Desde o lançamento, ficou claro que a G 310 R teria o objetivo de ampliar e rejuvenescer a base de clientes da BMW. Com sucessivos recordes de vendas da marca no mundo, estava cada vez mais difícil crescer apenas com motos premium – acima de 500 cc – e era necessário abrir espaço em segmentos inferiores do crescente mercado mundial de motos. No Brasil, a G 310 R chegou apenas em agosto de 2017, porque antes a BMW precisava inaugurar sua própria unidade montadora em Manaus (AM), o que aconteceu em outubro de 2016 com a montagem da F 700 GS. Apesar dos executivos da BMW à época do lançamento não terem feito qualquer previsão de vendas da nova moto pequena, conversas informais com pessoas ligadas diretamente à fábrica indicavam que, nessa classe de motos, um volume mínimo de 100 unidades por mês seria razoável. Mas, de agosto de 2017 a junho de 2018, foram vendidas 730 unidades da BMW G 310 R. Uma média mensal de 66 motos, segundo dados de emplacamento da Fenabrave.
A explicação talvez seja o fato de que a BMW G 310 R é uma moto um tanto incompreendida no Brasil. Entrega muito mais que suas supostas concorrentes de 250 cc – Yamaha Fazer 250 e Honda CB Twister 250. Entretanto, não supera as motos do degrau superior, KTM 390 Duke, Yamaha MT03 e Kawasaki Z300. Esse posicionamento intermediário deveria implicar em um preço também intermediário, o que poderia estimular mais vendas. No entanto, não é o que acontece. Oferecida por R$ 22.150, a BMW G 310 R, com seu motor monocilíndrico de 313 cc e 34 cavalos, está na mesma faixa de preços de motos mais potentes, como a Kawasaki Z300 (dois cilindros, 296 cc, 39 cavalos e R$ 20.591), a KTM 390 Duke (um cilindro, 375 cc, 44 cavalos e R$ 22.790) e a Yamaha MT03 (dois cilindros, 320 cc, 42 cavalos e R$ 21.691).
É inegável que a moto da BMW tem um desenho moderno e traz detalhes que chamam muito a atenção. Os tubos dourados da suspensão dianteira, por exemplo, dão um charme e um caráter esportivo à frente da moto. O chassi tubular treliçado está aparente e o motor pendurado nele faz parte da estrutura. Há ainda um sub-chassi que sustenta a traseira da moto e uma peça única em alumínio que cobre o vértice na base do chassi e traz o suporte da pedaleira do garupa. Destoa do conjunto o enorme escapamento com o protetor em alumínio polido. Destaca-se o painel de instrumentos digital com uma única peça e um grande display de LCD (cristal líquido) que mostra velocidade, conta-giros (em barras), indicador de marcha engatada, nível do combustível no tanque, hodômetro total e parcial (trip 1), relógio e computador de bordo, com consumo instantâneo e médio.
Impressões ao pilotar
Todo dia é dia
São Paulo/SP – A BMW G 310 R avaliada rodou um total de 1.055 quilômetros nos ambientes aos quais está destinada: cidade, estradas simples, grandes rodovias, trânsito urbano travado, chuva, durante o dia e à noite. E em todas as condições, a moto mostrou desempenho equilibrado e economia. A média geral de consumo ficou em 26,8 km/l – foram 1.055 quilômetros com 39,4 litros de gasolina comum, uma boa marca para a categoria, se for levado em consideração que a moto rodou 70% em estradas e rodovias, onde a velocidade esteve sempre entre 100 km/h e 120 km/h. Um tanque maior seria bem-vindo para períodos maiores sem visitas ao posto de abastecimento, mas o atual de 11 litros de capacidade permite autonomia segura de 250 quilômetros.
Suas dimensões compactas permitem oferecer agilidade para condução em baixas velocidades, não exigindo muita aceleração para empurrar a moto em qualquer marcha. O destaque fica para as retomadas de velocidade, que acontecem sem sustos, mesmo quando se espera que o motor vá exigir redução de marcha. A impressão que se tem ao andar é que se trata de uma moto com motor maior, pela força e rapidez com que responde ao comando do acelerador. A moto possibilita manter em estrada a velocidade constante de 120 km/h (GPS) sem esforço, o que indica velocidade final bem superior a isso. A fábrica informa como sendo 143 km/h.
O cilindro invertido e inclinado para trás, com a saída do escapamento atrás e a admissão na frente, dá à moto entre outras vantagens, menos peso (158,5 quilos) pelo tubo de escapamento bem menor, melhor admissão de ar para a câmara de combustão e mais equilíbrio dinâmico, já que essa posição transfere para trás e para baixo o centro de gravidade. Essas características e o bom desempenho comprovam que a combinação de potência e torque está muito bem resolvida, com adequada distribuição da força sempre disponível já a partir das baixas rotações. Apesar do motor de um cilindro, o funcionamento é suave, e quase não se percebe vibração nem nas pedaleiras nem no guidão, que está montado sobre coxins de borracha. Suas medidas compactas explicam o irrepreensível comportamento da moto em qualquer situação, seja para desviar de um obstáculo em velocidade mais alta ou para manobrar em pequenos espaços no meio do trânsito.
Para uma naked, a G 310 R está mais urbana do que esportiva, oferecendo razoável nível de conforto. Assento, pedaleiras e guidão são bem ajustados e que permitem uma boa posição de pilotagem para a maioria dos pilotos, inclusive os de maior estatura, o que viabiliza a condução por períodos mais longos com total controle e segurança. Colaboram muito para isso o conjunto de suspensões, com um amortecedor na traseira que tem ajuste na pré-carga da mola e garfo invertido na dianteira, com comportamento irrepreensível em todas as condições a que foi submetido.
A julgar pela imagem da marca, qualidade da moto e seu desempenho, fica claro que, para cativar um novo cliente, é imprescindível fazer um bom test-drive. A BMW G 310 R tem virtudes para atrair motociclistas que querem uma moto para todo dia. E que encara, com tranquilidade e economia, passeios mais longos.