Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix

Quando surgiu, em 2003, o Ford EcoSport era uma “versão SUV” da segunda geração nacional do Fiesta, lançada um ano antes. O design e o espaço interno sempre foram destaques apontados pelos compradores, em sua maioria vindos de hatches e sedãs compactos e que buscavam algo menos conservador. No estilo, uma característica marcante do modelo era o estepe pendurado na tampa do porta-malas, que remetia aos veículos “off-road” e conferia um aspecto “aventureiro” ao compacto. Com o tempo, o EcoSport desenvolveu uma personalidade própria, gerou uma tendência e criou um segmento de mercado – o dos “compactos aventureiros”, que não parou de crescer desde então. O estepe pendurado na traseira foi um adereço estético imitado por alguns concorrentes, mas com o tempo tem caído em desuso. Mesmo entre os modelos genuinamente “lameiros”, muitos abriram mão do “estepe ostentação”. Até que chegou a vez do EcoSport. Em fevereiro deste ano, chegou às concessionárias, já como modelo 2020, a versão Titanium do EcoSport, que tem como principal novidade justamente a ausência do estepe. Também nessa configuração – a mais cara com tração 4×2 –, o motor 2.0 deu lugar ao três cilindros de 1,5 litro.

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Os fãs do estepe exposto ainda dispõem das versões SE, FreeStyle ou Storm 4WD. Como o EcoSport nunca teve previsão de levar o estepe sob o piso do porta-malas, onde é usualmente colocado, a Ford adotou uma solução comum em modelos esportivos: equipou a versão Titanium com pneus run flat, que podem rodar furados por até 80 quilômetros a uma velocidade de até 80 km/h, e equipou o modelo de um kit de reparo com compressor e spray selante, que fica no porta-malas. O usuário conecta o sistema ao pneu furado, em seguida, preenche o pneu com o selante, o que permite estender a autonomia com o pneu furado para até duzentos quilômetros.

Sem o estepe na tampa do porta-malas, o conjunto do EcoSport perde um pouco de jovialidade, mas ganha um interessante toque de maturidade e sofisticação, características que a “irreverência” do estepe explícito não deixava transparecer. Por fora, o desenho da frente é o mesmo apresentado no “facelift” de julho de 2017, com a grade aumentada e mais elevada, o para-choque esculpido e o conjunto ótico redesenhado. Na traseira, o para-choque proeminente, as linhas limpas, a larga faixa cromada sobre a placa e as lanternas trapezoidais que, anteriormente “ofuscadas” pela presença ostensiva do pneu extra pendurado, ganharam destaque. De quebra, o SUV ainda ficou 13 quilos mais leve. Porém nem tudo é vantagem para quem opta pelo EcoSport Titanium. O porta-malas continua abrindo horizontalmente – a Ford não adotou a abertura vertical, que demandaria um espaço bem inferior para a abertura total da tampa. E a reposição dos pneus run flat custa em média 33% a mais do que os normais.

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Contudo, as novidades no EcoSport Titanium foram além da retirada do estepe. A Ford tirou da versão Titanium o motor 2.0 com injeção direta e 170/176 cavalos e colocou o mesmo três cilindros 1.5 já usado nas versões SE e Freestyle desde 2017, com 40 cavalos a menos. Combinado a um câmbio automático de 6 marchas, o 1.5 de 130/137 cavalos obtém um consumo menor, principalmente no uso urbano. Com o 2.0 e câmbio automático, a versão tinha consumos de 6,1/8,3 km/l nos ciclos cidade/estrada com etanol e 8,8/12,0 km/l com gasolina, com conceitos “E” na categoria e “C” no geral na classificação do Inmetro. Com o tricilíndrico 1.5 e câmbio automático, consegue 7,1/8,6 km/l nos ciclos cidade/estrada com etanol e 10,3/12,6 com gasolina, que lhe rendem conceitos “C” na categoria e “C” no geral.

Por dentro, a versão Titanium manteve o “upgrade” apresentado junto com o “facelift” de 2017. Traz uma boa lista de equipamentos de série: sete airbags, ar-condicionado automático digital, monitor de pontos cegos, alerta de tráfego cruzado, controles eletrônicos de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, sistema multimídia com tela de 8”, sistema de som Sony com nove alto-falantes, acendimento automático dos faróis, teto solar e bancos de couro.

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Oferecido por R$ 103.890, a versão Titanium do Ford EcoSport encara, na maioria dos casos, as configurações intermediárias dos utilitários esportivos compactos rivais. A Ford não dá detalhes sobre o “mix” de vendas de seus modelos, portanto, não é possível saber como a nova versão impactou as vendas da linha. Dentre as informações disponíveis, sabe-se que, no primeiro trimestre deste ano, a linha EcoSport vendeu 7.617 unidades, uma média de 2.539 emplacamentos mensais. Foi superado pelos concorrentes Jeep Renegade, Hyundai Creta, Honda HR-V e Nissan Kicks, todavia deixou para traz Renault Captur e Duster e Chevrolet Tracker. Em abril, a briga no segmento fica ainda mais complicada com a chegada de um novo concorrente: o T-Cross, embalado pelo fato de ser novidade e pela rede de mais de quinhentas concessionárias Volkswagen espalhadas pelo Brasil.

