A Scania vive uma grande fase no Brasil. Está comemorando a marca de 10 mil encomendas da sua nova geração de caminhões, que começou a ser entregue em fevereiro. O sucesso de vendas faz a marca sueca rever sua projeção de crescimento no mercado de caminhões em que atua, acima de 16 toneladas (semipesados e pesados), de 10 a 20% para um volume que ficará entre 40 a 50% superior a 2018. “Com apenas sete meses de vendas, já temos o R 450 como segundo caminhão mais vendido de toda a indústria e da categoria dos pesados”, comemora Roberto Barral, vice-presidente das Operações Comerciais da Scania no Brasil. Agora, a empresa anuncia que sua nova aposta para a América Latina será nos veículos movidos com gás natural veicular (GNV) e/ou biometano. Para tanto, a Scania investiu no último ano, R$ 21 milhões para a industrialização dos novos veículos que passam a ser produzidos a partir do primeiro trimestre de 2020, na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Além disso, realiza testes um caminhão movido exclusivamente por biometano, um gás que pode ser obtido a partir de resíduos agropecuários ou de lixo em lugares onde não há disponibilidade de GNV.
A viabilidade no custo do transporte dos caminhões movidos a GNV no Brasil foi comprovada pela Scania através de uma demonstração realizada desde outubro de 2018 com um caminhão pesado de cabine R e 410 cavalos de potência, da nova geração, que pode ser abastecido com GNV ou biometano e que presta serviços à Citrosuco, empresa paulista que é a maior produtora global de suco concentrado de laranja. A rota escolhida fica entre Matão, onde fica a sede da Citrosuco, até o Porto de Santos, no litoral paulista, para levar suco de laranja para a exportação destinada a mais de 100 países. Trata-se de um trajeto rico topograficamente que permite ao veículo enfrentar a desafiadora Serra de Santos. O R410 rodou apenas com gás natural, e nesta aplicação, em relação a um modelo diesel, houve uma diminuição de 15% no custo do km rodado proveniente da redução do combustível, comprovando a viabilidade do transporte.
“Não é conversão. Nosso motor tem garantia de fábrica e tecnologia confiável. Na demonstração com a Citrosuco, o R 410 vem tendo um desempenho consistente e força semelhante ao caminhão a diesel. Além de ser 20% mais silencioso”, ressalta Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania no Brasil. Em termos de emissões, a redução de CO2 também pode chegar a até 15% na comparação ao diesel. “Com os resultados da demonstração, já temos interesse de compra. Do ponto de vista operacional está aprovado. O consumo foi próximo do que havíamos pensado. Estamos animados para incluir na renovação da frota da Citrosuco para 2020”, avalia André Leopoldo e Silva, diretor-geral da Morada Logística, prestadora de serviços da Citrosuco que cuida de toda a operação logística.
Paralelamente à fase final do lançamento dos caminhões Scania movidos a GNV no Brasil, a Scania e a ZEG, empresa do Grupo Capitale Energia dedicada à geração de energia renovável, estão juntas no projeto do primeiro caminhão 100% movido a biometano em operação no país. O modelo fora de estrada G 410 XT 6×4 entrará em operação em uma das usinas da São Martinho, um dos maiores grupos sucroalcooleiros do Brasil, onde realizará demonstrações utilizando o biometano produzido pela ZEG. “Nosso propósito é liderar a transformação para um sistema de transporte sustentável. Somos parte do problema e seguramente queremos ser parte da solução. Para isso, temos trabalhado fortemente para trazer soluções que diminuam o impacto ambiental. Um desses pilares são os combustíveis alternativos renováveis e não fósseis – viáveis aqui e agora”, reforça Christopher Podgorski, Presidente e CEO da Scania Latin America.
A ZEG desenvolveu uma tecnologia de produção do combustível em estruturas de médio porte, com escala replicável. A ideia é instalar plantas de produção no interior do Brasil, onde atualmente a oferta de gás natural é inexistente, em parceria com empresas de agronegócio ou indústrias. “Utilizando resíduos orgânicos conseguimos produzir um combustível de excelente qualidade, com performance equivalente ao gás natural e com muitas vantagens ambientais, com redução de até 90% da emissão de gases do efeito estufa”, explica Daniel Rossi, CEO da ZEG e sócio-fundador da Capitale Energia. GasBio é o nome dado ao combustível da ZEG, que está sendo produzido no distrito de Sapopemba, em São Mateus (SP), a partir do biogás do Centro de Tratamento de Resíduos Leste. Mas a tecnologia da ZEG permite a produção de combustível a partir de resíduos da cultura de cana-de-açúcar e de outros tipos de resíduos agrícolas e industriais. Se o GNV já é realidade no Brasil no segmento de automóveis e agora promete chegar com força ao transporte de cargas, o potencial do biometano no país também é enorme. Na Suécia, 90% do transporte público é movido a biometano.
Primeiras impressões
Futuro movido a resíduos
Tatuí/SP – Às vezes, a indústria automotiva se aproxima da ficção científica. Em uma cena do filme “De Volta Para o Futuro”, dirigido pelo norte-americano Robert Zemeckis em 1985, o cientista Doc Brown retorna do futuro ao tempo presente e cata lixo nas ruas para abastecer seu DeLorean transformado em uma sofisticada nave de transporte através do tempo. Agora, já roda no Brasil um caminhão fora de estrada que roda utilizando somente biometano, um gás produzido a partir do lixo ou de rejeitos agropecuários. Ou seja, um pesado que dispensa totalmente os combustíveis fósseis, como o diesel e o GNV. No circuito off-road do Tatuí Motors Test, no interior paulista, foi possível dar uma volta rápida no caminhão Scania G410 XT 6×4 desenvolvido em parceria com a ZEG, empresa que produz biometano através de rejeitos orgânicos.
Quem assume o volante esperando que um motor movido a biometano ofereça menos torque e potência que um motor tradicional a diesel logo se surpreende. As respostas do “powertrain” são rápidas e o caminhão esbanja disposição e se move com destreza, inclusive nos aclives e trechos esburacados. Algo que surpreende bastante é o baixo nível de ruído a bordo – com os vidros fechados, o caminhão pesado da Scania parece ser mais silencioso que a maioria as picapes médias vendidas no país. Dotado de câmbio automatizado Opticruise e assistente de partida em rampa, o G410 XT 6×4 transpõe os obstáculos que aparecem sem causar estresse ao motorista e, nessa versão específica, sem gerar danos ambientais. Pelo contrário, ainda ajuda a dar destino a resíduos que normalmente são simplesmente descartados em depósitos ou “lixões”. Ou seja, o “cientista louco” de “De Volta Para o Futuro” sabia mesmo das coisas.
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