No off-road, às vezes, ser grande é uma vantagem. Entre-eixos longo, muita robustez e peso elevado podem ser atributos interessantes na transposição de alguns obstáculos que surgem nas trilhas. Mas o tamanho avantajado também pode atrapalhar. Nas veredas mais estreitas e em terrenos instáveis, às vezes, os veículos maiores e mais pesados não conseguem passar. Para esses “pedaços de mau caminho”, é preferível ter um utilitário esportivo mais leve e compacto, porém, que não abra mão da força e dos recursos tecnológicos necessários para transpor buracos, lamaçais e pirambeiras da vida. Essa é a proposta do Suzuki Jimny, que acaba de desembarcar no Brasil em sua quarta geração, aqui denominada de Sierra. A geração anterior do Jimny, que é produzida na fábrica da HPE Automotores do Brasil na cidade goiana de Catalão, continua à venda, por preços de R$ 74.990 a R$ 92.990. Já o Jimny Sierra chega importado do Japão, em uma faixa de R$ 103.990 a R$ 122.990, com mais equipamentos, aperfeiçoamentos estruturais, “powertrain” mais moderno e um novo design.
Assim como a geração anterior, o Jimny Sierra é um utilitário esportivo para quatro passageiros construído com chassi Heavy-Duty, composto por dois grandes vergalhões de aço nos quais estão as partes mecânicas. Por cima deles, apoiada sobre longarinas, está a carroceria do carro. Essa estrutura, similar à adotada pelas picapes médias e os SUVs derivados delas, possibilita que o veículo ultrapasse obstáculos radicais sem sofrer grandes torções na carroceria. O motor 1,5 litro a gasolina de 108 cavalos e 14,1 kgfm de torque é totalmente novo e agora apresenta a inédita opção de transmissão automática de 4 marchas – antes, havia apenas o câmbio manual de 5 velocidades, que continua a ser oferecido. O baixo peso do Sierra – de 1.090 e 1.135 quilos, dependendo da versão – é outra característica que ajuda a ultrapassar terrenos arenosos e lamacentos.
O exterior foi redesenhado, no entanto, preserva o estilo quadrado e sem muitos vincos que sempre marcou a identidade do Jimny. O para-brisa e a coluna frontal estão em uma posição mais vertical e o capô é plano, evitando reflexos que possam atrapalhar a visibilidade. Para evitar batidas de pedras na carroceria, as molduras dos para-lamas são mais largas e vem com textura anti-risco, assim como os para-choques. Os vidros laterais são verticais, para evitar acúmulo de lama ou água. O teto é equipado com calhas, que permitem a instalação de racks nas extremidades. As portas se abrem em três estágios e com ângulo de até 70 graus e os faróis em leds têm regulagem automática de altura. O estepe, com roda e pneu iguais às demais, colocado no exterior da tampa do porta-malas, reforça o estilo aventureiro.
Segundo a Suzuki, o interior do Jimny Sierra prioriza a praticidade com materiais duráveis, fáceis de limpar e resistentes a riscos. Os clusters e console central se caracterizam por linhas horizontais que ajudam o motorista a reconhecer o ângulo em que o veículo está em terrenos irregulares. O antigo botão moderninho para acionamento da tração 4×4 e reduzida deu lugar a uma alavanca tradicional – aparentemente considerada mais confiável pelos jipeiros. O novo sistema multimídia JBL tem tela sensível ao toque de 7 polegadas com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto e conectividade Wi-Fi.
Ao todo, são oito cores disponíveis e algumas com a possibilidade de personalização do teto em preto: Amarelo Kinetic, Azul Brisk, Bege Chiffon, Branco Superior, Cinza Medium, Prata Silky, Preto Bluish e Verde Jungle. O veículo será comercializado no Brasil em três versões: 4You manual (R$ 103.990), 4You automático (R$ 111.990) e 4Style (R$ 122.990) oferecida apenas com o câmbio automático. A expectativa da Suzuki é vender no Brasil entre 200 e 300 unidades de Jimny Sierra em 2020, mas isso dependerá da disponibilidade de entrega da fábrica japonesa – o carro é um sucesso de vendas e há filas de espera em diversos mercados mundiais. A HPE estuda a possibilidade de nacionalizar a produção do modelo, provavelmente a partir de 2021.