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Experiência a bordo

Em boa forma

O espaço interno do EcoSport Titanium está dentro do padrão do segmento de SUVs compactos, e os bancos recebem bem seus ocupantes. São em um tecido sintético que imita couro, bastante agradável ao toque. A versão manteve as evoluções apresentadas em 2017, quando o EcoSport recebeu uma nova plataforma eletrônica que se refletiu em aperfeiçoamentos na segurança, no entretenimento e no conforto a bordo. A central multimídia é da mais nova geração do sistema Sync e é bastante eficiente e de operação intuitiva. Com tela capacitiva colorida de 8 polegadas, mais parece um tablet pendurado no alto do console central. O sistema incorpora GPS, Android Auto e Apple Car Play, conexão à internet via wi-fi e comandos por voz.

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A chave presencial permite acionar a ignição pressionando um botão que fica à esquerda da tela do multimídia. Equipamentos como controle de estabilidade com sistema anticapotamento, monitoramento de pressão dos pneus e grade frontal com controle ativo continuam presentes, assim como faróis de xênon com luz diurna de leds e acendimento automático, teto solar, câmara de ré, sensor de chuva, alerta de ponto cego e detector de tráfego perpendicular – um aviso visual de tráfego lateral é acionado no retrovisor externo correspondente ao lado em que o veículo se aproxima. O computador de bordo com tela de 4,2’’ colorida no painel permite boa visualização das informações e som premium da Sony, com nove alto-falantes, é de ótimo padrão.

Impressões ao dirigir

Teorias e práticas

O fato de a Ford ter tirado da versão Titanium o motor 2.0 com injeção direta e 170/176 cavalos com gasolina/etanol e colocado um três cilindros 1.5 com 40 cavalos a menos – 130/137 cavalos, a princípio, faria supor que o modelo 2020 é menos esportivo. Na prática, ele não decepciona, apesar dos números de potência. O bom torque máximo de 15,6 kgfm aparecer somente nos 4.500 giros, contudo a impressão é de que ele já está praticamente todo disponível em rotações bem mais baixas. Em uso urbano, o SUV é esperto nas arrancadas e bem ágil no manejo. Na estrada, embora não ostente grande exuberância nem excesso de força, também não compromete. Permite retomadas e ultrapassagens decentes e resolutas, sem que o motor dê a impressão de estar se “esgoelando”. Colocar a transmissão no modo “Sport” ajuda a manter os giros um pouco mais altos nas trocas de marchas, o que sempre melhora o desempenho e aumenta a sensação de esportividade. O volante traz aletas na parte de trás para trocas manuais de marcha, para quem gosta de interagir mais com o motor.

Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix

Poderia parecer que a retirada do estepe não teria grande influência no comportamento dinâmico do EcoSport Titanium. O fato é que, com as modificações, a versão ficou 13 quilos mais leve do que era na linha 2019. Como, além da supressão do estepe, o motor ficou menor e mais leve, a pequena redução de peso ficou distribuída no modelo, o que não alteraria o equilíbrio dinâmico. De qualquer forma, a Ford avisa que foram feitas mudanças na calibração da direção, freios e suspensão. Na prática, a percepção é que o carro ficou mais equilibrado e confortável, sem ser “molenga” demais. Faz curvas sem adernar excessivamente e transmite sensação de consistência no conjunto suspensivo. Quanto ao isolamento acústico, a Ford garante que foi reforçado na linha 2020, mas esse aprimoramento não se mostra perceptível. Os sons externos, principalmente os vindos do motor, continuam a adentrar a cabine sem cerimônias, principalmente quando o motorista pressiona forte o pedal da direta.

Ficha técnica

Ford EcoSport Titanium

Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix

Motor: Flex, 1497 cm³, três cilindros em linha, 12 válvulas, duplo comando variável.
Potência: 130 cavalos a 6.500 rpm com gasolina e 137 a 6.500 rpm com etanol
Torque: 15,6 kgfm a 4.500 rpm com gasolina e 16,1 kgfm a 4.500 rpm com etanol
Câmbio: automático sequencial, 6 marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson na dianteira e eixo de torção na traseira.
Freios: dianteiro com disco ventilado e traseiros com tambor
Tração: dianteira
Dimensões: 4,10 metros de comprimento, 1,76 metro de largura, 1,69 metro de altura. Entre-eixos de 2,52 metros.
Pneus: 205/50 R17
Porta-malas: 356 litros
Tanque: 52 litros
Peso: 1.310 kg

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