Depois de ser apresentada ao público brasileiro no Salão Duas Rodas em novembro de 2017, em São Paulo, a Kawazaki Z900 RS desembarcou por aqui em julho do ano passado. Essa moto pode ser chamada de clássica, pois tem como base um dos modelos que marcaram época no início dos anos 70, a Kawasaki Z1. E como a onda da releitura desses ícones de outrora está na moda, a Kawasaki resolveu entrar na festa e trazer aos tempos modernos sua clássica do passado, mas com boas pitadas de esportividade e um enorme pacote de tecnologia.
Claro, a maioria dos elementos clássicos estão lá: farol redondo, dois instrumentos circulares no painel, o tanque grande e pintado com requinte em formato de gota e os dois retrovisores redondos também. Mas o banco em dois níveis com a rabeta curtinha, a lanterna embutida, as rodas de liga leve e a suspensão traseira com um único amortecedor incluem na moto muitos elementos das naked modernas e tiram da Z900 RS sua conexão com a Z1 histórica.
Uma traseira com o para-lama arredondado acompanhando a roda, rodas raiadas e dois amortecedores na suspensão reforçariam a sua identidade clássica. Entretanto, a Z900 RS acabou tornando-se uma moto esporte clássica ou clássica esportiva para quem preferir. Essa mistura não significa que a moto ficou feia, até porque a Kawasaki tomou o cuidado de manter inclusive a mesma cor da Z1 de 1972 (Candytone Brown), sem qualquer grafismo especial, um requinte para poucas motos.
A despeito do motor ter ali alguns elementos característicos de propulsores arrefecidos a ar, coma as aletas para dissipação de calor no cabeçote, a Z900 RS traz um “powertrain” moderno, herdado da extinta naked Z900 e que foi amansado para entregar um desempenho também clássico, com mais torque em baixas rotações e menos nervoso nas rotações mais altas. Ele tem quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote (DOHC) com 16 válvulas e 948 cm³ que gera 9,7 kgfm de torque a 6.500 rpm e 109 cavalos de potência a 8500 rpm. O preço sugerido é de R$ 49.483.
Impressões ao pilotar
Beleza e funcionalidade
Em uma cidade como São Paulo, onde a velocidade máxima permitida na maioria das vias é de 50 km/h, a Z900 RS surpreende e roda com aceleração mínima mesmo em sexta marcha, com a rotação do motor não passando de 2 mil rpm, o que na maioria das motos desse porte não seria possível. E nessa condição, quando necessário, basta uma virada no acelerador para a moto dar um salto e chegar rapidamente em velocidades maiores.
Essa característica do motor mais elástico se deve ao trabalho feito pela engenharia da Kawasaki no cabeçote e também na caixa de marchas, com as quatro primeiras bem curtas e a quinta e a sexta mais alongadas, justamente para não elevar as rotações em viagens a velocidades mais altas. O câmbio é assistido pela embreagem deslizante, que ajuda nas reduções em altos giros do motor, evitando o travamento da roda traseira e reduzindo o esforço aplicado no manete.
A combinação do motor com menos compressão com o câmbio mais curto resulta em maior economia de combustível. Permitiu rodar 576 quilômetros com 25,8 litros de gasolina, média de 22,3 km/l, o que é uma excelente marca. Falar do grande prazer que é pilotar essa moto é, para usar um chavão, chover no molhado. Como uma clássica, ela combina a posição de guidão, pedaleiras e banco do piloto de forma perfeita, propiciando a posição mais natural para a maioria dos pilotos de estaturas e portes diferentes.
Ao contrário de outras clássicas presentes no mercado, a Z900 RS abusa dos controles e da tecnologia eletrônicos, incorporando funcionalidades encontradas apenas nas modernas naked e esportivas. Mas nem só de tecnologia eletrônica vive essa moto. Sua base é um chassi em treliça muito leve, mas que garante rigidez e mantém as medidas da moto bem compactas, com trail reduzido e concentração das massa mais à frente e abaixo na moto, resultando em agilidade e rapidez nas manobras. As suspensões definitivamente são de moto esportiva, com garfo invertido na dianteira com tubos de 41 milímetros de diâmetro com 10 ajustes de compressão e 12 de retorno, e amortecedor único com link na traseira e ajuste de pré-carga de mola. O detalhe da suspensão traseira é que o link está acima do braço oscilante, contribuindo para a centralização da massa.
Durante a avaliação, foi possível experimentar os dois modos de pilotagem que a Z900 RS tem. Na verdade, são três, pois é possível desligar tudo e usar a moto no modo puro, sem controle de tração ou qualquer restrição de aceleração. No modo 1, prioridade para aceleração e performance dentro de limites mínimos de segurança. No modo 2, preferência para a segurança e indicado para pisos escorregadios e situações de risco. A diferença básica é o nível de intervenção que o sistema faz na condução, permitindo mais ou menos ousadia por parte do piloto. Um detalhe discreto, porém importante: a moto já vem preparada para receber as malas laterais para viagens.
O painel é bonito e mantém a tradição com dois instrumentos redondos – velocímetro e conta-giros analógicos – e uma tela LCD multifuncional com display negativo (letras brancas em fundo preto). O display traz o indicador de marcha engatada, hodômetro total, dois parciais e as funções do computador de bordo, com o medidor de combustível, autonomia restante e consumo de combustível instantâneo e médio, além da indicação da temperatura do líquido de arrefecimento, temperatura externa, relógio e indicador de pilotagem econômica.