Experiência a bordo
Evolução interior
Os bancos dianteiros do Jimny Sierra são mais largos em relação aos da geração anterior, têm maior absorção de impactos e maior curso nos trilhos, evoluções que fazem considerável diferença em termos de conforto. O painel de instrumentos tem mostradores grandes e oferece boa visibilidade, mesmo em locais muito iluminados ou áreas de sombra. O volante em couro é regulável apenas em altura, entretanto, é agradável de se usar. Tem boa empunhadura e é equipado com piloto automático, controles de áudio, piloto automático e limitador de velocidade, que ajuda a escapar das multas. Todos os plásticos são duros, contudo, a montagem é bem executada. Quando se pretende transportar passageiros nos lugares traseiros, o acesso ao banco posterior obriga a alguma ginástica.
O sistema multimídia JBL com “touchscreen” de 7” com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto e conectividade Wi-Fi é razoavelmente intuitivo. A maioria dos controles está em posições fáceis de se operar. Uma exceção são as teclas de acionamento dos vidros elétricos, que na geração anterior ficavam nas portas e agora estão no console central, abaixo do multimídia. O isolamento acústico não é um ponto forte e o barulho do motor se faz notar a bordo, principalmente nas retomadas de velocidade. Talvez um câmbio com mais marchas ajudasse a resolver a questão, mas ocuparia mais espaço que o de 4 marchas – e o tamanho dos equipamentos é algo fundamental em um veículo tão pequeno. Em compensação, o conjunto suspensivo evoluiu consideravelmente e o novo Jimny está bem mais cordial com os passageiros, seja no uso urbano e nas estradas ou no off-road.
Primeiras impressões
Onde os grandalhões não chegam
Cabreúva/SP – O teste de avaliação do Jimny Sierra para a imprensa especializada brasileira teve cerca de duzentos quilômetros e ocorreu do bairro paulistano do Itaim-Bibi à Fazenda Guaxinduva, localizada no coração da Serra do Japi, uma pequena cadeia montanhosa no sudeste do Estado de São Paulo que é também um raro remanescente da Mata Atlântica paulista. O teste incluiu alguns trechos de off-road bastante radicais, que permitiram ao pequeno Suzuki superar difíceis obstáculos, manobrar em meio às florestas, passar por grandes pedras ou lamaçais e chegar a lugares fora do alcance para os automóveis normais e até de SUVs maiores.
O Jimny Sierra é preparado para enfrentar situações extremas e disponibiliza uma legítima performance off-road. Com seu robusto chassi Heavy-Duty, o “carrinho” oferece bons ângulos de transposição. A suspensão com eixo rígido 3-link com molas helicoidais dá conta do recado nas trilhas, sem vacilações. As dimensões compactas e o baixo peso criam novas possibilidades no off-road, inviáveis para os utilitários esportivos mais avantajados. O modo 4×4 (4H) pode ser acionado em andamento até os 100 km/h. No entanto, é importante garantir que as rodas não estejam viradas. Já a reduzida só deve ser engatada com o veículo parado e o câmbio na posição “N”. O controle eletrônico de descidas HDC é de série.
Embora prefira os médios e altos regimes – a sua faixa ideal é de 3 mil a 6 mil rpm –, o desempenho do motor em baixas rotações não faz feio. A tração AllGrip Pro com reduzida torna a transposição de obstáculos ainda mais fácil. Mesmo em subidas íngremes, sobre terrenos mais exigentes ou em obstáculos mais complexos, é notável a disposição com que o Jimny Sierra evolui nas trilhas. Para garantir ainda mais segurança em qualquer situação, o modelo conta com controle de estabilidade (ESP), além de Hill Hold (assistente de partida em rampas) e Hill Descent (assistente de descida). O sistema LSD ajuda a superar situações em que duas rodas na diagonal perdem tração. Ao detectar automaticamente as rodas que não estão em contato com o solo, redistribui o torque para as rodas do lado oposto, tirando o motorista de qualquer enrascada. São detalhes assim que ajudam o “sui generis” modelo da Suzuki a encantar os que gostam de fazer trilhas, principalmente os que não têm famílias numerosas e acham desnecessário investir em um SUV grandalhão.