a equipe de pesquisa e desenvolvimento da FPT, validando nossos produtos para máximo rendimento, seja qual for o uso e aplicação”, afirma Edinilson Almeida, especialista de Marketing de Produto da FPT Industrial.
O grid traz ainda dois Volvo FH, um deles pilotado por Leandro Totti, um mecânico que se transformou em piloto e conquistou o tricampeonato da Fórmula-Truck (em 2012, 2014 e 2015). A marca sueca esteve mais envolvida com a corrida dos caminhões na fase antiga, quando conquistou o bicampeonato com o gaúcho Jorge Fleck, em 1999 e 2000, com o modelo “bicudo”, pela frente estendida, N10. “O atual caminhão FH de pista usa os mesmos componentes do veículo de produção. As mudanças para a competição envolvem o motor com os mesmos itens internos dos propulsores que equipam nossos veículos de produção regular, mas com uma preparação que atinge potência quase cinco vezes superior – não ultrapassando os 1.200 cavalos -, tudo dentro do regulamento da Copa Truck. A fábrica de Curitiba dá toda a assistência para a equipe de pista”, revela Alcides Cavalcanti, diretor Comercial de Caminhões da Volvo. O grid da Copa Truck é completado por um caminhão de outra marca sueca, um Scania G420 pilotado por Ricardo Alvarez, que disputa sem o apoio oficial da montadora.
Por Luiz Humberto Monteiro Pereira/AutoMotrix – Fotos: Divulgação
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